Ódio

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(Indianapolis; 04/07/2023)

Eram sete horas da manhã quando ouvi a campainha da minha casa tocar, acordei na hora, eu sabia que com a infecção não devia abrir a porta até ter toda a certeza de quem era, me certifiquei de que meus pais estavam dormindo e caminhei até a porta.
Olhei quem era pelo olho mágico da porta; Mallory.
Os olhos dela estavam vermelhos e inchados.
- Molly?- Perguntei.
- Pat?! Me ajuda!!- Ela pediu, parecia desesperada, abri a porta e ela me abraçou.
- Mallory, o que deu em você?!- Perguntei confuso.
- Um...Um maníaco...invadiu minha casa, minha mãe me mandou correr e eu corri.- Ela disse começando a chorar.
- Calma Molly, quer um copo da água?- Perguntei.
- Eu tô com muito medo Pat.
- Não adianta agora, vai querer água ou não?- Perguntei, ela assentiu e busquei um copo da água para ela.
Ela tremia tanto.
- Patrick?- Minha mãe apareceu, ela pareceu surpresa ao ver Mallory.- Mallory, querida o que faz aqui a essa hora?- Minha mãe perguntou, Molly caiu no choro de novo, tive que explicar o que estava acontecendo.
Assim que minha mãe entendeu ela quis ir até a casa de Mallory para ver como os pais dela estavam, esperamos muito em silêncio, ela parecia chocada demais para falar, parecia petrificada, então ela finalmente se mexeu depois de um tempo.
- Eu não quero perder meus pais Patrick.- Molly disse.
- Não vai, eles estão bem, tenho certeza.- Eu disse.
- E se não estiverem?
- Pode ficar com a gente, você é minha melhor amiga garota, cuido de você.- Ela riu.
- Valeu garoto.- Ela disse.
- Quer jogar algum game?- Perguntei.
- Você só pensa em games.- Ela suspirou.
- Tem coisa melhor para fazer?
- Séries e filmes são melhores.
- Se for para falar besteira é melhor ficar quieta.
- Eu não menti.
- Claro que mentiu, você tem problemas? Games são as melhores coisas que existem.
- Não são não. Até música é melhor.
- Já estão discutindo? Vocês são tão complicados.- Vi os pais de Molly entrarem.
- Ai meu Deus!- Ela se levantou e abraçou os dois, eu só me senti aliviado por ela.

(Chicago; Data: 04/07/2023)

- Não vou fazer parte do seu grupinho ridículo de delinquentes Lewis.
- Erika, você é uma delinquente. Eu já avisei sobre os impulsos, acha mesmo que vai se controlar e que não vai matar ninguém?- Lewis vivia tentando me convencer de que ser um maníaco requeria ser uma máquina de destruição em massa e eu achava tudo entendiante.
- Se fosse matar alguém seria por defesa. Por que você ainda insiste tanto para que eu me torne uma assassina?
- Porque é o que somos.
- É o que você é.- Retruquei.- Você não tem o que fazer? Me deixa em paz, sei lá, vai matar alguém como o seu grupinho está acostumado a fazer, só me deixa em paz.
- Tudo bem.- Ele bufou.- Você pode ser a irmã que adora a paz e que não mata ninguém no nosso grupo. Mas tem uma coisa que eu te digo só mais uma coisa.- Olhei de canto para ele.
- Quando você se torna maníaco e tem algum ódio guardado, esse ódio se transforma em mortes, e a culpa nunca vai ser sua.
- É, a culpa é dos impulsos Lewis, já saquei.- Respondi de modo grosseiro, percebi que tinha afetado ele mas ele não ficou com raiva.
- Olha, Erika, sei que eu tenho sido meio...
- Chato?- Dei de ombros, ele respirou fundo.
-...É, tenho sido meio chato esses dias, mas não duvide, você ainda é minha irmã e minha melhor amiga.
Revirei os olhos.
- Quer jogar xadrez?- Ele perguntou.
- Não.- Respondi fria.- Sabe, eu preciso dar uma volta, não se preocupe, não corro riscos, quase não tem humanos nas ruas desde que seu amiguinho mandou maníaco pra infectar mais da metade do mundo e tudo está quieto.- Me levantei e coloquei um casaco.
- Não precisa agir assim, se está brava comigo só diz.
- Eu já disse, vai matar umas pessoas, sei lá. Tchau Lewis.- Abri a porta e saí sem dizer mais nada.
Eu não ficaria tão irritada se o que ele fez tivesse sido reversível. E depois dessa epidemia na qual a cada hora um país é infectado, eu já não sei se aguento olhar na cara dele.
Por isso eu só vou dar uma volta pra esfriar a cabeça e esperar que tudo acabe em um passe de mágica.

(Texas; Data: 04/07/2023)

Meu pai ficava mais estranho a cada minuto, não era mais sorridente como costumava ser e aquilo doía muito em mim.
Minha mãe estava chorando no quarto dela, só eu a vi, ela pediu para que eu mantesse Garrett afastado de lá e eu obedeci, ver sua própria mãe chorando é uma das piores sensações do nundo.
- Kim?- Meu irmão me chamou.
- Que foi Garry?
- Quero conversar, depois que o papai ficou doente tudo ficou mais quieto.- Claro que chegou a doer, mas eu não iria falar.
- Sobre o que quer conversar?
- Tenho uma pergunta. Por que não passam mais jornais na televisão?
- Ninguém é obrigado a trabalhar quando deveria estar em casa. Os jornais acabaram por causa da doença, e daqui pra frente muita coisa vai parar também.
- Tipo?
- Tipo...as ruas vão ficar vazias, já estão quase assim, e o mundo vai ficar bem silencioso, e nada nunca mais vai ser como antes.
- Nunca mais Kim?
- É, sem cientistas trabalhando a doença não vai ter cura, e só o que podemos fazer é tentar sobreviver.
Ouvi um barulho forte vindo da cozinha e Garry se assustou no mesmo momento.
- Garrett, não sai daí!- Mandei e fui ver o que estava ocorrendo, devagar e em passos lentos, olhei para a cozinha e vi meu pai com a respiração pesada e muitas coisas no chão, franzi a testa.
- Pai?
- Não olha. Sai daqui Kimberly.- Ele disse rapidamente, assenti e saí da sala.
- O que aconteceu?- Garry correu até mim, suspirei e sorri.
- Algumas panelas caíram, só isso...

(Chicago; Data: 04/07/2023)

Mesmo sabendo do perigo, Paris e sua irmã Grece quiseram me acompanhar, Grece queria ver os pais e Paris também, não havia como não ceder ao pedido delas.
- Emmett, já veio em Chicago alguma vez?- A irmã de Paris me perguntou.
- Já, mas faz tempo, vivem aqui desde pequenas, não é?
- Exato.- A maneira como ela sorria o tempo inteiro e o otimisto dela eram qualidades boas nela, mas mesmo assim ela parecia preocupada com Paris e com seus pais.
- É o seguinte, liguei para um velho amigo meu que vai nos dar uma carona. Não tem mais táxis nas ruas e andar seria muito mais perigoso.- Paris disse.
- Tem razão mas e se seu amigo for maníaco?- Grece perguntou.
- Mesmo se ele for maníaco ele tem um carro, pegamos o carro e deixamos ele.- Respondi.
- Parece meio cruel.- Paris disse.
- Não temos tempo para pensar no que é cruel Paris, olha a nossa situação, ou a gente faz ou a gente morre.- Eu rebati e por um segundo ela pareceu ofendida, mas só por um segundo.
Esperamos no aeroporto, as linhas aéreas não queriam perder dinheiro, os vôos internacionais estavam mais frequentes, queriam fugir para um lugar aonde essa praga não existe ainda para tentar ter alguma chance.
Esperamos por quase uma hora e meia até que o amigo de Paris chegasse, se chama Kurtis Eagleman, Paris e eles conversavam e riam o tempo inteiro, eu não prestei atenção, só queria descobrir mais sobre o homem que tirou o que eu mais amava de mim.
Quando chegamos na casa dos pais de Paris, Grece desceu correndo e foi tocar a campainha, Paris se despediu de Kurtis e saiu do carro.
Respirei fundo como se fosse difícil levantar mas saí.
Vi uma mulher loira de cabelos bem curtos de óculos que parecia ter cinquenta e poucos anos.
- Mãe!- As duas abraçaram ela.
- Meu Deus! Minhas meninas, aonde vocês foram?!- A mulher abraçou ambas e ria, aquilo me fez lembrar de Hortensia no colo de Havanna e doeu muito, mas ninguém precisava saber.
- Mãe.- Paris disse, eu trouxe um amigo. Emmett, esta é minha mãe, Sally Jensen e mãe este é Emmett Cypress.- A mulher me encarou como se eu fosse familiar e logo abriu um sorriso.
- Entrem por favor, não é seguro aqui fora...

Morbo: O começo_ Livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora