(Manhattan; Data: 29/06/2023)
Ouvi batidas na porta, eu estava de ressaca e tão cansada que não quis abrir, Julie mal havia conseguido dormir de noite, ela chorou quase a noite inteira, aquilo era deprimente e beber não aliviava nada.
Sempre achei que eu fosse forte para muita coisa, mas então percebi que eu era forte para muita coisa, mas para aquilo...para perder alguém que amo como perdi Nelly, eu não era forte.
- Senhorita Howard? Abra a porta por favor, aqui é o detetive Rusty Elmhurst.
Eu nem liguei para o meu estado, só prendi o cabelo e abri a porta.
- Boa tarde senhorita Howard.- O mesmo homem que veio e ficou me fazendo perguntas sobre o que aconteceu no dia anterior disse.
- Boa tarde.- Respondi.
- Desculpe o incômodo, só queria fazer algumas perguntas.- Ele disse, fiz um sinal para que ele entrasse, ele assentiu, obedeceu e eu fechei a porta.
- Sente-se.- Eu disse me sentando na poltrona em frente ao sofá.
- Bem...sabia que sua irmã estava infectada?- Ele perguntou, falar dela ainda dói tanto.
- Sim, ela estava infectada há quase uma semana atrás.
- E ela nunca tentou ferir vocês?
- Nunca. Pelo contrário, ela se afastou de nós.
Ele ficou me encarando por um tempo.
- Senhorita Howard, como deve saber matar maníacos não é um crime.
- O que está insinuando?- Franzi a testa.
- Seja franca e serei direto. Matou sua irmã?- Me senti indignada e ao mesmo tempo furiosa ao ouvir aquela pergunta.
- Eu amava minha irmã, sempre fomos melhores amigas uma da outra, por que diabos acha que eu a matei?
- Porque ela era maníaca.- Ele disse.
- Eu não ligava, eu queria que ela vivesse normalmente do mesmo jeito mas ela...teve que se cortar daquele jeito...- Meus olhos marejaram, senti uma vontade de chorar avassaladora.
- Não tem cara de quem a matou.
- Porque não a matei, eu daria qualquer coisa pra ter ela de volta.
Ele suspirou, eu tentava disfarçar a vontade de chorar.
- Alguma de vocês encostou no sangue. Você ou sua sobrinha?
A imagem de Julie abraçada com Nelly me veio perfeitamente a cabeça. Mas sabia que não fariam boa coisa se soubessem que ela é maníaca.
- Não.- Menti.- Sabia o que podia acontecer e não deixei Julie chegar perto, e eu também não cheguei perto.
- Tudo bem, voltamos daqui a quatro dias para confirmar se não houve infecção.
- Ok.
- Obrigado, senhorita Howard.- Ele disse.
- Não há de que.- Forçei um sorriso, abri a porta para ele e ele saiu, tranquei a porta e fui até o quarto de Julie, ela ainda dormia.
- Julie?!- Sacudi ela, ela acordou sonolenta, seus olhos verdes chegavam a brilhar no escuro, eram lindos mas significavam tanta tragédia.
- Tia Nancy?- Ela perguntou.
- Temos que fazer as malas.- Avisei.
- Por que?- Ela se levantou.
- Vamos para Chicago...(Texas; Data: 29/06/2023)
- Que bom que ainda não chegou aqui. A doença nova.- Uma garota que queria fazer amizade comigo me dizia, ela era bem legal e não era como patricinhas populares que acham que status é tudo na vida.
Eu tinha acabado de chegar em uma escola nova e com certeza não me sentia segura lá, embora as pessoas fossem receptivas.
A aula acabou e eu só queria voltar para casa logo.
- É, mas se continuar se espalhando assim vai chegar.
- Você é bem pessimista.- Ela riu, sorri.
- Sou realista.- Eu respondi.
- Aaah é, nem nos apresentamos, desculpe por não ter prestado atenção na chamada.- Ambas rimos.
- Sou Kimberly Sparks.- Eu disse.
- Kimberly? Que nome bonito, gostei do seu nome.
- Obrigada.
- Sou Pamela Kearney.- Ela disse.
- Posso te chamar de Pam?
- Sim, e eu posso te chamar de Kim?
- Pode.- Eu disse.
- Você é só um bebê chorão que não cuida nem da própria mochila.- Ouvi assim que chegamos no pátio, olhei e vi Garrett chorando e sendo chutado no chão enquanto um moleque segurava a mochila dele e pegava algumas moedas.
Senti meu sangue ferver.
- Pam, segura minha mochila por favor?- Ela pegou minha mochila.
- O que vai fazer?- Ela perguntou.
- Vou dar o que aquele idiota merece.- Eu disse, concentrei toda a minha força nos meus punhos enquanto caminhava até eles.
- Aí!- Chamei, assim que aquele que segurava a mochila se virou para mim dei um soco na cara dele com toda a minha força, ele caiu no chão, e começei a socar ele repetidamente até o nariz dele começar a sangrar.
- Kim?- Ouvi Garry perguntar.
Vi que os outros dois tentaram me puxar para me afastar do outro, eu me soltei depois de fazer força, chutei um deles e dei um soco no outro, quando aquele que estava no chão ia se levantar dei um chute bem no meio das pernas dele.
- Mas o que é que está acontecendo aqui?!- Uma professora chegou e me viu, mal me importei porque eu não me arrependia, peguei a mochila de Garrett.
- Devolve as moedas ou até a professora vai ver o que eu faço com você seu marginalzinho!- Ameaçei todos devolveram o que tinham pegado e coloquei de volta na mochila de Garry.
- Todos para a diretoria, agora!- A professora exclamou, revirei os olhos e entrei.(Nova York; Data: 29/06/2023)
- São tantas manifestações na frente de casa que mal conseguimos dormir, é horrível Paris, não temos como criar a cura agora.
- Sei que não, mas precisamos pelo menos tentar, isso vai se espalhar, essa doença é uma verdadeira praga Emmett.
- Todos nos vêem como culpados, que diferença faria se fizéssemos uma cura?
- Toda a diferença do mundo, não é por fama Emmett, e pelo nosso pescoço, muitos querem nos matar. Não quer por sua família em risco quer?- Ela perguntou, suspirei.
- Sabe que não.
- Vamos Emmett, vamos ao menos tentar produzir essa cura.
- Preciso pensar. Enquanto isso, o laboratório não vai funcionar.
- Pense com cuidado Emmett, ok? E tenha cuidado, fiquei sabendo que há suspeitas de que a doença já se espalhou até para o Brasil.
- Para o Brasil?- Franzi a testa.
- Tem muitos brasileiros que vem para cá todo ano, não acho improvável.
- Tem razão.- Concordei.
- Até logo Emmett.
- Até logo...(Texas; Data: 29/06/2023)
Depois que a diretora conversou com meus pais notei que só meu pai me entendeu de verdade.
Minha mãe disse que não é educado uma mulher ficar batendo em garotos por aí e que as palavras são o melhor meio de resolver conflitos, nunca acreditei nisso.
Já o meu pai...
- O que fez foi corajoso.- Ele disse.
- Não é o que pensam.- Rebati.
- E quem liga para o que pensam? Se acha vê alguma coisa errada no mundo você luta para tentar consertar.
- Mas minha mãe disse que...
- Kim, sua mãe quer te ensinar a ser bondosa, eu quero te ensinar a ser guerreira. É só o que você precisa ser e quando for assim, terei orgulho de você.
- Quer me ensinar a ser guerreira por causa da morbo?
- A doença é só mais uma provação como qualquer outra. O que você fez não foi ruim, defendeu seu irmão sem nem pensar nas consequências, você é tão altruísta.
- Mas não é perigoso ser altruísta nos dias de hoje?
- Pode até ser. Mas saiba que as melhores pessoas são como você.- Ele sorriu.
- Valeu pai.- Eu disse.
- Kim?- Garry veio até mim.
- Oi maninho.- Abri um sorriso, ele me abraçou.
- Obrigado.
- Nunca mais se meta com gente daquele tipo.
- Desculpe, não queria que mamãe ficasse chateada com você por minha causa.
- Não peça desculpas, não me arrependo.- Dei um sorriso.
- Comprei isso daqui para a gente.- Ele me mostrou duas barras de chocolate.
- As duas são minhas?- Ironizei.
- Não!- Ele exclamou, apenas ri e peguei a barra.
Ouvimos um barulho estranho vindo do céu, olhei para ver o que era e vi algo longe de nós caindo, só depois me toquei de que era um avião.
- Ah mas que droga. Vamos nos afastar.- Ele segurou nossas mãos e nos puxou para que fôssemos com ele.
Não demorou muito para que o chão tremesse um pouco.
- Pai? O que foi aquilo?- Garrett perguntou assustado.
- O que houve?- Minha mãe correu até nós, meu pai apenas olhou para a nuvem de fumaça subindo.
- Não sei, mas não gosto disso...
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Morbo: O começo_ Livro 4
Fiksi IlmiahEu acredito em destino. Acredito em muitas coisas, para ser sincera; mas não há nada mais relevante do que: "Tudo tem um começo, um meio e um fim". Por três vezes a mesma epidemia mundial da mesma doença castigou a humanidade, a contaminação era ráp...