Sedentos Por Vingança

200 27 0
                                    

(Nova York; Data: 03/07/2023)

O velório de Havanna e Hortensia foi simplesmente a experiência mais dolorosa pela qual já tive que passar.
Cada hora em que eu lembrava que elas se foram era uma tortura sem fim.
Paris ficou do meu lado o tempo todo como a boa amiga que era, pedi para ela verificar aonde Utah Deering Ironton vivia. Eu me tornei outra pessoa depois da morte delas, queria matar o cara sem dó e fazê-lo sofrer muito pelo que fez.
O mundo me odiava. Achavam que eu merecia.
Mais da metade dos Estados Unidos foi infectada com a morbonervosi, as ruas eram mais silenciosas, a imprensa começou a se limitar, tiros e explosões eram frequentes, e de noite os gritos que se ouviam causavam insônia e agonia, a cada dia mais países e mais pessoas se contaminam. Isso é o apocalipse.
Acho que se tudo estivesse tomado por zumbis tudo seria bem mais fácil; mas eles não são zumbis, são mais, são pior do que qualquer coisa que já se tenha visto, piores que a própria humanidade. Mas só o que podemos fazer é lutar contra nossa realidade.
- Emmett?- Paris trouxe duas xícaras de chá nas mãos, parecia preocupada.
- Descobriu algo?- Perguntei, ela assentiu.
- Olha Emmett, sou sua amiga e vou avisar pela quinta vez que isso pode ser arriscado.- Ela disse.
- Eu não tenho mais medo de morrer.- Eu disse convicto de que era aquilo que eu queria, Paris respirou fundo.
- Utah Deering Ironton, administrava uma oficina antes da epidemia, ele vive em Chicago atualmente e não tinha ficha criminal até...você sabe, é só o que achei sobre ele.
Cogitei sobre a possibilidade de ir para Chicago, e eu me sentia obrigado a ir.
- Vou comprar uma passagem para Illinois.- Anunciei.
- Se é o que quer não vou julgar. Não acho errado, só espero que fique bem.
- Boa sorte, para você e para sua irmã. Vão precisar.

(Chicago; Data: 03/07/ 2023)

Lewis me contou que ele e Utah fizeram um acordo para liderar os maníacos juntos, eles tinham influência, eu não podia negar, mas eu não queria aquela vida.
Na verdade, eu não queria nem olhar para a cara do meu irmão hipócrita e vil, queria ficar em um hotel ou coisa do tipo mesmo que corresse o risco de ser morta por humanos. Todavia, Bryce queria que eu ficasse no apartamento dele pois não queria que eu corresse riscos.
Então fiquei.
- Eu podia esfolar meu irmão. Mas não consigo...não sou como ele.- Eu disse enquanto tentava me aquecer com um cobertor.
- Sabe que não precisa ser, vingança é desnecessária.- Bryce disse enquanto se sentava ao meu lado e me entregava uma xícara de chocolate quente.
- Não totalmente.- Rebati.
- Sei como é se sentir assim, desde que a namorada de Utah morreu ele tem se comportado de jeito estranho, quando descobri que ele espalhou a doença foi horrível, mas quando você me ligou tudo melhorou.- Dei um sorriso tímido.
- Que bom que você conseguiu me aturar, só acho que agora vai ter que me aturar por um tempo.- Ironizei.
- Você nunca foi um problema mesmo.- Ele sorriu, olhei para ele, seu olhar estava fixo em mim, então ele desviou o olhar.- Sabe, é chato não poder te chamar por um apelido, não gosto de ficar te chamando de Erika o tempo todo.- Ele mudou de assunto.
- E como quer me chamar?- Dei de ombros.
- Posso apenas sugerir apelidos.- Ele disse.
- Tipo?
- Eri?
- Não.
- Riri?
- Como a Rihanna? Não. Se quiser me dar um apelido precisa ser mais criativo.- Ambos rimos.
- Deixa de ser chata, eu tô tentando.- Ele disse.
- Tenta mais um pouco.
- Era?- Ele perguntou.
- Era? Que tipo de apelido é esse?- Eu ri.
- Sei lá, é estranho, mas acho que combina com você.- Ele disse rindo.
- Certo, já que você não é nada criativo com apelidos pode me chamar de Era.- Eu disse.
- Ok Era.

(Texas; Data: 03/07/2023)

Eu queria poder ter matado o maníaco que fez isso com meu pai. Queria muito ter dado uma machadada na cabeça dele.
De um dia para o outro tudo pareceu piorar, eu ignorava Garrett porque sentia que a culpa era dele e isso só me deixava com raiva, os olhos do meu pai ainda não estavam verdes, ele começou a falar pouco conosco, minha mãe chorou tanto depois do que aconteceu, mas escondida, só eu a vi.
Minha mãe odiava demonstrar fraqueza em qualquer quesito, puxei isso dela, chorar para nós na frente de alguém está fora de cogitação.
Por isso eu me tranquei no meu quarto e fiquei escutando músicas depressivas e chorando.
Só resolvi abrir a porta quando a minha mãe bateu na porta, eu limpei meu rosto e não ligava para a minha cara inchada e para meus olhos vermelhos.
Abri a porta, assim que minha mãe me viu respirou fundo.
- Filha...podemos conversar?
- Já me fez abrir a porta então...- Fiz um gesto como se a convidasse para entrar, ela entrou e se sentou na minha cama.
- Kimberly, seu irmão está muito triste.
- Não ligo.- Eu disse fria.
- Kim, por favor, sabe que não pode culpá-lo assim, mesmo que a culpa seja dele tem que perdoá-lo. Ele é só uma criança.- Minha mãe disse.
- Mãe, não consigo.
- Consegue. Não seja orgulhosa, sei o quanto Garrett é importante para você e nessa situação é melhor perdoá-lo, porque qualquer momento pode ser tarde demais, entendeu?- Ela disse, entendi perfeitamente o que ela quis dizer, e ela não estava errada.
- Sinto muito.- Eu disse.
- Não é para mim que você deve seus sentimentos.- Ela rebateu, entendi, respirei fundo e saí do quarto.
Fui até a sala onde Garrett assistia televisão.
- Garry?- Eu disse como se fosse pesado dizer esse nome.
- Oi Kimberly.- Ele olhou para mim.
- Sinto muito por ter te tratado daquele jeito. Sério, eu explodi, sabe que eu amo você não sabe?
- Eu te desculpo porque nunca fiquei bravo, somos irmãos, mesmo que a gente brigue isso não muda? Muda?- Me senti tão mal por ouvir aquilo.
- Não Garry, nunca vai mudar.- Dei um abraço dele, eu queria esquecer tudo, e só perdoar o Garry não muda o que se passa.
Como minha mãe me disse, preciso ser forte.

Morbo: O começo_ Livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora