Milla

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Seus olhos me observam, consigo senti-lo sobre mim, mesmo sem levantar o olhar. Meus movimentos são minuciosos, sinto algo em mim que não sei como definir, explicar, nomear. Não sei o que sinto. Em todos os segundos que passei aqui com aquele asqueroso eu sentia meu peito arder, um misto, de ódio, vergonha, medo e angústia.  Eu tenho medo dos próximos dias.

Não consigo entender como até agora esse maldito resgate não foi pago. Eu não aguento mais passar por isso, mesmo sabendo que poderia ser muito pior se o Killer fosse igual aos outros dois. Por sorte ele existe aqui nesse buraco.

Enquanto meu pensamento viaja, eu continuo sentindo seus olhares, ele parece em devaneio e não tem um pingo de pudor em me fitar. 

- Se sente melhor? - pergunta raspando as mãos nas sobrancelhas, nitidamente sem graça do seu olhar sem disfarce algum -  Precisa de alguma coisa?

- Eu não me sinto melhor! Enquanto tudo isso estava acontecendo eu só pensava que a qualquer momento você de verdade não voltar para cá, ou vir aqui me ajudar e o pior já tivesse acontecido! Eu só penso que talvez amanhã, ou daqui uma semana, ou até daqui um mês eu ainda esteja nesse quarto e você ou eles, serem obrigados a se livrarem de mim. - choro compulsivamente - Você  sabe me dizer  o que minha família disse por não pagar o resgate até agora?

- Você está aqui desde segunda, eles não tinham o valor que foi pedido, estão desesperado para conseguir o que precisam, tentaram negociar por menos, mas meu pai não concordou eles querem o valor total, sem tirar nenhum centavo. - mexe em seu anel enquanto encontra palavras para me explicar tudo que acontece. - O pouco que sei é que você vai embora na próxima segunda, eles garantiram que  iriam conseguir em uma semana, então logo tudo ficará bem!

-  Eu sei que as coisas não andam bem para minha família. Meu pai perdeu muito dinheiro no hospital, porque ele fez um acordo com o governo ,cedendo algumas alas para  atender pacientes públicos e o estado não repassou o que foi gasto desde o começo do contrato. - falo sem conseguir encará-lo, seus olhos são tão penetrantes que me inibe. - Eles nunca me falaram nada, nunca se abriram para dizer nada a respeito de negócios comigo, talvez me ache nova demais para entender todos esses problemas, mas eu sei, estou sempre atenta a tudo que ouço. Tanto que percebi que meu avô fez um grande investimento na construção de um resort e até ele estar pronto não receberá retorno nenhum por isso. E mesmo quando estiver, só saberá ao certo se isso foi vantajoso quando eles perceberem que o que planejaram realmente deu o lucro esperado.

Por qual motivos estou me abrindo dessa forma para ele? Burra! Ele é um bandido, você está dando informações que ele precisa para um crime no futuro. Idiota! Cala a boca e pensa no que diz!

- Você é uma menina inteligente e sua família com certeza sabe disso, consegui perceber isso nesses poucos dias, óbvio que eles percebem também - me encara cada vez mais - Eu queria ter um terço da sorte que você tem, da família que você tem e da oportunidade que você tem. Você poder ser o que quiser, pode conhecer o lugar que quiser. Pode escolher ou não o que quer fazer da sua vida. Agradeça por isso!

- Eu não posso ser o que eu quero! Você não sabe nada ao meu respeito e o que sabe nem deveria saber. - as palavras escapam sem a menos eu perceber - Desculpa falar assim com você depois de você provar que não quer meu mal? E que eu só não sei, na verdade não consigo imaginar, até onde eu posso confiar em você! 

Ele se levanta da cadeira que está posicionada ao meu lado, se aproxima, segura minhas mãos e me aperta em seu corpo. Quando eu percebo tudo que ele está  prestes a fazer, sem nem ao menos eu ter certeza do que pretende, eu reluto, me esforço para sair de seus braços, mas é inegável a sua força e quanto mais eu tento, mais pressão ele faz  e seus lábios encostam no meu pescoço e vai se aproximando da minha boca. Forço meu corpo, mas minha voz ao contrário disso não sai, como se não existisse, nem penso que tem essa possibilidade, não consigo gritar. Nesse momento não há nada a se fazer, apenas sentir.

Seu beijo é quente, úmido e tem sabor. Um sabor que é único, que se alguém pedisse para eu descrevê-lo eu jamais saberia, por que é desconhecido, mas é maravilhoso. Toda a força que outrora eu colocava, não existe mais; meu corpo enfraquece, desmancha e relaxa em seu braços e na sensação maravilhosa de estar ali, tão próximo, próximo o bastante para ouvir batidas fortes e rápidas dos nossos corações. 

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