Quando cheguei no prédio com Lewis, todos me olhavam como se eu fosse um alienígena, ficou claro que os poucos que devem ter restado lá não eram muito hospitaleiros com humanos, ainda mais depois do massacre.
Entramos no elevador, Lewis apertou alguns botões e uma caixa de som no teto tocava uma musiquinha extremamente irritante, não conseguia parar de pensar no quanto ele havia sido estúpido, deixei estritamente claro que se algo chocante ou traumático acontecesse a Erika ela poderia ter sequelas que nunca poderiam ser consertadas.
- Você entra sozinho, não quero ouvir a conversa de vocês.- Ele disse.
- Nem deve.- Respondi. O elevador abriu as portas e deixei Lewis ir na minha frente, ele me guiou até uma porta, me senti nervoso ao girar a maçaneta e entrar.
Erika estava no chão ao lado da cama enrolada em um cobertor, seu rosto estava inchado e seus olhos estavam vermelhos, ela sussurrava coisas tão baixo que eu não entendia, era de partir o coração ver ela daquele jeito. Me ajoelhei na frente dela.
- Erika?- Chamei em voz baixa, ela levantou o olhar e ficou me olhando por um tempo, e ao mesmo tempo que os olhos dela marejaram ela deu um sorriso enorme.
- Tio Cypress? Veio me visitar?- Ela perguntou.
- Sim, eu fiquei sabendo que estava mal.- Respondi, as lágrimas começaram a descer, era incrível como os olhos dela estavam vermelhos e inchados.
- Dói muito doutor, bem aqui...- Ela apontou para a cabeça e depois para o peito.-...E aqui.- Ela disse, eu só consegui sentir pena.
- Você vai ficar bem, eu sei que vai, prometo que vai dar tudo certo.- Tentei tranquilizá-la.
- Não, isso dói muito, eu não consigo respirar direito, minha cabeça está pegando fogo e as vozes...elas não me dão paz.
- As vozes não tem poder nenhum se não escutá-las, tente ignorar, por você.
- Isso é culpa minha, e do Lewis, e dos humanos...malditos humanos...isso me deixa com muita...raiva.- Ela riu, eu já estava começando a ficar assustado.- É lindo não é? Sentir o ódio queimando as suas veias e tomando conta de você.- Ela rangia os dentes, eu não fazia ideia de como ajudar mas sabia que precisava manter a calma.
- Não pense muito nisso, só vai deixar tudo pior...tem algo que eu possa fazer para que fique melhor?
Ela riu como se eu tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.
- Ou você me mata e acaba logo com isso, que é só o que eu quero que você faça...ou você me dá um abraço pra aliviar esse peso todo.- Ela disse, eu nunca gostei de contato físico exagerado mas ela precisava então eu abraçei ela, parecia que ela não ia me largar nunca mais.
- Não vai embora tio Cypress, preciso de você aqui.- Ela choramingou, eu odiava saber que ela estava destruída daquele jeito.
- Não vou sair do prédio, mas alguns amigos vão ter que vir para cá comigo e eu tenho que buscá-los, eles são legais e vão ajudar você também.- Eu disse, ela se afastou.
- Obrigada.- Ela sorriu e limpou o rosto.
- Você gosta de biscoitos? Posso trazer alguns se quiser.
- Eu adoro biscoitos.- Ela riu, assenti.
- Tudo bem. Volto mais tarde.- Eu sorri e saí do quarto dela, Lewis estava me esperando na outra ponta do corredor, só por lembrar que ela estava daquele jeito por causa dele eu sentia nojo.
- Como foi?- Ele perguntou, eu respirei fundo para não ser grosseiro.
- Tem ideia do que fez com a sua irmã?- Perguntei, ele pareceu empalidecer.
- O que acha que vai acontecer?
- O organismo dela quer surtar de vez, vamos ter que cuidar dela se não quisermos ver o pior lado dela.
- Acha que ela vai ficar bem?
- Se ficar, não será graças a você. Vou buscar meus colegas e é melhor você manter essa porra de aliança se não eu juro...ou eu te mato, ou ela te mata.- Eu saí de perto dele e fui para o elevador.
- Não tem o direito de ser tão insolente, estou oferecendo minha piedade a você e seus amigos!
- Deveria ter tido essa mesma piedade pensando nela.- As portas do elevador se fecharam, fui direto para o carro ao sair daquele prédio, não conseguia parar de pensar no jeito que Erika se sentia, acelerei o carro e com o trânsito inexistente eu consegui chegar ao laboratório bem rápido.
Quando abri a porta todos pareciam estar me esperando.
- Ele te machucou?- Elliot perguntou.
- Estava desesperado demais para isso.- Respondi.
- Então você está bem?- Gwen perguntou, assenti.
- Preciso que me escutem, existe uma maníaca boa como a Julie com ele, já fomos mais próximos e agora ela precisa de ajuda.- Expliquei.
- O que aconteceu com ela?- Nancy perguntou enquanto Julie me encarava.
- Ela bateu a cabeça com força, eu sabia que se ela tivesse mais um choque ou uma experiência traumatizante ela iria surtar de vez, e então o namorado e a melhor amiga foram assassinados na frente dela por humanos.
- E ela ao menos ainda tem sentimentos?- Killian perguntou com o jeito rude de sempre.
- Claro que tem tio Grath, ela não morreu, só está doente.- Julie rebateu, ficamos em silêncio por um tempo, Nancy pareceu querer rir de Killian naquele momento.
- Bom...a questão é que ela precisa de mim, e eu não quero deixar vocês aqui e nem ficar lá sozinho. Sei que é um risco mas queria saber se alguém se dispõe a correr ele comigo.
Todos se entreolharam, Nancy olhou para Julie e logo depois para Killian, Elliot só olhava para Gwen.
- Eu vou!- Gwen disse.
- Não vai não.- Elliot disse.- Emmett, entende que tenho uma filha não é? Além disso tem testes de muito valor aqui, eu juro que eu iria com você se não tivesse nada importante aqui.- Ele se explicou.
- Tudo bem.
- Eu vou com você.- Nancy disse, Killian olhou para ela como se tivesse levado um susto.
- Nancy, sabe que isso é perigoso.
- Não falei com você Grath.- Ela disse, ele respirou fundo enquanto revirava os olhos.
- Bom, como você é cabeça dura e não vai mudar de ideia vou com você.- Ele disse.
- Por que? Não é como se eu precisasse de proteção.
- Sem discussão, por favor!- Gwen disse, Killian balançou a cabeça.
- Quero ter certeza de que você e Julie vão ficar bem, se é isso que quer ouvir.- Ele disse, o olhar rígido de Nancy se desfez dando lugar a uma expressão confusa, Gwen deu um sorriso enorme e Killian saiu do laboratório.
- Vamos logo, a situação dela é grave.- Avisei, Gwen me deu um abraço de despedida e Elliot disse "Adeus" como se nunca mais fôssemos nos ver, sabia que ele estava preocupado. Antes de sair fui até um dos armários do laboratório e saí de lá com uma caixa de biscoitos na mão...
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Morbo: O começo_ Livro 4
Ciencia FicciónEu acredito em destino. Acredito em muitas coisas, para ser sincera; mas não há nada mais relevante do que: "Tudo tem um começo, um meio e um fim". Por três vezes a mesma epidemia mundial da mesma doença castigou a humanidade, a contaminação era ráp...