Daniel

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Chego a entrar em parafusos de tanto que rodo pela casa. Preocupado. Tenso. Ansioso. Desesperado.

Eu liguei para ela, me sinto menos pior, mesmo ainda me sentindo terrível, tenho a esperança de tê-lá amedrontado e ela não apareça no dia. É certo que se desse errado, uma outra data seria agendada, mas com um pouco mais de tempo eu poderia pensar em algo maior, um plano melhor, que rendesse mais dinheiro e eles desistiriam dessa loucura.

Meu Deus por qual motivo isso me comove tanto? É só mais um crime! Só mais um! Eu nao preciso participar de todos, mas mesmo sabendo do que meu bando fazia eu nao me sentia tão tenso como nesse crime. Porque?

Saio para correr, decido dar uma volta no quarteirão, a chuva não me intimida, continuo e cada vez mais rápido. Minha forma de descarregar toda minha tensão.

Chego em casa meu cabelo preto está claro de tantas gotas de chuva, meu corpo cai molhado no chão... E me permito despencar e ficar ali parado, olhando a lâmpada, como se fosse uma ótima distração.

Passam horas e eu contínuo no mesmo lugar. A posição é a mesma, mas o pensamento já foi para vários destinos enquanto estava ali. Não aguentava mais tanta agonia. E pego no sono.

Sou acordado com uma mão quente e pequena no meu rosto.

- Laurinha! O tio dormiu aqui? -digo meio desnorteado.

- Tio Kil, nao consigo dormir. Está chovendo muito! - sua voz está tremula e chorosa.

- Fica aqui na sala minha pequena, vou tomar um banho, tirar essa roupa molhada e te pego para dormir comigo. Topa? - falo sorrindo, dando a mão para ela bater.

Ela bate forte e devolve um sorriso digno de uma calmaria que tanto precisava.

Saio do banho e vejo Laurinha deitada, dormindo no sofa. Levo para o meu quarto e a vejo dormir com tanta tranquilidade e quietude que me encanta. Ela é um anjo, dorme em paz, sinto até inveja disso, faz muito tempo que nao consigo ter um sono desse e jamais voltarei a ter, eu não mereço esse descanso, não mereço ela, não mereço nada!

Logo cedo, saio e vou para "sala de comando", o lugar que separamos para nossos encontros do crime. E pude ali perceber que estava realmente tudo pronto. As estratégias, o carro, o cárcere, menos eu, não estou pronto. Jamais estarei!

Volto para casa bem tarde, levo algumas mulheres, me tranco no quarto com elas, sempre como combinado, eu me divirto, elas ficam caladas, fazendo tudo que eu mandar. Nada de barulho, tenho um anjo que dorme no quarto do fundo.

Começo a brincadeira, já consigo  esquecer os problemas e Laurinha grita atrás da porta:

- Kil, deixa eu entrar e dormir aí de novo?

- Anjo volta pro seu quarto, vou arrumar aqui para você dormir! -falo desajeitado e ofegante.

Ouço a porta do quarto da Laurinha batendo e expulso as meninas do quarto, pedindo silêncio.

Vou de encontro com a Laurinha e a levo para o meu quarto, ela sempre será minha prioridade. Sempre.

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