Encontro

186 26 3
                                    

(Chicago; Data: 10/07/2023)

Lewis e Utah estavam enchendo minha paciência, como sempre faziam, eu tinha que sair para dar voltas pela cidade quase todos os dias e acabei descobrindo segredos que Chicago esconde.
Ninguém pode simplesmente me prender como prendem um animal indefeso em uma jaula, eu sou independente e se me conhecessem de verdade saberiam quem eu sou.
Odeio todo esse caos que eles chamam de "mundo real".
- Erika?- Vi Bryce correndo em minha direção ao me virar.
- Eu esqueci alguma coisa?- Perguntei.
- Não. Na verdade Lewis queria que eu te desse isso aqui, não pergunta, nem eu sei como ou onde ele arranjou isso mas ele disse que precisa de proteção.- Ao dizer isso ele tirou uma arma de uma sacola que ele carregava, uma Magnum 44, para ser mais exata. Eu não sabia se estava carregada mais quando se trata de Lewis eu não duvido de mais nada.
Segurei ela e a observei por um tempo, Bryce quebrou o silêncio:
- Sabe atirar?- Ele perguntou.
- Nunca atirei. E estou convicta de que posso aprender,  mas agora não é a hora mais apropriada.- Guardei.- Então em caso de emergência você atira para mim.- Ironizei.
- Vai sobrar pra mim é?- Ele sorriu.
- Claro, o escravo de maníacos aqui é você.- Dei de ombros como se não ligasse, mas logo sorri.- O que mais tem nessa sacola?- Perguntei enquanto andávamos.
- Comida, caso a gente fique com fome, tem cookies e suco de laranja. Lewis disse que é do que você gosta então comprei.
- Foi mesmo Lewis que te mandou aqui?- Perguntei, ele deu um sorriso e pareceu envergonhado.
- Por que não seria?- Ele disse sarcásticamente, abri um sorrisinho e disse:
- Vamos.
Chicago é tão grande que parece querer engolir você, quando eu tinha sete anos e me mudei para cá me lembro do medo que senti do aeroporto, de todas aquelas pessoas andando para lá e para cá naquele lugar enorme; agora a sensação é quase a mesma, mas sem todo mundo ao meu redor, com carros pegando fogo e janelas de casas se quebrando e gritos por toda a parte.
Era tudo muito confuso para mim, ainda desejava todos os dias estar em coma tendo um pesadelo e acordar a qualquer momento, penso nessa possibilidade todos os dias.
Ainda existiam poucos humanos, jornais pararam de funcionar então não posso fazer muita coisa para me manter atualizada, tudo o que temi foi que meu irmão se envolvesse nisso e uma parte de mim sabe que ele é um assassino frio e cruel, mas a outra parte insiste em pensar que ainda somos irmãos.
Eu andava por quilômetros em silêncio ao lado de Bryce, quando eu senti algo bater em meu ombro de súbito e caí no chão, um homem encapuzado havia esbarrado em mim. Por alguma razão fiquei com muita raiva.
- Olha por onde anda!- Exclamei me levantando, ele apenas passou direto, não costumo sentir raiva por essas pequenas coisas mas fiquei cheia dela por isso, dei uma olhada para Bryce e fui atrás do homem.
- Tá me escutando palhaço?- Peguei ele pelo capuz e o empurrei contra uma parede.
- Erika!- Bryce veio até mim e me segurou.- Chega, vocês só se esbarraram.
Respirei fundo e olhei para o homem que mesmo depois do que fiz parecia tranquilo, mesmo assim ele lutava para esconder o rosto e a pancada na cabeça parecia ter doído mais do que eu esperava que doesse.
- Você é humano?- Perguntei, não obtive resposta, ele apenas passava a mão pela cabeça sem levantar o olhar.
Minha curiosidade me fez abaixar um pouco para que eu pudesse ver seu rosto, não demorou muito para que eu o reconhecesse, ele era o cientista que criou a morbo. (Não me lembrava do nome dele) Por causa dessa doença meu irmão era uma máquina de matar ambulante. Mas se ele fez aquilo ele podia nos curar.
Peguei a arma da sacola e apontei para ele.
- Vem comigo, agora!- Ameaçei.
- Erika, o que você está fazendo?! Larga essa arma.- Bryce disse.
- Vai fazer o que? Vai me matar? Você nem destravou a arma para começar.- O cientista finalmente disse, ele tinha razão, me senti estúpida e bufei.
- Certo...eu preciso de ajuda.
- Você ao menos conhece esse cara?- Bryce sussurrou.
- Eu sei o que eu estou fazendo.- Sussurrei para ele.
- Tenho cara de instituição de caridade?- O cientista perguntou.
- Não seja grosseiro. Se você fez isso pode consertar não pode?- Perguntei.
- Não pude consertar nada, eu não consigo. Aliás você é maníaca, o que faz com um humano? Deveria estar por aí tocando o terror como vocês fazem.
- Eu não quero ser assim, não quero mais que meu irmão seja assim, quero meu irmão de volta. Ele ainda é minha família apesar de ser um dos piores dessa cidade. Por favor.- Implorei, o cientista respirou fundo.
- Não consigo.
- Tem que tentar! Fez um inferno na vida de muita gente e não quer nem tentar consertar? Tenha compaixão.- Pedi mais uma vez, ele pensou por um tempo.
- O que quer que eu faça?- Ele perguntou, senti uma imensa felicidade.
- Por enquanto, me acompanhe.- Eu me levantei e o guiei, sabia exatamente para onde iríamos, encontrei um laboratório escondido em um dos becos que foi construído por Utah.
- Confia no cara?- Bryce sussurrou enquanto abria a porta.
- É minha chance, não ao certo sei se posso confiar nele mas é necessário.- Respondi.- Bem, esse é o laboratório que eu mencionei, fique à vontade para...sei lá tentar fazer  a cura.- Eu disse.
- Vai me deixar preso aqui?- Ele perguntou em tom de desprezo, olhando cada detalhe ao nosso redor.
- Na verdade, seria muito previsível, então não vou. Até porque você deve ter uma família para proteger com toda essa situação.- Ele olhou para nós com seriedade.
- Pode parar de fazer perguntas ou coisa assim? Sua voz é irritante.- Ele disse, me senti ofendida.
- Pode parar de ser escroto e conversar normalmente?- Bryce rebateu.
- Escutem, se precisam mesmo da minha ajuda vão ter que me dar espaço e vão ter que confiar em mim se quiserem entregar a saúde da garota na minha mão.
Respirei fundo, eu e Bryce nos entreolhamos.
- Voltaremos amanhã no mesmo horário e seria bom se estivesse aqui. A propósito, tenho nome, me chamo Erika Sanderson.- Eu disse e dei uma cotovelada em Bryce.
- Bryce Deering.- Ele disse, quando Bryce disse o nome o cientista se virou e o encarou por um tempo.
- Cypress, é meu sobrenome e é só o que precisam saber.- Ele disse.
- Ok. Bom...tchau e espero que consiga, ah e obrigada por ajudar.- Eu disse e finalmente saímos daquele lugar.
- Definitivamente, não fui com a cara dele.- Bryce confessou, quando ele diz algo grosseiro ele tenta dar um sorrisinho para não parecer tão grosseiro.
- Pelo jeito que ele olhou para você?
- Não foi só para mim, foi para nós dois. Sei lá acho que ele não curte humanos, muito menos maníacos.
- Por isso mesmo preciso da cura, depois que eu voltar a ser humana posso ajudar os outros e ninguém vai me julgar.- Eu disse, ele apenas assentiu sorrindo, às vezes ele perde a concentração e fica sorrindo para mim, mas eu gosto disso.
- Erika?
- Oi?
- Não acha que tem possibilidade de ele ter criado essa doença por querer?
Pensei um pouco e esse pensamento me trouxe uma insegurança imediata, mas eu tinha que ter um pouco de fé se eu quisesse ser humana de novo.
- Pode ser, mas eu não vou hesitar em ir de cabeça nisso, é da minha humanidade que estamos falando.
Ele riu.
- Só espero que sua intuição de maníaca esteja certa.- Ele ironizou.
- Eu espero que tudo dê certo, espero de verdade...

Morbo: O começo_ Livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora