Capítulo 37

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Desistir. Era isso que estava a fazer depois de tanto tempo a pensar em mil e uma formas de reverter o inevitável. Era impossível todo um futuro bonito e repleto de felicidade com problemas comuns, que eu tanto desejava ter com ele. Tudo o que passaria por nós seriam as críticas, a pressão social e a perseguição. Não podia arrastá-lo para esse poço de angústia e desgosto. A sua imagem iria estar pior do que está agora, as pessoas iriam desprezá-lo como fazem a mim e a sua carreira estaria com um fim traçado. Não me importa o ódio das raparigas que o amam platonicamente, ou que pensem que lhe vou fazer mal, eu estou a afastar-me por mim própria.

Os meus pés pararam de tentar procurar o caminho que me levaria a Liam e seguiram atrás do louro que sorriu triunfante ao ver a minha resposta silenciosa. A sua mão continuou a agarrar o meu braço, mas mais suavemente, guiando-me até às escadas do avião.

Tive oportunidade de olhar uma vez mais atrás e o cenário não se havia alterado muito com a exceção de que agora um conjunto de seguranças corria na direção da barreira que me haviam criado anteriormente. Respirei fundo e olhei o rapaz que me indicou para subir à sua frente. A hospedeira no topo da escadaria sorria-me docemente, já do interior do avião. Mas eu sabia que aquele sorriso se assemelhava a um quadro a óleo pintado na tela estático e constante, falso e torcido. Sabia que, por detrás de todo aquele ar carinhoso e convidativo – obrigatório – junto com a maquilhagem carregada e pouco misericordiosa com a sua face, se escondia um desprezo inaudível e uma aversão espontânea à minha simples presença.

Demorei algum tempo a aperceber-me de que estava parada no mesmo sítio a admirar a forma automática com que as pessoas tendem a parecer simpáticas, quando no fundo toda a sua Natureza grita por uma raiva imensa e imersa num fogo odioso, por nós. Senti a mão de Pedro bater-me levemente nas costas para que prosseguisse, mas não fui a tempo de pisar o segundo degrau quando uma voz desconhecida pediu para que parássemos.

“O que se passa?” O rapaz português questionou notoriamente zangado e dei por mim a desejar que aquilo fosse o sinal que me impediria de partir. Mas eu não podia, o mais correto era ir embora e deixar de uma vez esta gente que aprendi a amar, longe dos males que trago comigo.

“Deram-me ordens para impedir este voo de descolar e tirá-los do avião.” O segurança apertou o auricular melhor contra o seu ouvido como que confirmando as suas palavras e o meu coração saltou do lugar.

“Nós não temos mais nada para fazer aqui, vamos embora Maria.” Pedro continuou a empurrar-me para entrar mas eu fiquei preza na minha surpresa e nas minhas esperanças. Era egoísta a injusto para com eles, mas eu não queria sair dali, queria voltar atrás a correr e abraçar-me àquele ser que preenchia os meus pensamentos e o meu mundo desde que o conhecera. Ansiava por ele e pela sua voz, pelo seu toque, pelo seu simples olhar.

“Lamento senhor, mas não estão autorizados a deixar o país.” O homem deu outro passo em frente, mostrando-se muito mais alto do que o mais novo.

“Como não estamos autorizados a deixar o país?” Pedro gritou-lhe irritado, e mais seguranças se aproximaram. “Ela está a ser deportada e eu tenho tudo nos conformes!”

“Não é bem assim.” A voz grave e aguçada profissionalmente pronunciou junto da linha que se formava à nossa volta. Christopher. “Os seus documentos foram analisados e alguns deles aparentam ser falsos, além do mais o mandato de deportação da jovem foi anulado pelo juiz. Lamento, mas a Mel-, Maria não é mais obrigada a abandonar o país.”

“Como não? Isso é impossível, deixem-nos ir embora!” Pedro continuou a gritar empurrando-me pelas escadas acima. Tentei impedi-lo, mas ele era mais forte do que eu e foi necessário alguns homens subirem as escadas para nos conseguirem fazer de novo descer aquelas escadas infernais. Senti os meus pés tropeçarem e se não fosse os corpos masculinos provavelmente haveria caído no chão.

“Soltem-nos, vocês não percebem, nós temos de voltar!” As pérolas gordas escorriam dos seus olhos claros e eu espantei-me nos braços de um dos homens que me segurava. Sabia que ele ansiava do meu regresso e talvez até compreendesse a sua atitude relativamente a tudo o que vivemos juntos, mas porquê chorar desta forma? Que ansia tinha ele de me fazer voltar para o meu maior medo e o sítio que mais desprezo neste momento? (Não que eu odeie o meu país, na verdade amo-o e mata-me diariamente vê-lo naquilo em que se tornou, mas as pessoas que o governam tornam-no no lugar mais horrendo à face da terra). Desejar-me-ia assim tanto mal para que me querer ver sofrer?

“Podem levá-lo de volta para a sala e se tudo não estiver tratado em vinte minutos, podem mandar o avião descolar.” Christopher aproximou-se de mim agarrando o meu braço. “Eu trato dela a partir daqui.” O homem entregou o papel onde estava digitado o cancelamento do mandato que me dizia respeito e eu senti o meu estômago contorcer-se. Porque estaria aquilo a acontecer? O que teria feito Liam para impedir aquilo?

Os gritos incessantes do rapaz atrás de nós eram os tormentos da minha cabeça colidindo com os que já existiam. Tentei raciocinar tudo o que estava a acontecer e concentrar-me nas minhas perguntas, mas parecia ser tudo demais para mim.

“O-o que aconteceu?” A minha voz estava rouca e perdida na bagunça da minha mente. E embora todo o barulho que o aeroporto criava nas suas situações mais remotas, ele conseguiu ouvir-me.

“Acho que não devo ser eu a dizer-te isso. Só sei que és a má da fita mais sortuda que os jornais vão enfrentar nos próximos meses, tal como os assistentes sociais e os juízes que estiveram a par do teu caso.” O sorriso adocicado surgiu no rosto do advogado que me puxava para outro salão que eu nem sabia existir naquele espaço. Provavelmente seria ali que eram apreendidas as pessoas suspeitas pelo transporte de droga e outras coisas pois existiam alguns polícias no local.

“O que vão fazer com ele?” Interroguei sabendo perfeitamente que ele entenderia de quem eu falava.

“Nada, daqui a pouco vai ser liberto, os documentos dele estão em perfeitas condições. Foi só uma maneira de ter a certeza que ambos ficavam retidos.” Encolheu os ombros de novo com o sorriso e soltou-me, para fechar a porta atrás de si.

Assim que os dois rapazes que surgiam de costas para a porta se voltaram na nossa direção senti o coração disparar do sítio e os meus pés levitarem para longe do chão que me prendia à realidade. Senti os olhos arderem e o primeiro instinto foi correr para eles e abraçá-los com a força toda que tinha. Embora Liam fosse quem mais amasse no meio de todas estas pessoas, tanto Harry como Andy tinham sido excelentes amigos para mim em todo o tempo que aqui estive e não sabia como lhes agradecer todo o carinho e tudo o que fizeram por mim.

“O que é que estão aqui a fazer?” Questionei com um sorriso que me fazia doer as bochechas. Os dois riram ao mesmo tempo e o mais velho apontou para trás.

“Não podíamos deixar o Romeo vir buscar a Julieta sozinho, não era?” Andy referiu e foi então que o meu olhar pousou no moreno ao fundo da sala. E deixei de me sentir a mim própria, como se a minha alma tivesse sido puxada e agora estava a ver-me a mim própria, sem palavras ou reação possível para aquele momento.

Mas como se ele soubesse tudo o isto, respondeu por mim.

[Este é oficialmente o PENÚLTIMO CAPITULO da fic (sem contar com o Epílogo). Obrigada às minhas mais fieis leitoras, voces sao lindaaaas e fantasticas *-*

Tem sido espetacular e (embora esteja um pouco farta dela ahah) um carinho por esta fic porque, afinal, foi a primeira que postei no Wattpad completa (:

Espero que estejam a gostar e desculpem se o final ficar melodramatico e assim <3

VOTEM E COMENTEM :D

xx]

The Runaway  |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora