“O meu nome verdadeiro é Maria Sampaio. Nasci em Portugal e sou filha do General Óscar Sampaio, irmã do General César Sampaio. Para entenderes a minha história vais ter de compreender o que realmente aconteceu no meu país.” Disseste com as suas cálidas mãos trémulas e indecisas. Ainda tinhas dúvidas sobre me contar a verdade que guardaste por detrás dos teus sentimentos e do teu orgulho. Queria dizer-te o quanto te amava e pedir-te que confiasses em mim, dizer-te que te ouviria calmamente e que no fim tudo voltaria a ser como antes. Mas eu sei que não poderia prometer algo que não sabia se iria cumprir. Tu prometeste e não cumpriste, lembras-te?
Engoliste em seco e o teu olhar cor de mel pousou e mim suavemente, como que pedindo para continuar. Anuí quase por instinto.
[Memorie’s Chapter]
(Os acontecimentos vão ser narrados porque compõem uma fala da Melanie e essa é a razão de existirem tantos avanços no tempo, de forma a compormeramente a história da personagem. Além de deter uma linguagem simples e corrente. Obrigada.)
“Conta-me.” As palavras saíram da minha boca sem eu dar conta. Estava cheia de dúvidas na minha cabeça, mas algo gritava no meu consciente dizendo para eu prosseguir com aquilo. Eu tenho de saber a verdade.
“O início do século XXI foi marcado pela depressão económica pelo mundo inteiro, mas em Portugal as coisas pioraram a nível político e social. As pessoas passavam fome e o Estado não teve outra opção senão cortar nas forças militares, algo que não lhes agradou muito. Por isso o teu pai e alguns dos seus companheiros criaram o movimento revolucionário no dia 09 de Outubro de 2011. O governo foi expulso e o parlamento dissolvido. O regime estava a mudar e, com receio de que o caos se instalasse ou que o governo se voltasse a tornar no que era antes, o teu pai decidiu tomar o comando até a situação se estabilizar de novo. Mas o teu irmão, na flor da idade e de ambição aguçada não queria que o pai devolvesse o poder para as mãos de um povo imaturo e ignorante que levaria o país de novo à miséria.” Marcelo continuou a explicar-me, encostando-se ao cascalho da árvore com as mãos nos bolsos informais das suas calças. Parecia tão mais novo deste jeito. “Ele sempre defendeu que a vossa família deveria ser como os vossos antepassados e permanecer no poder, governando o país. Depois o teu pai adoeceu e acabou por falecer e o cargo foi dado ao teu irmão, como tu sabes.”
“Para que ele continuasse o trabalho do meu pai.” Confirmei já sabendo a história que aprendera logo nos meus primeiros dias de escola. Era como que uma glorificação e todos os alunos tinham de saber o bem que o meu irmão fazia para este país.
“Mas o teu irmão nunca saiu do poder, não é verdade?” Questionou com os olhos vidrados nos meus. A sua questão fez a minha mente rebolar pela actualidade do momento e então percebi que, talvez todas as coisas que me haviam dito até então, não fossem verdade. “Mas há mais! Tu tens outro irmão.” Marcelo revelou enquanto eu sentia a respiração fugir dos meus pulmões. “Um irmão que César fez questão de afastar quando conseguiu tornar-se chefe de Estado.” Involuntariamente, dei um passo atrás sentindo as pernas fraquejar. O homem seguiu-me. “E, achas mesmo que o teu pai morreu por uma simples doença? E que o país está mesmo como te dizem estar?” As perguntas começaram a sair da sua boca a grande velocidade não permitindo ao meu cérebro que as processasse todas. Era muita questão junta que se acumulava ainda mais com aquelas que já me teriam surgido pela intimidade da minha curiosidade.
Os sons dos guardas a gritarem e os cães a ladrar latejaram na minha audição e eu olhei em redor vendo os homens devidamente fardados correrem na nossa direcção.
“Tu contaste a alguém que vinhas ter comigo?” Marcelo gritou-me enquanto agarrava os meus ombros mantendo o seu rosto a centímetros do meu. Pânico e exaspero escritos na sua expressão.
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The Runaway |l.p|
Fanfiction"O meu país não é longe, não é do Oriente, nem pobre. É bonito e as pessoas sorriam. Fazia sol e as pessoas dançavam alegres. No entanto isso acabou. As muralhas de ferro e arame ergueram-se em redor das nossas fronteiras. Fechou-se ao Mundo. Erguer...