Milla

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Depois de uma semana já me sinto um pouco mais familiarizada. Consegui conversar com a minha família e contar o que aconteceu escondendo alguns detalhes é claro. Mas de qualquer forma, disse que por sorte um dos sequestradores que não concordava com a ideia do sequestro, me ajudou a ter dias menos dolorosos e que por mais que tenha sido difícil ficar longe de todos, de certa forma eu não sofri. Fui informada por eles do quão difícil foi para conseguirem o dinheiro nessa velocidade, mesmo eu já sabendo a real situação da minha família, eles só agora me disseram que tudo estava muito complicado, devido a crise e os investimentos que eles fizeram que ainda não houve retorno. Resumindo. Eu me sinto atualmente alguém com o responsabilidade suficiente para ter esse tipo de informação que até antes de tudo, eu era a menina mimada que só tinha que se preocupar com as notas e a roupa que iria vestir.

Hoje será um dia muito diferente, diferente porque eu já não estou tão acostumada a receber visitas e mesmo que antes isso fosse algo rotineiro, agora parece ser tudo novo para mim. Hoje vem a minha amiga Karine e o Michael me visitar. Essa visita acontecerá exatamente nesse dia por um pedido meu, queria evitar esse momento de ter que contar tudo de novo (com detalhes excluídos) para duas pessoas que são importantes para mim e fora que me sinto culpada pelo Michael, parece que quebrei um elo que existia entre nós. Sei que é paranoia minha, pois esse "elo" só existia na minha cabeça, mesmo que muitas vezes eu sentia que ele tinha o mesmo pensamento sobre mim.

- Amigaaaaa!!! Como eu estou feliz por te ver aqui de novo! Eu orei tanto por você, tenho tantas novidades e senti tanto a sua falta. - Karine não se contem em apenas falar, ela tem que me tocar, mexer no meu cabelo, meu ombro, como se estivesse procurando algum problema em mim.

- Ka... Para! Não tem nada de errado comigo - sorrio - Estou ótima! Mesmo com tudo isso, eu estou bem!

- Por favor me fala tudo o que aconteceu? - ela arregala os olhos e senta como se estivesse prestes a escutar a melhor história de toda sua vida.

- Bom. Eu estava na escola, fui sequestrada, meu pai deu muito dinheiro para eles e me soltaram. - dou risada da cara de boba que ela faz.

- Decepcionante amiga. Isso eu sei! É difícil para você me contar os detalhes? Se for, eu super entendo, tô super do seu lado para qualquer parada! - ela me dá a mão para eu bater.

- Eu prometo te contar tudo, só não pode ser agora. Você espera? - falo baixinho para ninguém ouvir - E sério, você saberá de coisas que ninguém sabe! Vai valer a pena esperar.

O entusiamo dela a ouvir a frase mágica: "E sério, você saberá de coisas que ninguém sabe" foi o melhor para mim, como ela ama saber de tudo. Senti falta dessa doida.

O interfone toca e eu já sei que é a portaria anunciando a chegada do Michael e então, como de costume o meu coração parece sair pela boca. Quando ele entra, meus movimentos minimalizam e eu fico completamente perdida sem saber como agir. Mas na verdade pouca coisa eu precisei fazer, pois ele chega me procurando e quando me encontra no canto da sala de visita, vem correndo em minha direção, me abraça e me beija. Eu não consigo retribuir e ele logo percebe minha resistência e então para e me olha perguntando se eu estava bem.E não, não estava! Eu não sou mais a Camilla que ele conheceu e ele não é mais o cara que eu quero para mim, pelo ao contrário, quando penso na vidinha que eu tinha projetado e sonhado, mas eu agradeço ao Killer por ter me tirado desse mundinho perfeito e quadrado.

- Desculpa Mi? Eu não queria te assustar dessa forma. Sei que é um momento difícil para você e eu agi por impulso, nesses dias que você ficou longe e por aí indefesa, eu só consegui pensar no quanto fui tolo em não fazer isso antes. E conversando com a Ká e ela me dizendo tudo sobre o que você sente, foi crescendo algo muito forte em mim e eu só sei dizer que eu te amo de verdade e agora eu não vou mais deixar você escapar. Precisou tudo isso acontecer para nós ficarmos juntos meu amor. Eu também te amo! - Ela fala sem pausa, quase sem respirar e é exatamente da mesma forma que eu fico: sem ar.

- Michael eu não penso em romance. Desculpa te desapontar. Realmente é um momento difícil para mim e não é um momento para isso. - uma lágrima maldita sai do meu olhar, como eu odeio quando não consigo controlar minhas emoções.

- Está certa! Falaremos disso quando se sentir pronta - ele sorri e alisa meu braço.

- Sim, depois conversamos.

Minha mãe anuncia que a refeição está na mesa e vamos para sala de jantar. Esse jantar parecia um velório, só ouvia o som de talheres e mais nada. Ninguém ousava soltar uma só palavra e eu sentia que a todo momento todos me olhavam. Provavelmente procuram em mim alguma demostração de descontrole emocional para concretizarem a ideia de que eu não estou bem. Eles ainda acham que meu comportamento mais fechado é devido a tudo o que me aconteceu, sem ao menos saberem que o motivo das minhas ações é por estar sofrendo, morrendo e lutando contra uma saudade que não para de doer.

Toda hora percebo que minha mente viaja e as pessoa tem que me chamar a atenção achando que estou em devaneio. E eu aceito e confesso que isso pode preocupar a todos e acho super compreensível, sabendo que eles não fazem ideia do que se passa na minha mente e principalmente me meu coração. Durante nossa conversa caio em si e vejo o Michael sugerindo a minha mãe que ela marque um psicologo para me ajudar a superar esse trauma. E eles conversam como seu eu não estivesse ali e isso me enfurece e me faz ter certeza que eu vou dar trabalho.

- Olha... Entendo a preocupação de vocês, lamento por isso também, mas assim... eu não tenho trauma nenhum. Eu só entendi que eu quero coisa melhor do que tudo isso que vocês planejam para mim. Sabe medicina? Seguir os passos do papai? Pois é. Não quero! Não gosto e não vou fazer! Michael! Não gosto mais de você! Esses dias lá presa e sozinha me fez perceber que a fantasia que eu criei, que você seria o esposinho perfeito que me dava jóias todo mês e que teríamos duas crianças perfeitinhas; também não quero mais! E antes que vocês achem que eu estou louca eu vou me retirar e você Karine... você vem comigo. Vamos conversar!

Percebo todas as bocas abertas na sala. Puxo minha amiga e saio leve, mais leve do que nunca.

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