Capítulo 9

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“Fácil, eu obrigo-te.” O tom de voz do rapaz que me estava a salvar a vida era ameaçador e eu nunca imaginei alguma vez ter a oportunidade de o ouvir assim.

O outro deu uma gargalhada sonora e eu finalmente consegui erguer-me e tentei alcançá-los mas estava demasiado fraca para o fazer, além de que as minhas pernas tremiam demasiado e eu mal me conseguia mexer. Estava a sentir-me uma inútil de novo e isso estava a pôr-me doida, eu detestava sentir-me inútil ou miserável, detestava que me defendessem pois eu sabia perfeitamente defender-me sozinha.

O bêbado tentou aproximar-se de Liam apontando-lhe a garrafa partida mas esta depressa foi projectada com o golpe do cantor. Quando eu dei conta o meu agressor estava a ser esmurrado e sem demorar muito perdeu os sentidos, caindo inerte no chão.

Onde é que ele aprendeu a lutar assim? Questionei-me algumas vezes ao aperceber-me da forma ágil como se movia. Ele não deu grandes hipóteses ao seu oponente, na verdade.

Encostei-me à parede de novo deixando-me escorregar pela mesma mas antes que pudesse alcançar o chão uns braços agarraram o meu corpo e eu fui encostada a algo mais quente e confortável que o tijolo.

“Estás bem?” Senti o seu peito tremer quando ele falou e depressa me senti aliviada por ser ele quem me estava a agarrar e a impedir de cair. Os faróis do carro continuavam a iluminar toda aquela cena. Ele elevou o meu rosto analisando-o e eu senti-me uma coitada nos seus braços.

“Eu sei cuidar de mim” Resmunguei afastando-me dele mas depressa me desequilibrei e ele riu-se agarrando-me de novo. Olhei-o confusa. “tu estás a seguir-me?” Acrescentei quase que como ofendida mas ele não respondeu limitando-se a erguer-nos. “Responde-me, és algum perseguidor?”

“Eu vou levar isso como um obrigada” Respondeu com o seu típico sorriso meigo e eu tive vontade de o estrangular. Mas quem pensa ele que é? Tudo bem ele salvou-me daqueles idiotas, mas não tem o direito de me responder assim nem de ter pena de mim.

Quando dei conta o seu casaco de cabedal pousava nos meus ombros e eu tentei protestar contra isso, mas ele limitou-se a ignorar-me. O seu braço envolveu a minha cintura de forma a segurar-me para não cair, já que eu não tinha forças nas pernas devido ao choque.  

 A chuva continuava a cair e depressa a sua T-shirt branca começou a ficar molhada mostrando uma boa parte do seu corpo definido. E que corpo…

“Obrigada, mas eu…” Tentei soltar-me de novo mas ele agarrou-me com força impedindo-me de o fazer. Olhei-o ameaçadoramente e ele apenas riu de mim.

“Lamento mas desta vez não vais a lado nenhum” Replicou enquanto me encaminhava para o carro. “Estás fraca, ensopada e vais constipar-te se não tomares um bom banho e trocares essas roupas” Abriu a porta do lado do passageiro e quase que me empurrou lá para dentro. Mas que teimoso!

Acabei por ceder e sentei-me no banco deixando-me enterrar no mesmo. O seu casaco estava a atrapalhar-me pois eu já tinha a capa de pescador, pelo que coloquei-o no banco do condutor enquanto ele dava a volta ao carro.

“És mesmo teimosa” ele comentou ao entrar e dar conta da peça de roupa no seu assento. Encolhi os ombros em resposta e ele vestiu-o ligando o motor pouco depois.

Talvez ele até tivesse razão, seria bom passar algum tempo numa casa até encontrar um sítio para ficar. Sempre fui muito orgulhosa, sempre gostei de me desenrascar sozinha e o facto de depender de alguém deixa-me bastante frustrada. Embora já tenha acontecido algo parecido, eu tinha sempre uma forma de compensar as pessoas que me ajudavam e nunca me sentia em dívida para com ninguém, mas eu agora não tinha nada para lhe oferecer, nada para compensar o incomodo que lhe vou dar.

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora