O Pesadelo Vive Em Nova York

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(Nova York; Data: 23/06/2023)

"- O que acha da doença que o laboratório acidentalmente criou doutora Jensen?
- Essa doença é mais do que um erro de laboratório, erros podem ser corrigidos mas isso...essa doença é uma desgraça completa.
- Como se sentiu quando descobriu que a doença já se disseminou para outras cidades próximas de Nova York?
- Assim como toda a praga se espalha rapidamente por uma plantação, essa doença não vai ser contida, não temos a mínima noção de antídoto, conhecemos muito pouco os sintomas pois não há como examinar os pacientes de jeito nenhum pois o estado de sanidade mental deles não nos permite.
Só o que posso dizer a todos é: Preparem-se. Essa doença não é só uma gripe espanhola ou uma peste negra, essa doença é o verdadeiro caos, e não podemos pará-la tão cedo.
Vi meu amigo ser morto na minha frente, cuidem muito bem das pessoas que amam ou elas serão as próximas.
O pesadelo agora vive em Nova York.
- Meus sentimentos doutora Jensen, não posso nem imaginar como seria perder alguém que amo. Obrigada pelas informações. Nancy Howard para o Diário de Manhattan."

- Pode desligar a televisão por favor Havy?- Perguntei, eu me culpei tanto por tudo, parecia haver uma cratera enorme no meu peito, achei que ia salvar vidas mas ao invés disso estou ceifando elas.
Havanna franziu a testa e atendeu meu pedido, ela se sentou ao meu lado.
O presidente havia me ligado mais cedo e claro que ele me culpou, e ele tinha razão.
- É tudo culpa minha.- Eu disse.
- Não pense assim Em, você deu o seu melhor, não foi você que criou a fórmula, lembra?
- Mas eu apressei as coisas, se eu tivesse sido um pouco mais prudente talvez...
- Emmett.- Havanna segurou minha mão.- Não importa. Pode escolher sofrer com isso ou pode escolher procurar a cura.- Ela disse, pensei um pouco.
- Tem razão.- Concordei.
- Sempre tenho.
- E pensar que esse treco nem tem nome.- Sorri ainda chateado.
- Eu já pensei em um nome mentalmente. Mas é estranho.- Havanna riu.
- Fala. Não vou rir.- Sorri.
- Morbonervosi. Significa morte nervosa em latim.- Pensei um pouco.
- Quer saber? Esse vai ser o nome da doença.- Eu disse, ela franziu a testa.
- Jura?- Ela perguntou, assenti.
- Então nós vamos enfrentar a morbonervosi juntos.- Ela disse.
- Eu enfrentaria até uma manada de elefantes com você.- Eu disse.
- Eu te amo.- Ela disse, suspirei.
- Eu sei. Também amo você...

(Chicago; Data: 23/06/2033)

- Essa doença vai se espalhar.- Eu disse.
- Vai e daí?- Meu pai deu de ombros.
- E daí que a gente vai morrer.
- Aaron, isso é frase de gente fraca, entendeu?
- É fraqueza ser pessimista?
- Claro que é garoto, estou te ensinando a ser um homem e se essa doença ficar pior você vai ter que ser mais homem do que nunca. Temos armas, bastante munição, e se acontecer alguma coisa podemos roubar comida.
- Você fala como se fôssemos morrer.- Eu disse.
- E vamos se você não parar de frescura, mas isso é só se a doença vier para cá, mas por via das dúvidas...levanta essa bunda do sofá.- Ele carregou uma arma e me deu.
- Vai me ensinar a usar?- Perguntei.
- Não, vou fazer um bolo pra você, é claro que eu vou te ensinar a usar Aaron.- Bufei e me levantei, ele colocou uma tábua grande na parede, furada por balas porque às vezes ele descarregava a raiva atirando.
Ele arrumou minha postura e me entregou a arma.
- Destrava a arma assim...- Ele a destravou para mim.-...Depois você segura com firmeza e finge que o alvo é a fonte de toda a sua raiva, aí você puxa o gatilho com calma e não mude de posição até ter certeza de que a arma disparou e que não vai disparar de novo, ou vai acabar matando quem estiver do seu lado.- Ele explicou, processei as informações e puxei o gatilho, a bala perfurou rapidamente a tábua.
Meu pai deu um sorriso.
- Isso garoto, vamos de novo até ter certeza de que não vai mais errar...

(Nova York; Data: 23/06/2023)

- Ela é de confiança mesmo?- Perguntei enquanto íamos até o ponto de encontro. Nelly teve a idéia de voltar de carro para Manhattan, ela tinha uma amiga de confiança lá e eu achei a ideia meio estranha devido ao cenário atual.
- Claro, nos conhecemos na faculdade, você vai amá-la.
- Ela vai nos dar comida?- Julie perguntou.
- Você só pensa em comida Julie.- Nelly riu, eu tinha um sentimento estranho quanto àquilo.
A amiga de Nelly (Flora Chumsky) me pareceu feliz à primeira vista, ela tinha cabelos castanhos e sorria o tempo todo.
Eu fiquei quieta desde que entramos no carro, o lance da cientista Jensen mexeu comigo, fiquei imaginando o quanto seria horrível se alguém que amo fosse morto por uma daquelas...coisas.
Só voltei para a realidade quando ela parou o carro, notei que estávamos em um engarrafamento e já me senti entediada, peguei meu celular e começei a olhar fotos que eu batia com meus pais, me senti preocupada por eles morarem longe, um sentimento ruim apertou meu peito e eu resolvi ligar.
- Nancy?
- Oi mãe.
- Meu Deus, você não me liga há tanto tempo! Fiquei tão preocupada! Como você está?
- Desculpa por não ter ligado tantas vezes, estou bem, eu sei que a doença apareceu agora e é por isso que eu tô ligando. Tenho medo de morrer ou de perder vocês.
- Ah filha, o importante é que você ligou, sentimos tanto a sua falta.
- Também sinto a de vocês.
- E como Nelly e Julie estão?
- Bem...eu estava pensando em fazermos uma visita.
- Aqui em Chicago é tão espaçoso, ia ser magnífico se viessem.
Abri um sorriso.
- É...eu amo vocês.
- Também te amamos, estamos de braços abertos se quiserem vir.
- Ok.
- Tchau Nancy.
- Tchau mãe.
Encerrei a ligação.
- Aí Nel, o que acha de visitarmos nossos pais?- Perguntei.
- Ótima ideia, não gosto do fato de eles estarem em Chicago e nós estarmos aqui.
- Pois é.
- Nelly?- Flora perguntou.
- O que?
- Eu não tô me sentindo bem.- Ela disse, obviamente fiquei desconfiada, aí ela começou a vomitar sangue.
- Meu Deus...Flora...- Nelly se assustou.
- Eu vou descer.- Ela anunciou e simplesmente saiu do carro.
- Será que é a doença nova? Perguntei.
- Não há possibilidade.- Ela disse.
- Mãe, o que está acontecendo?- Julie perguntou.
- Ela só está mal.- Nelly forçou um sorriso, eu me senti desconfortável e preocupada com aquilo.
Quando percebi que a porta do carro foi aberta quase me senti aliviada.
- Flora, você está bem?- Minha irmã perguntou, ela riu e olhou para nós, os olhos dela estavam de um verde que eu nunca vi antes, o medo tomou conta de mim na hora.
- Melhor do que nunca.- Ela disse.
- Nancy, pega a Julie e corre!- Nelly exclamou.
- Mãe?!- Julie choramingou.
- Que é isso? É só porque mudei um pouco? Que preconceito.- Flora riu e acelerou, como estávamos em um congestionamento o carro dela bateu na traseira do carro da frente.
Ouvimos o estrondo e após isso, os inúmeros xingamentos do dono do outro carro, desci do carro correndo assim como Nelly.
Ela estava um pouco atordoada e ferida com a batida, minhas costas doeram tanto naquele momento, mas continuei correndo com Julie no colo.
Parecia ser só mais um pesadelo corroendo minha mente e me aterrorizando, mas era real, minha respiração, meu coração pulsando como uma moto em alta velocidade, eu sabia que não tinha como acordar e essa foi a pior parte.
Nelly caiu no chão depois que corremos.
- Nel?!- Coloquei Julie no chão e vi que havia um caco de vidro preso no braço dela, estava sangrando muito.
Julie começou a chorar, eu puxei o caco de vidro e peguei lenços na minha bolsa para estancar o sangue.
- Não podíamos ter confiado em ninguém.- Ela disse.
- Não foi culpa sua, relaxa, vamos para Manhattan e tudo vai ficar uma maravilha.- Eu disse de modo otimista.
- Não vão mesmo.- Flora apareceu do nada, coloquei Nelly e Julie atrás de mim.
- Flora, por favor não mata a gente, você está fora de si.
- Adoro estar fora de mim.- Ela sorriu de um jeito tão sádico que recuei.- Ah, você sabe o que dizem: As melhores pessoas são loucas.
- Não desse jeito.
- Tem razão, mas eu gosto de ouvir os gritos, gosto de ver o sangue jorrar e de ouvir a pulsação parar, é tão prazeroso.- Ela sorriu.- Não se preocupe, não vou te matar rápido, vai ser bem devagar e com muita dor.- Ela gargalhou, eu não sabia o que fazer então começei a socar ela, nunca tive tanta força nos braços e aquilo me deixou desesperada.
Uma hora ela bloqueou um dos meus socos e torceu meu braço, dei um grito e quando caí no chão vi Nelly empurrá-la e cravar o caco de vidro no peito dela.
Julie chorava sem parar e foi me abraçar, meu braço esquerdo estava completamente dolorido.
Achei que tínhamos conseguido vencer por um instante, mas aí vi que o sangue de Flora caiu nas mãos de Nelly e que ela tinha começado a chorar.
Repentinamente, a única chama de esperança que eu tinha se apagou...

Morbo: O começo_ Livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora