Promessas

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(Texas; Data: 24/ 07/ 2023)

Apesar de tudo meu pai conseguiu se controlar, finalmente, e tenho a impressão de que não vamos mais nos preocupar com a situação da morbonervosi nele, já que ele está estável.
As brigas entre ele e minha mãe diminuiram e aos poucos tudo volta ao normal, bem, quase. Temos que manter as portas trancadas e bloqueadas com móveis pesados, meu pai colocou grades nas janelas para que ninguém conseguisse entrar em casa, só mantemos as portas apenas trancadas de dia porque o risco é menor, até onde sabemos o interior do Texas não é tão arriscado quanto as cidades grandes, mas o que eu sei é assustador.
A maior parte das cidades de todo o planeta está repleta de maníacos, os humanos se escondem porque tem medo, ouvimos boatos de que alguns deles raciocinam mas não tenho certeza se é verdade.
Tudo o que sei é que não devo confiar muito nas pessoas, por mais que minha mãe insista em acreditar na bondade, eu perdi as esperanças na bondade quando meu pai foi infectado por aquele maníaco.
- Socorro!!!- Uma voz masculina desconhecida gritou, parecia vir do lado de fora da minha casa, abri as janelas de meu quarto e olhei discretamente entre as frestas da grade. Havia um homem, eu não consegui ver se ele era maníaco ou não, o nariz dele sangrava, assim como os ouvidos, eu tive compaixão, não sou um ser desalmado, mas eu também não podia deixar minha família correr riscos.
Ele continuava pedindo socorro, então resolvi descer, fechei a janela e desci as escadas correndo.
Ao chegar vi minha mãe abrindo a porta devagar, havia um canivete no bolso da calça dela, meu pai estava logo ao lado dela.
- Por favor me ajudem. - Ele disse.
- O que houve?- Minha mãe perguntou.
- Não encoste, eu estou contaminado, apenas me ajude.- Ele disse.
- Fique calmo, venha eu vou te ajudar.- Meu pai disse, eles saíram, provavelmente estavam indo ao celeiro, dava para ver as manchas de sangue no chão.
- Isso é loucura.- Eu disse, minha mãe se virou para mim.
- Kimberly?
- Fala sério, nem sabem como ele entrou aqui e vão ajudá-lo? E se ele for um assassino?
- Filha, seja lá o que ele for está em uma situação pior que a nossa.
- Mas mãe, estamos no meio de uma epidemia!
Ela respirou fundo e veio até mim.
- Sei que isso assusta você e Garry, mas você não pode perder o amor que mora em você Kimberly, promete que nunca vai negar ajuda a alguém que precise mesmo que pareça loucura?
- Não posso prometer uma coisa dessas mãe, não faz sentido.
Ela sorriu.
- Um dia você vai entender como isso pode ser bom para você Kim...

(Chicago; Data: 24/ 07/ 2023)

- Por que uma floresta pai?- Perguntei.
- Uma floresta é um bom lugar para se esconder desse caos Aaron.
- Mas podem ter mais maníacos aqui do que em qualquer lugar, nunca viu nada parecido em algum filme? Tá na cara que a gente vai morrer aqui!
- Cala essa boca moleque, ninguém vai morrer aqui, eu sei o que estou fazendo.
Bufei.
- E o que quer me mostrar?
- Uma coisa Aaron, por que faz tantas perguntas?
- Você nunca responde mesmo.- Rebati, meu pai respirou fundo e continuamos caminhando, ele me levou a uma floresta, era ridículo, parece um filme de terror qualquer em que tudo de ruim se concentra na floresta, e sempre procuram a floresta, qual o problema com florestas?
- Meu bebê.- Ouvi uma voz dizer, meu pai ficou alerta, ouvíamos os passos nas folhas secas, peguei uma pistola que meu pai havia me dado.- Cuidado.- Ouvimos uma risada, controlei meu medo e me concentrei.
Olhei para todos os lados, até que ouvi o barulho de uma árvore rangendo e subitamente senti um peso enorme em cima dos meus pés, primeiro eles começaram a doer quando percebi dei de cara no chão.
- Aaron!- Meu pai correu até mim, olhei para trás e vi uma parte de um tronco em cima do meu pé, eu tentei me arrastar e até consegui por um momento mas não consegui mais, meu pai tentou tirar o tronco e quando o mesmo começou a se mover uma maníaca pulou em cima dele com uma faca.
- Pai!- Gritei, ela começou a rir enquanto tentava cravar a faca na garganta dele, ele segurava as duas mãos dela mas os dois pareciam ter a mesma força.
Eu precisava pensar rápido, tentei me soltar mais uma vez, até que virei minha cabeça para o lado e vi minha arma, eu estiquei meu braço o mais longe que pude e consegui pegá-la.
Me virei para trás, meu pai continuava aguentando firme mas ela parecia ter vantagem.
Se eu atirasse nela meu pai poderia ser infectado com o sangue, então eu retirei as balas para não correr o risco de atirar sem querer, olhei para os dois, esperei ela ficar completamente parada e joguei a arma na cabeça dela, ela se distraiu e meu pai conseguiu tomar a faca da mão dela e cravá-la na cintura dela.
Ele se levantou correndo enquanto ela caía e me puxou para me ajudar a sair, eu mal sentia meus pés, ele colocou meu braço em volta no ombro dele e saímos andando.
Demorou muito, minhas pernas doíam, mas chegamos perto de um rio.
Não sabia exatamente se havia quebrado o tornozelo ou coisa do tipo e isso me deixava preocupado porque se eu mal pudesse andar como eu iria lutar contra uma multidão de maníacos, ou pelo menos com um deles?
Meu pai começou a desenterrar alguma coisa com as mãos em um monte de terra.
- Escondeu comida ou seja lá o que for debaixo da terra?- Perguntei, ele riu.
- Tenta descobrir garoto.
Começei a ficar curioso, tudo era tão quieto naquele lugar, na cidade as coisas são diferentes, não importa se você tenta se esconder em um prédio, em um supermercado, maníacos sempre se escondem melhor do que você.
Eles matam humanos porque gostam disso, é que nem caçar um animal, por isso eles se escondem, são bons estrategistas, quando você chega e pensa que tudo está bem, eles aparecem.
Quando olhei para meu pai de novo ele havia conseguido desenterrar uma parte de alguma coisa que parecia cobre.
Esperei por mais um tempo, quando ele finalmente terminou eu fiquei parado olhando.
- É uma escotilha.- Ele falou depois de algum tempo.
- Tipo em "Lost"?- Perguntei, ele deu risada.
- É, mais ou menos como em "Lost".
Ele girou algo que parecia ser um volante, e aquilo abriu, havia uma escada que dava acesso a um abrigo subterrâneo.
Meu pai me ajudou a ir até a escada, tentei descer mas forçar meus pés ainda doía, então tive que descer com ajuda.
Era estranho, tinha água corrente, e até um banheiro, mas não havia chuveiro, tinha uma cozinha com estantes e um fogão pequeno e um quarto com duas camas, parecia uma casa primitiva e bem pequena; fazia muito calor mas não importava, desde que pudessemos nos esconder tudo daria certo.
- Aaron, se algum dia alguém precisar de ajuda você ajuda entendeu? Só não esqueça que às vezes é necessário fazer coisas ruins para sobreviver.
Não se apegue a ninguém, não confie em ninguém, lute com a sua vida. É assim que vai sobreviver.- Meu pai me disse, eu sabia o que precisava fazer para fixar vivo.- Jura que vai ficar vivo até o final dessa doença? Mesmo que só acabe quando você tiver trinta anos?- Ele me perguntou.
- Eu juro pai, eu vou ser um dos sobreviventes...

Morbo: O começo_ Livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora