De hoje em diante

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Foi uma longa manhã, depois de um bom café, uma boa soneca, e mais uma hora para escolher que roupa usaria, separei um par de sapatinhos para minha surpresa. Andava de um lado para o outro, nunca minutos haviam demorado tantas horas para as horas passarem.

Uma expectativa ruim tomou conta de mim, e se ele não viesse? E se nosso tempo tivesse acabado? E se cruzamos o caminho do outro para nos desprendermos do passado? E se ele já seguiu em frente? E se...
Seríamos só nós de hoje em diante, seria triste, mas, conseguiríamos.

Não tenho dúvidas que ele participaria da educação e presença, Nate seria um irmão bem próximo, mas, se ele mesmo assim rejeitasse a ideia? Ele precisava me dar uma chance. Tia Lucy me chamou para o almoço e nos sentamos.

- Tia Lucy, e se Liam não vier o que farei?
- Minha menina, ele é louco por você, foi embora daqui muito magoado, estava triste como eu nunca vi uma pessoa em toda minha vida, o que você fez foi cruel, e sim querida pagar o preço por isso é possível.
- Tia Lucy, me arrependo tanto,- falei com o coração apertado- mas, não posso voltar atrás, só posso me agarrar ao fio de esperança de que o amor que vivemos foi forte o suficiente para ele me ouvir. Estou com medo. - Já comecei a chorar e ela me embalou em seus braços fortes.
- Agora vá, suba e faça seu ritual, fique linda e cheirosa e tenha fé no amor. Vou torcer para que o bom moço venha. - O sorriso que ela deu não me convenceu-
- Obrigada Tia Lucy, a Senhora será uma avó formidável.- Ela limpou o canto dos olhos com o avental, me abraçou forte me deixando a sós com meus pensamentos.

Fui para o ritual, tomei um longo banho de banheira, escolhi uma lingerie de renda branca, meus seios estavam mais fartos, assim como minha barriga estava levemente arredondada e meu quadril mais largo, optei pelo vestido verde de mangas e botões até os pés, ele havia me olhado com muito desejo naquele vestido, agora seu decote ficava mais aparente, a chave estava com ele, no entanto no meu pescoço estava uma jóia no formato de uma criança.

Faltavam 2 horas para o por do sol, e eu já havia espalhado as fotos do ultrason pela sala e muitas roupinhas, balões metalizados e brinquedos, também haviam presentes para Nate.
Coloquei uma playlist bem romântica, peguei os sapatinhos, acionei a caixa de som do pergolado próximo ao pier e me pus a esperar.
Meu coração batia descompensado, o medo me deixou trêmula, dentro da minha cabeça uma relógio de ponteiros ecoava cada minuto, o sol começou a se por, e eu fiquei ali perdida em lembranças, ouvindo Buble, nenhum carro, nenhum helicóptero, nenhum telefonema. Fiquei ali no escuro por quase 2 horas, quando limpei as lágrimas e voltei para casa, olhei para tudo aquilo, me senti ridiculamente romântica, abandonada, despedaçada, depois de soluços profundos, abaixei a música, subi, apaguei as luzes, me afundei na cama na minha própria solidão, na solidão que eu cavei, plantei e colhi.
Limpei as lágrimas, eu precisava ser forte, se não por mim, por nós.
Apaguei.
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Quando recebi aquela mensagem no dia anterior, fiquei com muita raiva, quem ela pensava que era? Só mudar de ideia, estalar os dedos e pronto, eu estaria lá? Eu andava descontralado, bebendo para esquecer, só ficava bem com Nate e ele estava bravo, dizia que eu estava mal humorado demais.
Decidi que não iria ao Lago.

Não consegui dormir bem, deixei Nate na escola de manhã e ficava lendo aquela mensagem

LINDO, ATÉ AGORA NÃO SEI DIZER DE QUEM EU ESTAVA FUGINDO, SE DE MIM, DE VOCÊ OU DE NÓS. ISSO JÁ NÃO IMPORTA MAIS, SÓ PEÇO À VOCÊ À CHANCE DE CONVERSAR.
DAQUI HÁ 3 DIAS TE ENCONTRO NO PIER NO NOSSO POR DO SOL.
Estava decidido eu não iria, menos de 3 meses e ela tinha virado minha VIDA de cabeça para baixo, me ensinando a amar de novo, me dando tudo e me deixando sem nada, deixando Nate sem nada.
Ele não entendia, ficava perguntando quando ela voltaria, se ele não tinha sido um bom garoto, depois ficava bravo e dizia que eu era beijoqueiro demais.
Ela foi cruel, eu era um adulto, mas, Nate não merecia se culpar pela imaturidade dela, e daí eu me traía, a saudade me assolava, seus beijos, seu cheiro, quem eu queria enganar eu a amava com toda minha alma e apesar da minha mágoa.

Assim o dia passou, e quando percebi o sol se pondo entendi que estava sepultando de vez aquela história, me sentei de frente pra janela e lembrei de nós todos no pier no primeiro dia, quando eu comecei a perceber que ela não era Cristina, que aquele brilho no olhar, a intensidade daquela doação, aquela era uma pessoa que precisava de mim, não só eu dela.

Bebi por duas horas, tentei adormecer, peguei as chaves do carro e segui para o Lago, se ela queria falar teria sua chance, mas, não antes deu olhar nos seus olhos e chama-la de mesquinha. Dirigi devagar, quando cheguei entrei com o cartão que Sarah havia me entregou quando fomos para o Lago na sua ausência.

Estacionei o carro e caminhei até o pier, a luz estava acesa, Buble tocava de fundo, tinha algo em cima do banco, cheguei perto e meu coração gelou, havia um par de sapatinhos de bebê, fiquei olhando, os peguei, meu coração estava quase saindo pela boca.

Entrei na casa, tudo estava escuro, exceto pela meia luz no corredor de cima, não acendi nada, não havia tempo para delongas, eu queria, merecia explicações, quando entrei no quarto minhas pernas ficaram bambas, ela parecia um anjo dormindo, o abajur mostrava bem seu rosto, ela estava triste, aquele vestido, só de ve-la, minha respiração mudou, algo estava diferente, eu fiquei ereto.

Cheguei ao seu lado, porém, não a acordei, fiquei sentindo seu cheiro, ouvindo sua respiração, eu ainda estava alto de wisky, estendi minha mão e acariciei de forma leve o contorno do seu rosto, engoli seco, queria beija - la com força, com punição por nos abandonar.

De quem eram aqueles sapatinhos?
Eu não podia ficar perto dela, estava muito magoado, com muita raiva, e se ela mandasse embora de novo?
Virei as costas e quando me dirigi à porta ouvi:
- Liam, por favor não me deixe.- Eu parei, ainda de costas, ela estava sonhando, começando a chorar.
- Não nos deixe, por favor, por favor. - me virei e seus olhos estavam fechados, me aproximei da cama novamente e não me contendo, beijei seus lábios.
- Liam.- Ela se sobressaltou abrindo os olhos, a curva dos seus seios saltando do decote, como é possível desejar tanto alguém. Eu precisava de respostas, não de desejo.
- Sim Cristina, cá estou, agora me diga o motivo de me trazer aqui depois de nos deixar. - Não tinha mais paciência para jogos.
- Diga logo Cristina, se eu sair deste quarto de hoje em diante, você nunca mais me verá.

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