(Chicago; Data: 28/06/2023)
"Doença nomeada como morbonervosi se espalhou por várias cidades americanas por transporte aéreo. Inclusive Chicago.
A ONU não protege mais os infectados e o governo tem autorização para matar os "maníacos".
O presidente Jeremy Gavin alega incompetência da parte do Laboratório Cypress e diz que não tem nada a ver com o que está havendo e que fará o possível para conter a doença."Era só o que se lia nos jornais e se via nos telejornais.
Aquela doença me assusta e eu não costumo me assustar com coisas assim.
Vi meu irmão passar bem arrumado pela sala e ir até a porta.
- Espera aí Lewis, aonde você vai?- Perguntei, ele estava tão distante e eu me sentia horrível.
- Primeiro vou dar uma volta, depois chamo os nossos pais.- Ele respondeu.
- Vem cá, você tá usando drogas? Seu retardado. Estamos no meio de uma epidemia séria e você quer "dar uma volta"?
- Erika, eu preciso espairecer, ou prefere que eu fique trancado no quarto o dia inteiro?
- Prefiro, agora eu prefiro. Não ouviu falar dos maníacos? São perigosos.
- Me poupa dessa sua baboseira Erika, sou seu irmão, não seu filho.- Sem dizer mais nada ele abriu a porta e saiu, me senti muito irritada, bufei e voltei para o sofá.
Minha bolsa caiu no chão e vi o papel com o número de Bryce nela. Pude ouvir a voz dele perfeitamente dizendo: "Se precisar de um amigo, pode me ligar e se eu for um serial killer ou um estuprador tem autorização para me dar um tiro."
Pensei um pouco sobre a ideia de ligar para ele, mas eu não tinha amigos e eu estava sozinha, precisava de pelo menos uma pessoa comigo enquanto Lewis agia como um idiota.
Finalmente peguei meu celular e disquei.
- Erika Sanderson?
- Como sabe que sou eu?
- Ninguém mais me liga hoje em dia, queria ter certeza de que seria você.- Ele riu.
- Você é um otário.- Eu ri.
- Tudo bem? Acho que não ligaria se não precisasse de um amigo.
- Não mesmo, mas o importante é que resolvi confiar em você.
- Você parece chateada.
- E estou.
- Não quer vir para cá? Sei que estamos com maníacos na cidade mas garanto que pode confiar.
- Acho que vou levar meu revólver.- Ele riu.
- Ok, moro no edifício Buckinghamshire, o número do meu apartamento é 233, se pesquisar no GPS acho que o encontrará.
- Ok, estou indo pra aí.
- Tá, até daqui a pouco.
- Até, Bryce Deering.- Sorri e desliguei.
Demorei algum tempo para me arrumar e mais um tempo para chegar lá, obviamente fiquei insegura e desconfiada quando bati na porta do apartamento, o porteiro nem me questionou tanto.
Assim que ele abriu a porta senti que meu coração iria parar por alguma razão.
- Você veio.- Ele sorriu.
- Não vai me convidar para entrar?- Ironizei.
- Acho melhor você ficar aí.- Ele entrou na brincadeira.
- Palhaço.- Cruzei os braços e ele se afastou para que eu pudesse entrar.
O apartamento dele era muito bem organizado, me senti confortável.
- Está com problemas?- Ele perguntou.
- Você nem imagina quantos...(Manhattan; Data: 28/06/2023)
Eu tive que fazer escândalo com meu chefe e fui demitida, as pessoas tem medo da garota cuja irmã é uma infectada.
Estava cada vez mais preocupada com Nelly. Ela comia pouco, estava distante, como se tivesse medo de nos machucar.
A doença já vivia em Manhattan e em outros estados, manifestações para que os infectados fossem mortos tomaram várias cidades e a ONU cedeu.
Julie chorava todo dia, deve ser horrível viver com esse peso, ver alguém que você ama tanto se distanciar só por medo. Ela ficou mais antissocial na escola e passou a desconfiar dos colegas.
Ela passou a se trancar no quarto o dia inteiro, eu ouvia o choro de Nelly às vezes quando passava pelo quarto dela, mas não me atrevia a abrir a porta.
Protegê-la dos radicais que queriam a morte dos maníacos não estava sendo fácil, nos mudamos e vivíamos escondidas, barulhos de tiros nas ruas se tornaram constantes.
Todos sentiam medo, inclusive eu.
Meu pai disse que minha mãe estava abatida com a notícia de Nelly.
- Mamãe está em casa?- Julie perguntou.
- Está.- Respondi, eu tinha acabado de buscá-la na escola.
- Ela está bem?
- Não sei Julie. Não nos falamos antes de eu vir aqui.
- Tenta falar com ela tia Nancy, mamãe está tão estranha, e vocês são irmãs.- Ela disse, um aperto no peito tomou conta de mim.
- Falo com ela assim que chegarmos.- Eu disse, dirigi até nossa nova casa, era bem pequena mas dava pro gasto.
Julie tinha razão, não se passou um dia sem que eu me preocupasse com minha irmã desde que ela foi infectada e aquilo chegava a doer.
Tomei coragem e fui até a porta dela, bati na porta.
- Nel? Precisamos conversar.- Como imaginei, não obtive resposta.- Você não sai desse quarto há tanto tempo, deixa eu te ajudar...Nelly, somos irmãs, eu vou entender o que me disser e não vou te julgar, só me deixa falar com você.- Eu dizia, e tudo que eu dizia parecia ser em vão.- Nel, se você não abrir a porta eu mesma abro.- Eu aumentei o tom, e mesmo assim não obtive resposta.- Que se dane.- Resmunguei e resolvi abrir.
Foi naquele momento que eu preferi não ter abrido a porta, haviam coisas quebradas e Nelly estava com os olhos abertos, os pulsos cortados, havia uma poça de sangue no chão e uma faca na mão dela, o cheiro do quarto era horrível e mesmo assim eu não queria acreditar.
- Nelly?!- Cheguei mais perto com todo o cuidado para não encostar no sangue, só percebi que minha irmã tinha realmente se suicidado quando vi uma mensagem escrita com a letra dela em um papel, eu não cheguei a ler pois começei a chorar.
Parte de mim pareceu morrer quando vi aquilo, eu me senti tão culpada por ter deixado ela ir comigo, e a dor que eu sentia estava me corroendo.
Peguei meu celular e liguei para a polícia, contei o que havia acontecido entre as lágrimas, eu nunca imaginei que parar de chorar pudesse ser tão difícil.
Eu não pude me despedir, não pude impedir nem pude dizer para ela o quanto ela faria falta e aquilo me doía mais ainda.
Voltei para o quarto em que ela estava e me assustei, Julie estava chorando e abraçada com Nelly, completamente suja de sangue.
- Tia Nancy?
- Ai meu Deus Julie...(Chicago; Data: 28/06/2023)
Bryce (ao contrário do que pensei sobre ele à primeira vista) foi gentil, ele entende você e não te julga, é um bom amigo, mas se tem uma coisa que aprendi nessa vida é que deve-se confiar desconfiando.
Ele me ofereceu carona até minha casa e eu aceitei, ele é bem tagarela mas gosto disso nele.
Chegamos na minha casa e pensei: "Finalmente eu vou poder descansar ou coisa do tipo."
Embora eu tivesse lembrado que Lewis queria trazer nossos pais o meu descanso não veio...
A casa estava completamente iluminada e uma música alta tocava, abri a porta e vi Lewis de costas no sofá, o cheiro de álcool entrou por minhas narinas e aquilo me incomodou.
- Deveria beber no seu quarto.- Eu disse, ele não me respondeu.- Chamou nossos pais?- Perguntei.
- Chamei.- Ele respondeu.
- Aonde estão? Quero ver eles. Mãe? Pai?- Chamei animada.
- Cala a boca garota, estão no quarto de visitas.- Ele disse com frieza, mal me importei, eu só queria vê-los.
Fui até o quarto de visitas mas quando eu cheguei lá fiquei sem reação.
Eu não conseguia gritar, nem chorar, nem nada, eu só olhei.
Haviam facas cravadas nos corpos deles, eu fiquei completamente sem reação.
- Um dia você se acostuma.- Lewis ficou do meu lado, depois de muito silêncio eu consegui tomar fôlego.
- Você...fez isso?- Perguntei, olhei para ele e vi que os olhos dele estavam de um verde que chegava a faiscar.- T-Tá contaminado?- Gaguejei, ele sorriu como se fosse tudo brincadeira.
- Um maníaco qualquer atacou o bar em que eu estava, ele matou alguns mas por sorte, só fui infectado, a doença afeta alguns mais rápido que outros, sabia?- Ele perguntou, eu não conseguia falar nada.- A primeira coisa que fiz foi me vingar da piranha da Kendra, mas os impulsos...eu queria mais...
- Vai me matar?- Perguntei enquanto olhava discretamente para um bastão de beisebol na estante.
- Não quero te matar, seria injusto, esteve comigo esse tempo todo, sempre foi minha irmãzinha querida.- Ele disse, eu agarrei o bastão rapidamente e ia dar um golpe na cabeça dele mas ele segurou o bastão, parecia bem mais forte do que antes. Não era meu irmão...
Após ele conseguir tomar o bastão de mim fiquei atordoada por um bom tempo, pois ele me espancou com aquele bastão até o sangue cair nos meus olhos e fazê-los arder.
Quando eu estava quase inconsciente, ele pegou um vidro cheio de um líquido vermelho, era sangue, eu estava tão fraca para tentar me mover, então aquele sangue maldito caiu em mim, e eu não pude fazer nada...
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Morbo: O começo_ Livro 4
Science FictionEu acredito em destino. Acredito em muitas coisas, para ser sincera; mas não há nada mais relevante do que: "Tudo tem um começo, um meio e um fim". Por três vezes a mesma epidemia mundial da mesma doença castigou a humanidade, a contaminação era ráp...