Capítulo 7

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Caminhava pelos corredores com as flores que acabara de recolher no jardim do Palácio de Belém. Havia um silêncio intenso que me perturbava, detestava silêncio, embora mais tarde viesse a aprender a apreciá-lo, naquela altura achava-o sufocante. Sentia que não poderia fazer nenhum movimento ou alguém apontar-me-ia uma arma à cabeça gritando para que não me mexesse.

O silêncio devia-se às reuniões que decorriam nas pequenas salas da nossa residência. Por isso essa manhã recordava-me de ver inúmeros homens friamente fardados com pastas nas mãos e olhares carregados do seu gelo. Detestava tê-los ali porque faziam-me sentir que aquela não era a minha casa e por vezes só me apetecia fugir deles, mas todos os meus ensinamentos me diziam que nunca deveria fugir quando tivesse medo, mas sim enfrentar.

Preparava-me para entrar no escritório de César e onde provavelmente o abutre do seu secretário também estaria. Chamava-se Cristóvão e chamo-lhe abutre por duas razões, a primeira era o seu nariz enorme que se assemelhava às aves e a segunda porque ele estava sempre atrás do meu irmão à espera de qualquer sobra que ele deixasse. Desde criança que via aquele homem como uma ameaça para a nossa família, desde que me lembro ele só fica feliz com a desgraça dos outros, só ficava satisfeito quando alguém caía aos seus pés ou na miséria.

Um grito furioso captou a minha atenção e deteve-me à porta da divisão na qual estava prestes a entrar. Estava entreaberta o que me permitiu ver um pouco para o seu interior. Pude reparar que os dois homens não estavam sozinhos. Um velho, de cabelos bastante brancos e roupas esfarrapadas estava de costas para mim. Era agarrado pelos braços por dois dos guardas do meu irmão.

“Onde é que ela foi?” César inquiriu num tom áspero, enquanto deambulava de um lado para o outro. O homem gaguejou algo que não entendi e a paciência do meu irmão pareceu esgotar-se, fazendo-o soquear-lhe o estômago. O velho grunhiu de dor tentando contorcer-se, mas foi impedido pelos seguranças. A figura idosa cuspiu para o chão o que percebi ser a sua saliva misturada com sangue.

A minha cabeça começou a andar à roda, eu não conseguia entender nada do que estava a acontecer. Porque é que ele estaria a tratar assim aquele pobre homem? Não acredito que alguém como ele tenha feito algo assim tão grave para que César o tratasse daquela maneira. Ninguém merece ser tratado assim sem razão plausível.

“Ele não vai falar, senhor” Cristóvão falou pela primeira vez e o meu irmão afastou-se deles, contornando a secretária e olhando a janela gigante que dava vista para o Tejo. Suspirou passando os dedos pela testa suada.

“Você nunca vai conseguir” O desconhecido proferiu com azedume fazendo a minha pele arrepiar-se. Tinha um tom de voz tão carregado e frio. O general voltou-se de novo na sua direcção esperando que ele continuasse. “Por muito que tente esconder-lhe o monstro que é, nunca vai conseguir. Ela não como o senhor, ela vai descobrir as monstruosidades que faz além destas malditas muralhas e vai odiá-lo para o resto da sua vida!” Gritou-lhe levando outro soco em resposta. Desta vez por parte de Cristóvão.

As minhas mãos cobriram a minha boca impedindo-me de gritar para que parassem com aquilo. O meu mundo estava a ficar destroçado e as perguntas estavam a matar-me. Eu não conseguia entender nada daquilo, como é que ele é capaz de tratar assim alguém?

“Como é que te atreves?” A voz áspera do ministro de César atirou indignada. “ Falar assim com-“

“Cala-te” o meu irmão interrompeu-o colocando-se à frente do desconhecido de novo. “Ela nunca vai saber” Sibilou quase num sussurro medonho. “Agora diz-me onde é que a Emília está! Para onde é que ela fugiu?” Berrou. O seu rosto começava a ficar rubro da fúria que lhe escorria nas veias.

O nome da mulher que me criara fez-me dar um pulo e todo o meu interior se contorceu nervoso. Tudo aquilo estava a pôr-me ainda mais confusa, em vez de me dar respostas. Porque é que o César estaria atrás dela? Ele não disse que ela fora embora de livre vontade? E porquê torturar alguém para saber isso?

“Num lugar onde tu e os teus campagas não lhe possam fazer mal”

“Ela foi para onde?” Cristóvão gritou recebendo um olhar ameaçador por parte do seu superior. E cobarde como é, limitou-se a retrair e assentir.

Terminámos de arrumas a cozinha quando lavei as mãos e me preparei para sair dali. Tinha de o fazer e o mais rápido possível. As últimas horas têm sido maravilhosas e tenho de admitir que até agora a companhia de Liam fazia-me sentir bem, mas eu não podia confiar nele, tal como ele não podia confiar em mim, por isso tinha de partir e continuar o meu caminho, seja lá ele qual for.

“Bom, eu vou buscar as minhas coisas e vou andando.” Corri para o andar superior antes que ele pudesse dizer alguma coisa que me impedisse. Fui à casa de banho verificar se as ligaduras estavam bem e ao constatar que sim, retornei ao quarto e peguei no sobretudo. Uma última olhadela no quarto para verificar se estava tudo em ordem e desci de novo.

Ele não estava na sala e agradeci interiormente por isso. Andei até à entrada para sair de casa quando ouvi os seus passos atrás de mim. Bolas!

“Ao menos tens para onde ir?” Questionou preocupado enquanto se aproximava.

Voltei-me para o encarar mas arrependi-me logo a seguir. Fixá-lo nos olhos era das coisas mais bonitas e difíceis que já fiz na minha vida. Seria mais fácil atirar-me para o arame farpado do que ter de olhar naqueles olhos e mentir ou trata-lo mal. E acreditem que eu tenho experiência no assunto.

“Eu hei de me arranjar.” Recuei alguns passos para trás fixando o soalho sob os meus pés. Ele tentou agarrar o meu braço mas eu fui mais rápida e voltei-lhe as costas abrindo a porta.

“Porque é que não ficas aqui?” Gritou fazendo-me olhá-lo de novo, mas desta vez espantada com a sua questão. Mas ele tem miolos? Ele não me conhece e convida-me para ficar aqui?

“Obrigada mas eu sei tomar conta de mim”

“Pelo menos até arranjares um sítio para ficares”

“Ouve, eu não te conheço nem tu a mim. Não sei porque é que queres tão desesperadamente que eu fique aqui, mas acredita que não me vais querer aqui por muito tempo.” Atirei com alguma frieza, com o intuito de o fazer desistir de uma vez por todas. Tenho de admitir que senti algo no coração quando os seus olhos entristeceram e dei o meu objectivo por concluído. “Adeus Liam.” E saí da mansão fechando a porta atrás de mim, deixando-o para trás de mim. 

(Queria agradecer a todas pelas leituras e pelos votos, isto é muito importante para mim!

Já agora, já adicionei a descrição na fic do Harry, espero que gostem (para quem for ler claro), embora a fic ainda não esteja começada oficialmente ahah c:

Este capitulo é pra a TeamliampaynePt porque ela pediu ^^

Se mais alguém quiser um capitulo e so dizer !

Não se esqueçam de comentar, porque gosto sempre de ler as vossas opiniões :D

Xoxo)

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora