Capítulo 38 - Last Chapter

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Parecia que o mundo deixara de existir. Parecia o fim, o meio, o início. O passado, o presente, o futuro. O aconchego, o calor, a imensidão de uma paixão perpétua e o fervor de um amor desmedido. Não sabia como descrevê-lo. Era como se todos os meus sonhos se tivesse realizado naquela fragmentação de segundo, naquele tímido instante. Os seus braços estavam de novo enlaçados ao meu redor, sentia o seu coração acelerado bater com força contra o meu rosto quando me encostei ao seu peito. Não sabia o que fazer, o que dizer ou até mesmo o que pensar, queria apenas senti-lo, tê-lo ali para mim sem consequências ou ameaças.

“Não me voltes a fazer isto.” Ele disse. Ele tinha sempre algo a dizer, ele sabia sempre o que dizer. Sabia o que me faria bem, o que eu gostaria, tudo. Acabei por deixar as sensações que evitara todo este tempo e voltei de novo a sentir o meu sangue escorrer. O gelo quebrara-se e as veias circulavam de novo palpitando a adrenalina e a fúria daquilo que nos faz humanos.

Não lhe respondi. Limitei-me a lançar os meus braços em volta da sua cintura e entrelaçar o tecido da sua camisola cinzenta nos meus dedos, repuxando-os com força. Como se tivesse medo que aquilo fosse um sonho e o levassem de mim novamente. Parecia que todas as dúvidas sobre o seu amor por mim se tivesse desvanecido no momento em que deu o primeiro passo para me abraçar e achei absurdo, por meros momentos, que ele me achasse um monstro.

“Ai, e viveram felizes para sempre.” A voz grave de Harry soou nas minhas costas mas eu não me ri, embora tivesse achado uma certa piada ao seu comentário. Estava demasiado preocupada em sentir o calor do corpo de Liam aquecer o meu gelado. Estava demasiado preocupada em apreciar a sua simples presença, o seu carinho.

“Alguma vez disse que te amo, minha pequena?” Por fim afastou-se emoldurando o meu rosto com as suas mãos. As palmas das mesmas acabaram por ficar molhadas devido ao sal que me escorria dos olhos. Sempre que chorava sentia-me idiota por mostrar os meus sentimentos, sempre senti que chorar era uma demonstração de fraqueza. Mas agora não importava mais. Nada importava além dele. Agitei a cabeça negando, incapaz de permitir que a minha voz se ouvisse. “Amo-te.” Liam acabou por repetir bem junto do meu rosto. Sentia a sua respiração embater-me na pele, mas achei-o tão reconfortante. E num impulso importuno saltei e deixei os meus braços caírem em volta do seu pescoço puxando-o para mim e embatendo os meus lábios nos seus.

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“Tens a certeza de que é isso que queres fazer?” Perguntei uma vez mais olhando as nossas mãos entrelaçadas. Christopher sentou-se à nossa frente com a pasta sobre as folhas sobre a primeira.

“Sim, tenho.” Beijou a minha testa depois do pequeno sussurro. Senti o meu interior aquecer e não conseguia parar de sorrir. Já me doíam as bochechas por causa disso, mas era impossível parar de o fazer naquele momento.

“Então o notário diz que pode ser já no próximo mês. Têm imenso tempo para tratar de tudo certo?” Um mês era muito pouco tempo, tinha de tratar de tudo e como iriam as pessoas reagir? O que seria de Liam depois da notícia na média?

“Por mim é ótimo, quanto mais cedo, melhor.” O moreno respondeu por mim e eu apertei ligeiramente a sua mão, nervosa. Não sabia mais o que dizer, o que é suposto dizermos quando o homem que mais amamos na nossa vida está disposto a arriscar tudo na sua vida só para nos salvar? Eu sabia qual o seu maior sonho era e ele podia estar a abdicar dele por mim. O que é suposto dizermos nesta situação? Obrigada? Não, isso não chega. Milhões de obrigadas nunca iriam chegar.

“Já entreguei os papéis na segurança social e na defesa dos estrangeiros, está tudo tratado, Melanie, não precisas de regressar a Portugal, pelo menos enquanto estiveres com o Liam.” O sorriso que fez as suas bochechas enrugarem-se ligeiramente, surgiu na face mais velha do advogado. Harry e Andy chocaram as suas mãos alegremente e fiquei surpreendida pela sua felicidade em relação a nós. Tanto um como o outro eram grandes amigos e estava em divida para com eles também. Dei por mim a imaginar se algum deles teria, de facto, gostado de Anita se a tivessem conhecido. Teria ela gostado deles? Acredito que sim, acho que é impossível não gostar de pessoas como estas. Tive tanta sorte, desprezo-me por alguma vez me ter arrependido de entrar nas suas vidas. Talvez um pouco egoísta, mas agora não importa.

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora