Reféns

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(Nova York; Data: 01/07/2023)

Eu finalmente resolvi tentar criar um antídoto, eu e meus colegas de laboratório passamos horas tentando achar um meio de fazer uma cura.
A doença ataca o sistema nervoso através do sangue e é isso que precisamos interromper. Não é fácil.
Meu celular tocou mas não me importei muito.
- Seu celular está tocando.- Paris disse.
- Não costumo atender números estranhos.
- Tá, mas e se for importante?- Ela deu de ombros, meu celular parou de tocar.
- Viu? Já era.- Ironizei.
- Com licença.- Twilla Daimler, a recepcionista do laboratório entrou.
- Oi Twilla.- Paris disse.
- Oi Paris. Tem uma garota querendo falar com você, já olhei para ver se tem os aspectos de uma maníaca mas não tem.
- Alguém querendo me ver? Que novidade, pode mandar entrar.- Paris disse sorrindo.
- Sabe quem é?- Perguntei.
- Na verdade, não faço a menor ideia.
- Paris?!- Me virei e vi uma garota loira e com uma expressão extremamente feliz no rosto, assim que Paris se virou ela levou as mãos à boca, parecia surpresa.
- Grece!- Ela exclamou, entendi rapidamente quem ela era.
As duas se abraçaram no meio de todo mundo, sem nem se importar com ninguém.
- Estava tão preocupada com você! Por que não me atendia?!- Paris disse.
- Meu celular quebrou. Vim por esse motivo, essa doença...eu precisava te ver.- Ela disse.
As duas saíram, lembrei que nosso expediente no lugar havia acabado.
Arrumei minhas coisas e quando eu estava saindo Twilla me chamou, me entregou o telefone e disse que tinha alguém querendo falar comigo.
- Alô?
- Boa noite senhor Cypress.- Ouvi a voz de um homem.
- Boa noite, quem fala?
- Quem eu sou não interessa a você. Você acabou com a minha vida quando criou aquela droga de soro sabia? Uma maluca foi no bar em que eu estava com minha namorada, ela me contaminou e matou a minha namorada, sabe como eu me sinto?
Percebi o perigo que corria naquele instante.
- Não faço ideia e eu sinto muito, eu não queria causar isso.
- Mas causou e vai saber o que é dor de verdade, mora no Brooklyn Heights não é?
Naquele momento eu gelei, eu tinha uma noção do que estava acontecendo e eu não gostei.
- Responde palhaço.
- Sim.
- Que bom. Agora escuta esse som...- Ouvi um chiado.- Emmett!- Não era mais a voz do homem, era a voz de Havanna.
- Havy?! Eles te machucaram?!
- Não, mas querem te machucar.
- Eu sei. Cadê a Hortensia?!
- Está aqui comigo.
- Onde vocês estão?
- Estádio Citi Field, querem que você venha até aqui. Disseram que se você ligar para a polícia ou mais alguém eles matam a gente.
- Tudo bem.
- Eu te amo.- Ouvi a ligação ser encerrada.
Eu dei o telefone para Twilla e fui correndo para o meu carro, rezei para que o trânsito estivesse bom mas não estava.
Um medo que nunca senti na vida tomou conta de mim. A vida das pessoas que mais amo está em jogo...

(Chicago; Data: 01/07/2023)

O aeroporto estava mais vazio do que nunca, viajar de avião se tornou perigoso, constantemente aviões caem porque os infectados tomam conta deles, é normal, a doença se espalhou para o Brasil e para o México, eu ficava vidrada no celular e nas notícias.
Tive que colocar lentes de contato em Julie para que pudessemos viajar em paz, a policia não iria perder o tempo me investigando, deixei um recado mentindo que meus pais precisavam me ver, mas na verdade eu precisava vê-los.
Peguei um táxi até a casa de meus pais, estava de noite mas eu não ligava.
O nome de minha mãe é Edna Howard, e o de meu pai é Claude Howard, sempre fomos muito felizes até que eles se separaram em uma época, eu e Nelly nos mudamos e queríamos manter distância...mas Nelly sempre ligava para nosso pai, ela era a favorita dele, eu sempre soube mas nunca dei importância.
Apertei o botão da campainha nervosa, Julie era maníaca, eu tirei as lentes de contato dela após sairmos do táxi.
Julie não parecia ser diferente por ser maníaca, só parecia estar mais inteligente, mas eu não deixava de me preocupar.
Assim que a porta foi aberta vi meu pai, ele se surpreendeu muito ao me ver e se surpreendeu mais ainda ao ver Julie, mas não demonstrou medo ou repulsa por ela e aquilo era ótimo.
- Eu precisava vir para cá.- Eu disse, ele apenas me abraçou.
- Senti tanto a falta de vocês.- "Vocês"; Aquela palavra me trouxe tanta dor.
- Pai...eu precisei vir porque...- Eu ia explicar, mas só de olhar para a cara dele parecia mais doloroso do que já era.-...A Nelly...
- O que tem sua irmã?- Ele perguntou, me segurei para não começar a chorar.
-...Ela foi contaminada, perdeu a noção do que significava para nós...eu achei ela no quarto onde ela ficava...
- Por Deus Nancy, diga que ela não...
-...Ela se foi pai.- Todo o meu esforço para não chorar foi inútil, eu nunca vi meu pai chorar, mas naquele momento ele chorou.
Julie continuava firme, os olhos dela apenas marejavam.
- Está tudo bem vovô.- Julie disse abraçou meu pai, ambos nos surpreendemos com a reação dela.
Mas eu não queria mais dizer nada. Estava exausta, emocionalmente e psicologicamente...

(Nova York; Data: 01/07/2023)

Cheguei ao estádio rezando para que não fosse tarde, logo na entrada vi homens com fuzis.
- Olha só quem chegou.- Eles debocharam, me senti em um lugar completamente hostil.
- Aí cientistazinho inútil.- Uma maníaca disse.- Me segue, e sem gracinha ou a sua bebê paga o preço. Mãos acima da cabeça.- Obedeci e segui ela até o campo, quando cheguei lá vi uma multidão de maníacos.
Vi minha mulher e minha filha em uma espécie de palco, estavam vivas e aquilo me deixou aliviado.
- Bem-vindo Emmett Cypress!- Um garoto disse com um sorriso sádico.
- Quem é você?- Perguntei.
- Desculpe se fui grosso pelo celular, mas eu tinha que ser mais...ameaçador. Meu nome é Utah Deering Ironton.
Todos gritaram.
- O que você quer?- Perguntei.
- O mesmo que todas essas pessoas aqui meu amigo. Vingança!- Ele fez um sinal para que eu me sentasse em uma cadeira, assim que o fiz a maníaca me amarrou.
- Emmett?- Havanna me chamou.
- Quieta, o show nem começou.- Ele disse.- Desde que você doutor Cypress criou essa merda, eu venho planejando em como iria me vingar por essa doença ter tomado tudo de mim, então eu percebi que podia fazer melhor, eu podia me tornar um líder.
Todos aqui me seguem porque concordam comigo, eu só quero disseminar a ideia de Ilsa Greenfield.
Então eu mandei meus amigos em missão para todos os estados dos Estados Unidos ontem, disfarçados de humanos.
Califórnia, Florida, Texas, Ohio, Illinois, Indiana, tudo vai ficar tomado pela doença ainda hoje, e depois disso mando para o resto do mundo.- Ele explicou.
- Por que está fazendo isso?- Perguntei.
- Porque eu posso. Não vê o poder envolvido nisso? É o que eu quero.
- Você é louco.
- Valeu por me criar desgraçado, garanto que vou fazer da sua vida um inferno completo.
Ele foi até minha mulher e minha filha.
- Últimas palavras senhora Cypress?- Ele perguntou.
- Se ferir minha esposa ou minha filha vai se arrepender de ter nascido.
- É mesmo? Olha a minha cara de medo.- Fiquei quieto.- Eu posso até morrer mas vou tirar tudo de você, começando por agora.
Senti algo perfurar meu pescoço.
- Que é isso?!- Perguntei me debatendo.
- Sedativo, para termos certeza de que você não vai fugir.- Fiquei furioso, me eu resistia para tentar me soltar mas minha visão parecia estar embaçada.- Certo, senhoras e senhores, que começe o show!- Ele gritou, todos vibraram como se fosse um jogo, eu me sentia tão tonto.- Sabe senhora Havanna Cypress, a "poção" que seu marido criou é uma desonra, é bruxaria e você foi quem deu o nome.
- Por favor não me machuca, minha filha precisa de mim.- Havanna disse, tentei gritar o nome dela mas foi em vão.
- Esta sociedade condena Havanna Cypress por bruxaria, como na Idade Média, será queimada viva.
Eu juntei forças para tentar me soltar novamente, então senti algo me chutar e a cadeira tombou no chão, eu não podia fazer nada.
Ouvia Havanna chorar e Hortensia gritar por nós dois, eu estava tão drogado que mal podia falar.
Vi o tal de Utah jogar álcool em Havanna, consegui gritar o nome dela com muito esforço.
- Emmett!!- Ela gritou já chorando eu estava a ponto de chorar.
- Parem.- Consegui dizer, Utah deu uma olhada e começou a gargalhar.
- O que disse?- Ele perguntou, mesmo me sentindo um lixo eu repeti:
- Parem.
- Me implora.- Ele disse.
- Eu imploro...faz o que quiser comigo mas deixa elas.
- Não.- Ele sorriu.- Nem fodendo. Você vai sentir o que eu senti.
- Desgraçado.- Resmunguei, ele me chutou e vi alguém com um galão de gasolina, eu suplicava para que parassem mas aquelas coisas não tinham compaixão.
Eles incendiaram minha mulher e minha filha na minha frente, e o que eu pude fazer?

Morbo: O começo_ Livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora