Daniel

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Consigo de longe vê-la entrando em casa e daí em diante já sinto o  pouco que restou de mim se partindo. Respiro fundo, encaro a minha realidade, subo na moto e vou de encontro à tudo que pretendo fazer para que essa menina não tenha que virar passado.

Por mais que ela tenha implorado para que mesmo se tudo der errado, nada mude. Eu jamais conseguiria voltar para ela como um zé ninguém e depois de ter relembrado o lugar que ela vive, mais eu tenho certeza que não poderei voltar de mãos abanando.

Chego em casa e está tudo pronto. Há alguns dias mandei um recado para a moça que fica em casa com a Laurinha, para que deixasse tudo certo para hoje, disse que iríamos viajar e que era para ela fazer com que a minha pequena ficasse preparada para isso.

Laura estava deitada no sofá, vendo seu desenho favorito "Patrulha Canina". Me corta  o coração pensar em  ter que tirá-la do conforto da sua casinha, para ficar horas em um avião e depois dias em um hotel, lugar que será desconhecido e onde nem a língua saberá, ainda mais por esse não ser o seu destino final e o pior, esse tal destino ser incerto. Nem eu mesmo sei o que acontecerá.

- Oi minha princesa que saudade! Como você está? Está feliz por ir viajar? - arrumo o seu cabelo tentando esconder a ansiedade que está em mim e o medo de ela não estar gostando disso.

- É... acho que sim, eu não sei.  Será que aquele avião vai bater e cair? - coça os olhos e percebo que está morrendo de sono.

- Claro que não! Você vai ver, vai adorar ver tudo de lá de cima. Prometo! - faço o sinal de jura e ela pula na minha frente, já aparentando gostar disso.

Chegamos no aeroporto e lembro que tenho que conferir toda a minha documentação. Passaportes ok, passagens ok, documentos ok. Meu tio por todos os defeitos dele, uma coisa eu não posso negar. Ele é muito cuidadoso com tudo, antes de ele dar qualquer ideia, ele planeja detalhes por detalhes. Começou a investigar sobre a família da Milla, como fariam o sequestro e o que fariam depois. Então desde já ele já nos preparou para essa possível viagem, mandou providenciarmos passaportes e tudo mais, sem ao menos ter dito do que se tratava. Meu pai até pensou que faríamos alguma coisa fora, algum crime muito grande na gringa. Mas não. Olha aqui onde estamos.

Dentro do avião percebo o nervosismo da Laurinha e então, sugiro uma brincadeira. Começamos a brincar de vivo ou morto sentados na poltrona mesmo.  E sua capacidade de mudar de ânimo me faz mais leve. Eu olho para ele e imagino como seria se ela conhecesse a Milla, tenho certeza que elas se dariam muito bem, em alguns momentos são tão parecidas. Tem doçura, gentileza, alegria, elas duas tem tudo o que falta em mim. Deve ser por isso que as amo tanto. E então, percebo a saudade bater. Queria ela aqui!

Chegamos em Cancún e depois de algumas horinhas já recebo ligação do meu pai. Ele sabia que chegaria no México nesse horário. Marco de encontrar com ele e já me acelero, pois a conversa que teremos poderá ser tensa, só espero que o fator entregar a ele tudo que tenho o acalme. E então, depois disso, será o meu reset... uma nova vida!

Marcamos de nos encontrar no "Congo Bar" e exatamente na hora marcada o Velho Louise já estava lá. Talvez você pensa que ele tenha responsabilidades com o horário, mas eu sou firme em dizer que não. Estava ali porque sabia que teria bebida, muita bebida. 

- E ai filhão curtindo o paraíso? Deve estar gastando muito com o dinheiro que deixei na mala da sua casa. Para você não achar que sou um bom pai eu deixei o valor certinho que foi combinado, nada a menos. Dividido tudo em três partes iguais. - ele fala cuspindo e coçando o bigode. Como eu odeio ele.

- Eu não vim aqui para falar do que estou fazendo com o dinheiro que você por bondade me deu. Vim aqui para te dizer que vou te dar tudo que eu tenho, a casa, o carro, esse valor aqui. - entrego um cheque em suas mãos no valor de 5 milhões, sim 5 milhões, tudo que guardei durante toda minha vida no crime. - Tudo isso que estou te entregando é para dizer que estou comprando minha liberdade ou se você preferir, estou cedendo minha parte na sociedade e ainda te dando um alto valor por isso. 

- Você só pode estar brincando! - ele dá uma gargalhada de deboche e meu sangue ferve.

- Eu brincando? Claro que não! Nunca fui tão sério em toda a minha porra de vida! A vida filha da puta que você fez eu ter! Então engole esse seu deboche desgraçado e aceita essa merda de dinheiro e me deixa em paz, antes que o seu querido filho que para ser macho teve que aprender a lutar, prove mais uma vez o que sabe, te deixando em coma no hospital. É pegar ou largar? Quer esse dinheiro ou não?

- Me dá essa merda logo e some da minha frente! Você foi um atraso na minha vida seu moleque filho da puta!!!

- Provavelmente sou filho de uma puta mesmo. É o máximo de mulher que você consegue! Adeus e vá pro inferno! - largo o cheque na mesa e derrubo a cadeira.

Quando entro no carro recebo uma mensagem. Olho na tela e vejo que é dele, do pai que eu sempre achei que me desprezava : Vc e diferrente de mim e isso e bom! Sega feliz!  E não tem como eu dizer que ele não serve para o crime, analisando agora de fora de tudo isso percebo o quanto ele é bom no que faz, na verdade, o quanto eles são bons no que fazem. Pois mesmo fazendo tanta coisa errada, nunca foram procurados pela polícia, nunca deram bandeira e isso é um ótimo feito para quem vive dessa forma. Mas eu só consigo pensar em uma coisa nesse momento: Estou livre e agora farei o meu futuro.

 


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