Capítulo 34

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“Deixa de ser mentiroso!” Gritei-lhe erguendo a cabeça. Ele parecia não estar à espera da minha reação pelo que recuou um pouco. A sua boca abriu-se em espanto pela minha súbita demonstração de raiva. Ele estava habituado que fosse uma pessoa pacífica pelo que as minhas breves atitudes enraivecidas e repletas de um ódio compreensível o deveriam deixar confuso. “Ela morreu Pedro e tu estás vivo! Eles tentaram matar-me e tu estás aqui sem um arranhão!” Continuei a gritar-lhe remexendo as mãos e tendo o tilintar das algemas como som de fundo.

O rapaz demorou algum tempo a recompor-se, mas acabou por fazê-lo clareando a voz. Sentia os nervos cobrirem-me a pele e a fúria encrustar-se no meu peito fazendo o coração bombear o sangue que me latejava na cabeça. A minha visão era um misto de manchas dispersas e que me impediam de ver direito, a consciência era uma mera linha de pensamento incapaz de processas qualquer tipo de informação que mexesse com os meus sentimentos. E no entanto, ali estava eu a mexer neles como se fossem meros brinquedos.

“Ouve-me.” Pediu cautelosamente e tentando agarrar as minhas mãos, mas eu rejeitei-as com um safanão. Estar perto dele fazia-me ter arrepios e só de pensar na pessoa horrenda que ele era na verdade fazia-me querer destruí-lo naquele segundo. Atirar as correntes ao seu pescoço e apertá-lo até não haver mais sinal de ar nos seus pulmões. Mas eu não podia que ele tivesse esse prazer de me ver destruir-me a mim própria (mais do que já estou) com a culpa da sua morte. Não podia dar-me ao luxo disso mesmo que soubesse qual seria o meu destino agora. “Eu não era o informador Maria, tens de acreditar em mim.” Voltou a tentar agarrar as minhas mãos e desta vez conseguiu. A sua força superior à minha reteve-as de novo sobre as minhas coxas com as suas por cima das minhas impedindo-me de mexer. Fui obrigada a olhar nos seus olhos e o sabor amargo desceu-me pela garganta quando o fiz. Uma estranha parte de mim desejava acreditar nele mas outra só me berrava para que não o ouvisse. Em jogo estavam tudo aquilo que alguma vez senti por ele e dei por mim a pensar no que Liam pensaria sobre isto, voltar a sentir o coração palpitar e apreciar este rosto em frente a mim é como se fosse uma traição ao homem que agora amo.

Eu não podia negar que o amava, não só pela gratidão, mas por tudo aquilo que ele me faz sentir e a maneira feliz como me sinto só pela sua presença, só por saber que ele vai ficar bem. No entanto também não podia negar que o ódio era iminente em relação a Pedro quando sei perfeitamente que vou baixar a guarda para o ouvir e ainda sinto o calor pequeno no estômago quando ele me olha no fundo dos meus olhos.

“Eles não me mataram porque eu disse-lhes quem eu era.” Revelou pausadamente e eu escutei-o com mais atenção do que pretendia. “Falei-lhes do meu pai e disse-lhes quem tu eras. Pensávamos que estavas morta Maria, chorei dias e dias a fio a pensar que te tinham levado de mim.” Os olhos claros continuaram fixos nos meus enquanto as mãos resvalaram para os meus ombros e o seu rosto aproximou-se do meu perigosamente. “Quando soubemos que estavas viva eu nem queria acreditar, como é que sobreviveste ao disparo a tudo?” A minha boca estava fechada e sentia a dor começar a alastrar-se pela minha cabeça com a forma que estava a fazer com os dentes para os manter cerrados. Fechei as mãos em punhos para manter a posição hirta e fria, o mais que conseguia, não me podia mostrar afetada pelas suas carinhosas e dramáticas palavras. “Depois de falar com aqueles militares eles concordaram que o meu julgamento seria feito pelo teu irmão e, com a influência do meu pai, acabaram por me perdoar pois o César já estava devastado o suficiente com a tua morte e não queria causar mais danos na área do Palácio de Belém.” Explicou soltando os meus ombros e voltando a agarrar as minhas mãos. As suas mudanças contantes de posição estavam a deixar-me desconfortável e mais confusa do que estava. Sabia que era só um mecanismo seu para quando estava nervoso ou empolgado mas eu não podia sujeitar-me a especulação nenhuma nesta altura. “Mas agora estás aqui e podemos voltar os dois, vamos para casa Maria, vamos voltar a vida que ti-“

O estalar que ecoou na sala fê-lo calar-se e o ardor na minha mão despertou-me para a realidade. O seu rosto voltou-se para o lado em resposta à minha agressão e imediatamente a bochecha tornou-se avermelhada.

“Como te atreves a chamar àquilo casa? Como te atreves a pedir-me para voltar para aquele Inferno depois de tudo o que passámos? Tu és um cobarde!” Impulsionei de novo as minhas mãos, desta vez contra os seus ombros obrigando-o a desequilibrar-se para trás e ganhando o impulso suficiente para me levantar.

Dei alguns passos de forma a voltar-lhe as costas e olhei para as minhas palmas avermelhadas e marcadas pelas unhas que se friccionaram na pele quando fechei os punhos.

“Mas do que é que tu estás a falar? Podemos voltar a ter a vida que tínhamos antes, podemos voltar a ter uma vida normal junto daqueles que gostamos” Voltou a insistir e ouvi-o erguer-se atrás de mim. Mesmo sem o ver era como se conseguisse visualizar a sua expressão de espanto e incredulidade.

“como é que podemos voltar a ter a vida que tínhamos antes?” Finalmente o encarei e confirmei a minha suspeita anterior. Mas o seu espanto tornou-se em confusão em menos de um segundo. “Depois de tudo o que vi, de tudo o que passei achas que eu sou capaz de voltar para aquele inferno e viver debaixo do mesmo teto que aqueles monstros?”

“Estás a falar do teu irmão.”

“É o pior deles todos!” Estávamos a gritar um com o outro sem nos apercebermos disso. Eu sabia que havia câmaras e microfones mas eu não podia estar menos preocupada com a espionagem inglesa e os seus tradutores, pois toda a conversa era feita em português.

“Eu não te reconheço.” Ambos dissemos em uníssono. O silêncio instalou-se entre os dois e ficámos a olhar-nos sem saber como reagir ou o que seria mais adequado pensar no momento. Aquela figura tornara-se como que num holograma para mim e as suas ações eram coordenadas por alguém superior, uma pequena marioneta entre os tubarões. Não conseguia compreender como se poderia ter tornado nisto depois de todas as coisas que os dois vimos, depois daquilo que passámos.

“O vosso momento acabou, o avião parte em 20 minutos, por favor vamos dirigir-nos para a zona de embarque.” O mesmo homem que me tem acompanhado nos últimos dois dias entrou de rompante na sala e aproximou-se de nós. “Têm muito tempo para conversar durante o vosso voo” O sorriso presunçoso tomou conta dos seus lábios como se ele estivesse satisfeito pela nossa partida. E estava, na verdade ele já se mostrara um adepto da minha morte e mesmo assim eu conseguia achá-lo mais ridículo do que intimidante.Os seguranças fizeram o círculo à nossa volta e eu senti algo gélido na minha mão. Quando olhei a mão de Pedro encontrava-se sobre a minha pousando algo prateado e brilhante. De imediato reconheci o objeto e o meu coração palpitou ao ver “Wolverthampton” escrito na parte de trás.

[Eu sei que os capitulos estao curtos e desculpem se nao estao la muito bons, mas estou a corta-los para serem mais e a fic durar mais ahah é a unica maneira que tenho de o fazer, não há muita mais história a fazer isto está mesmo no final. 
Obrigada às meninas que comentaram e estou um pouco triste com os números do último capitulo. Anyway voces sao todas umas queridas e espero que estejam a gostar à mesma (:

votem e comentem pls <3
xx)

[Happy Valentine's Day (apesar de ja ser oficialmente dia 15 mas pronto)]

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora