Mistérios: Parte um

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(Chicago; Data: 20/ 07/ 2023)

- Pronta?
- Se eu disser que estou nervosa vou parecer mais frágil?
- Não se preocupe Erika, qualquer um teria medo do seu irmão ou do meu.- Bryce me confortou, como parte das minhas ideias meu plano era uma loucura, se desse certo eu pularia de felicidade por algo tão bobo ter realmente funcionado, e se não desse teria que esperar pela pior das reações de Lewis.
Fazia parte do plano fingir estar chorando, o plano basicamente era fingir.
Então pensei em coisas que magoavam para que fosse mais fácil, pensei no que senti quando meu irmão me transformou no que sou hoje, em como me senti ao ver meus pais mortos e saber que uma das pessoas que mais amei na vida havia feito aquilo. Não demorou muito para que a primeira lágrimas caísse, para que uma dor no peito viesse, mas não podia parecer tão subjetivo, então eu fiz o sinal para que Bryce chamasse Lewis.
A parte dele era basicamente fingir desespero, diríamos que começei a ter visões e confundir o real e o imaginário, se tudo corresse bem, meu irmão arrumaria a carbamazepina que o doutor Cypress precisa.
Bryce saiu do quarto e ouvi ele falar com Lewis, me sentei no canto do quarto e abraçei minhas pernas como se estivesse realmente chorando.
- Erika??- Logo ouvi ele entrar no quarto e levantei o olhar.
- Me ajuda. Querem me matar, eu ouço as vozes...as vozes, a garotinha disse que eu deveria me matar.
- Do que você está falando Erika? Que garotinha?- Lewis parecia nervoso com aquilo, então estava dando certo.
Fiquei encarando-o por um tempo logo depois começei a rir com desprezo.
- Ela quer levar você agora.- Eu sussurrei.
- Era, sou eu, Bryce.- Bryce disse.
Eu ri mais uma vez, mas dessa vez eu parti para cima de Lewis, tentei enforcá-lo e só de pensar na possibilidade de fazer aquilo pra valer as lágrimas desciam mais rápido.
Ele deu conta de me empurrar e começou a xingar, tive vontade de rir mas precisava continuar séria.
- Sabe o que vai melhorar a situação dela?- Lewis finalmente perguntou a Bryce.
- Eu não tenho certeza do que ela tem.
- Você não tem certeza?! Minha irmã está vendo coisas, e acabou de tentar me enforcar, o que acha que ela tem?!
- Esquizofrenia? Faz parte, alguns maníacos tem esquizofrenia, ela se desenvolve em certos infectados, é possível que...
- Cala essa sua boca.- Lewis encostou a cabeça na parede, eu apenas observava encostada na parede.- Eu quero a minha irmã comigo. O que pode aliviar isso?
- Existem remédios, acho que a única substância que conheço é carbamazepina.
- Então vamos achar, você vem comigo Bryce. Utah fica com Erika.
Deu certo, foi mais rápido do que imaginei, os dois saíram e eu finalmente pude ter um pouco de alívio.
Ficar no canto do quarto sozinha sem fazer nada era um desafio, o tempo parecia não passar enquanto eu ficava lá, não haviam passatempos, nada com que eu pudesse me distrair.
Até que depois de muito tempo ouvindo apenas o barulho do ar condicionado ouvi a porta se abrir, olhei para o lugar e vi Utah, ele sorria de um jeito cínico como sempre.
- Qual é a sua?- Ele perguntou, eu ri para disfarçar o nervosismo.- Pode parar com a atuação brilhante Erika, você só não merece um Oscar de melhor atriz porque não me convenceu.- Ele sorriu.- Agora, o que você pretende?
- E se eu disser que não interessa?
- Aí vai estar se metendo em encrenca, obviamente não vou machucar você porque Lewis é um grande amigo...
- Você é um psicopata, não tem amigos.
- Não confunda os surtos com psicopatia Erika. Quer dizer logo?
- Bom, deixa eu esclarecer uma coisa, o que eu faço não te interessa, minhas pretensões não te interessam, resumidamente a minha vida não te interessa! Você não é o meu pai então não enche.- Ele ficou calado mas logo riu.
- Você parece uma típica adolescente indomável, e tem a mente turva como a de uma.
- E você parece o típico cretino egocêntrico que acha que é o centro do universo, acertei? Não espera, você é só mais um nada que acha que é alguma coisa então para de bancar o rei, você é um lixo.- Retruquei ele riu.
- Sem resposta. Parabéns Erika.- Ele disse, revirei os olhos.
Ouvi gritos no corredor.
- Não vá para lá.- Utah disse, ignorei e corri até a porta, abri e vi uma garota deitada no chão tentando impedir uma faca que estava sendo empurrada por um maníaco de entrar em seu peito.
- Para com isso!- Fui até ele, o maníaco me encarou furiosamente, ele tinha uma barba grisalha e tinha os olhos vesgos, olhar para ele me intimidou, mas meus pais sempre me disseram que quando algo te assusta você precisa fazer seu medo ter medo de você.
- Eu sou Erika Sanderson, irmã de Lewis Sanderson, uma líder, você me deve a sua obediência.
Ele riu e chegou mais perto de mim.
- Peguei vocês.- Ele sussurrou, ao ver Utah ele deu uma risada e saiu andando.
Utah veio até mim vorazmente e me agarrou com força pelo braço.
- Sua porca inútil! Não tem ideia do que fez, tem? Disse que me deve obediência e eu mandei você não abrir a porta!- Seus dentes rangiam.
- Eu não devo obediência a ninguém, muito menos a você!- Tentei me soltar mas ele me segurava com força.
- Está brincando com fogo.- Ele ameaçou, eu estava no ápice da minha raiva então descontroladamente cuspi na cara dele, ele me soltou e eu finalmente pude ir até a garota.
Ela estava com um vestido branco e manchado com sangue, sentada no chão, ofegante e parecia desnorteada, como se tivesse sido perseguida e tivesse que correr muito para sobreviver.
- Você está bem?- Perguntei, ela olhou para Utah e para mim.
- Eu vi...você chegar.- Ela disse com dificuldade.
- Perdão o que disse?- Me senti confusa, não entendi as palavras dela.
Antes que ela pudesse falar mais alguma coisa ela desmaiou, tentei segurá-la para que não batesse a cabeça com mais força, ela estava fraca demais.
Usei a força para apoiar o braço esquerdo dela em volta de meus ombros e andei até o apartamento.
- Você não pode salvar humanos e mantê-los aqui, é contra regras da Seita e eu sou o líder.- Utah reclamava.
- Utah, eu estou pedindo educadamente que esqueça nossa briga, vou escondê-la de Lewis. Só até hoje por favor.- Sua expressão era rígida, ele olhou para a garota e depois para mim.
- Não vou ficar prestando favores de graça para você, me deve uma.- Ele entrou, pensei no único lugar do apartamento em que Lewis não entrava: O quarto de Bryce.
Levei a menina até lá e deixei que repousasse sob a cama, fiquei ansiosa pela chegada de Bryce, precisava dizer a ele o que estava havendo.
Liguei o ar condicionado, peguei uma jarra de água para quando a garota acordasse, cuidar dos outros sempre me pareceu tão bonito, mas em minha situação era tudo muito misterioso e as perguntas infindáveis em minha mente pareciam sem resposta enquanto a garota de branco não acordasse.
Eu estava completamente exausta daquilo, quebrar a cabeça para resolver tudo ao meu redor e consolidar as coisas estava sendo difícil, o laboratório, a Seita de Utah e Lewis e agora a garota de branco no corredor.- Que maravilha! Você com certeza é o ser mais sortudo da face da terra Erika!- Pensei comigo mesma e bufei.
Eu não podia ficar lá com ela, precisava voltar ao meu quarto.
Fui para o meu quarto e me sentei no chão suspirando, não sabia o que fazer.
Olhei o quarto inteiro de relance, mas meus olhos se voltaram para baixo da cama em que eu estava dormindo, havia um embrulho de presente que não estava lá antes, fui olhar e peguei o pequeno pacote quadrado (quase retangular), um papel caído no chão me chamou a atenção e resolvi verificar:

Para: Era.

Se conseguiu passar pelo desafio de atuar como uma esquizofrênica, parabéns. Isto é para você, e mesmo que não conseguisse seria para você.

Bryce.

Um sorriso bobo tomou conta do meu rosto ao ler o nome dele, mas isso acabou quando li o verso da folha.

PS.: Eu não sei se vai gostar, mas lembra que é de coração.

Eu dei uma risada fraca e quando abri o pacote rapidamente, era um pequeno broche de âncora, bem delicado, eu simplesmente amei aquilo, não o pendurei na minha blusa por receio que Lewis reparasse quando chegasse; então o coloquei dentro do bolso da minha blusa.
Eu esperei por um bom tempo, até cochilei esperando sentada, até que finalmente ouvi as vozes deles, fiz a cara mais péssima que podia e ouvi a porta se abrir.
- Erika?- Lewis chegou caminhando até mim devagar com uma pílula e um copo de água nas mãos, joguei a cabeça para o lado ao olhar para ele.
Ele se ajoelhou e me deu o que tinha em mãos.- Precisa tomar, consegue fazer isso?- Ele perguntou.
- Não estou morta.
Olhei para o remédio com receio, eu não havia perdido a sanidade mas Lewis estranharia se eu não tomasse.
Tomei rapidamente, ele sorriu.
- Você vai melhorar, ok?- Ele disse e saiu, logo depois Bryce entrou.
- Bryce!- Me levantei apressada e o abraçei, ele riu.
- Estava com saudades é?- Ele ironizou.
- Na verdade, temos um problema...

Morbo: O começo_ Livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora