(Nova York; Data: 18/06/2023)
- Os cobaias tiveram variações no humor, mas nada tão grave, após aperfeiçoarmos a fórmula temos quase noventa e nove por cento de certeza de que vai funcionar.- Afirmei, nunca pensei que pudesse ser tão confiante, eu estava dando uma entrevista a alguns repórteres.
- E quando acha que poderá ser usado?- Um dos vários repórteres me perguntou.
- Em um futuro próximo, garanto. Daqui a dois dias nós vamos sortear um cidadão de Nova York para ser o nosso cobaia no experimento humano do M18, se tudo correr bem depois dos testes o M18 já poderá ser usado.- Eu disse e entrei no carro, um bando de caras com microfones e gravadores de fazendo perguntas, isso nunca foi agradável.
Ouvi meu celular tocar e achei que fosse minha mulher mas o número era desconhecido, eu não sabia quem era mas atendi.
- Alô?
- Doutor Cypress?- Reconheci a voz no mesmo instante.
- Presidente Gavin?
- É, desculpe por ligar tão repentinamente mas como sabe temos um acordo e preciso tratar de certos assuntos com sua pessoa e não posso mencionar nesta ligação.
Não quero que fique assustado mas mandei um de meus homens hackear o GPS do seu carro, ele vai te levar até um café, e estou neste lugar.- Ele explicou.
- Tudo bem.- Eu disse após hesitar.
- Estou esperando doutor Cypress.
Obviamente fiquei com aquilo na cabeça durante o resto do percurso, quando parei em frente ao café quase vazio eu desci do carro e entrei, ele não queria que o reconhecessem, usava um boné de um time de beisebol e roupas casuais, caminhei até a mesa nervoso.
- Senhor presidente?- Perguntei em voz baixa.
- Pode me chamar de Jeremy, doutor Cypress, posso te chamar de Emmett?- Ele perguntou.
- Claro.- Me sentei ainda nervoso.- Por que me chamou aqui?- Indaguei.
- É sobre o M18.- Ele disse.
- Alguma dúvida quanto ao projeto?- Dei de ombros.
- Não, os esclarecimentos dos jornais bastam, eu só queria lhe informar sobre um outro projeto, mas este é confidencial e suponho que ele diz respeito a você.- Ele explicou.
- Que projeto?
- Emmett, você tem feito um trabalho excelente, porém ambos sabemos que o soro não vai trazer apenas benefícios para o mundo.
- Como assim?
- Assim que usarem o M18 ficarão mais rebeldes por terem melhorado suas capacidades cognitivas e esse é o problema, quem vai querer seguir as leis se poderão fazer justiça com as próprias mãos? Por mais que você negue, não há como contestar que as pessoas tem um fraco pela ideia de que fazem a coisa certa mesmo que isso signifique fazer mal.- Ele disse, concordei.- O nome do meu projeto é Mastership, está tudo nesse dossiê.- Ele me entregou a pasta, estava escrito: Confidencial.
Gelei só por escutar tudo aquilo e ler aquela palavra, abri o dossiê e começei a ler atentamente cada parágrafo.
Tudo o que li foi atrocidade, terapia de choque para quem desobedecesse as leis, pena de morte para quem desafiasse o presidente, tudo fazia como se vivêssemos em uma sociedade que nos priva de tudo como uma ditadura ou como um mundo distópico de filmes ou livros de ficção científica.
E a pior parte era que eu tinha que assinar um documento que submeteria a mim e a equipe do meu laboratório à criação de antídotos para quem descumprisse leis, quem descumprisse seria privado de todos os benefícios do M18 e eu tinha que fazer um chip para controlar pessoas através de suas ondas cerebrais.
- Isso é desumano! E é loucura, não posso aceitar.- Empurrei o dossiê.
- Talvez eu não tenha sido tão persuasivo Emmett. Recusar a minha oferta é uma burrice sem tamanho.- Ele deu um sorriso tão falso que quase pude sentir o cinismo no ar.- Ou você aceita a minha proposta ou vai viver foragido e isso não é bom para as crianças, é?- Ele perguntou.
- Do que você está falando?- Perguntei, ele pegou um papel.
- Havanna Cypress: Doutora em direito, advogada, fala espanhol e latim fluentemente, tem vinte e sete anos.- Ele me mostrou uma foto da minha esposa com minha filha no Central Park.- Ela é bem bonita não é? Parabéns Emmett.- Ele disse, se ele não fosse o presidente eu daria socaria muito a cara dele, costumo ser bem calmo mas tudo tem limite, ele apenas continuou:
- A garotinha é Hortensia Cypress: apenas sete anos e vencedora do show de talentos da sua escola no ano passado, ela tem uma voz e tanto não é?- Ele disse.
- Já acabou?- Eu disse tentando manter o controle.
- Acha que seria bom para elas que o pai e marido fosse preso por desacato?- Ele perguntou.
- Desacato seria se eu te chamasse de sádico, é o que estou com vontade de fazer.- Rebati.
- Eu posso fazer coisas bem ruins com a sua família sabia? Não vai ceder mesmo Emmett?- Ele desafiou, o que ele propôs é totalmente imoral, mas envolver minha família nisso seria pior.
- Tem uma caneta?- Perguntei me sentindo derrotado, ele sorriu.
- Foi o que pensei.- Ele me disse entregando-me uma caneta, peguei os papéis e assinei.- Lembrem-se Emmett, isto é confidencial, se alguém além da sua esposa e da equipe do seu laboratório ficar sabendo sua assinatura não será válida, fui claro?- Ele perguntou, empurrei os papéis para ele novamente.
- Sim, acho que encerramos por aqui.- Eu disse.
- Boa noite Emmett.- Ele disse.
- Boa noite.- Eu disse frio e saí do café, quando entrei no meu carro começei a socar o volante, eu sentia tanta raiva, só precisava da minha casa.
Dirigi rapidamente até a minha casa, o fluxo do trânsito não colaborava e isso me deixou ainda mais irritado.
Cheguei em casa exausto depois de um tempo em um congestionamento.
- Emmett, é você?- Ouvi minha esposa perguntar e ela apareceu no corredor.
- Sou eu.- Eu disse.- Cadê a Horty?- Perguntei.
- Dormindo.- Ela respondeu.- Emmett, você demorou muito, fiquei preocupada. Aconteceu alguma coisa?- Ela perguntou, respirei fundo.
- Aconteceu sim.- Confessei.
- Pode me contar? Está com uma cara péssima.- Ela disse, atravessei o corredor e ela me acompanhou, fui para a sala e me sentei no sofá, Havanna é sentimental e preocupada demais, mas isso não a impede de ser forte.
- O presidente Gavin veio para Nova York para conversar comigo...- Eu disse.
- Mas isso é bom, não deveria estar feliz?- Ela franziu a testa.
-...Não Havy, ele queria conversar sobre um projeto chamado Mastership, um projeto que quer nos controlar através de chips e conter as pessoas depois que usarem o M18, eu tive que submeter meu laboratório a esse projeto.- Expliquei, ela parecia surpresa mas não de uma forma boa.
- Por que fez isso Em?- Ela perguntou.
- Ele ameaçou me colocar na cadeia e fazer mal a vocês.
- Mas eu sou advogada, eu poderia te defender no tribunal.
- Havanna, sei que se formou em direito mas não é assim que a justiça funciona, a justiça de hoje em dia está do lado dos mais poderosos.- Eu disse.
- Não precisava ter feito isso Emmett.
- Eu precisava proteger vocês duas!- Me exaltei por um instante, Havy ficou em silêncio me encarando, me acalmei.- Eu não posso deixar que façam mal a vocês, vocês são meu mundo.- Eu disse, ela me abraçou.
- Isso não vai ficar assim Emmett, as coisas vão melhorar.- Ela disse.
- Acha?
- Tenho certeza.
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Morbo: O começo_ Livro 4
Fiksi IlmiahEu acredito em destino. Acredito em muitas coisas, para ser sincera; mas não há nada mais relevante do que: "Tudo tem um começo, um meio e um fim". Por três vezes a mesma epidemia mundial da mesma doença castigou a humanidade, a contaminação era ráp...