Milla

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- Bom dia mãe! - digo meio cantarolando - Que horas podemos ir?

E ela está linda logo cedo, como sempre. Olho ao redor admirando cada centímetro da minha casa. Examino as reações da minha mãe, tão delicada, até tomando seu café da manhã. E sinto vontade de abraçá-.
Mesmo sendo tão impaciente e brava, sua aparência a faz enxergarmos com doçura, seu rosto é angelical.

- Toma seu café primeiro e logo sairemos. - responde autoritária.

- Mãe! Eu amo vocês! Amo estar aqui! - digo beijando seu rosto.

Quando acordo percebo que era só um sonho e o lugar que estou nem de longe se compara com a minha casa, nem de longe se compara com a minha vida e a pessoa que está ao meu lado nem de longe é como a minha mãe!

Ele dorme com uma feição sofrida, passa uma sensação que é difícil relaxar. Me aproximo para pegar algo para comer e       sinto seu cheiro, cheiro de sabonete, cheiro de banho. Pego um biscoito e uma garrafa de água, volto para o meu lugar e começo a me lembrar de tudo que ele disse ontem e nao consigo desconfiar, sinto que realmente ele vai me ajudar, seja lá do que.

Como com gula, como se fosse o melhor café da manhã existente, a fome é tão grande que parece que é a única coisa que existe no mundo para comer. Quando acaba o pacote volto para pegar mais e ele acorda e por um gesto automático segura meu braço, talvez pensou que estivesse tentando fungir.

- Só quero algo para comer, estou com muita fome. Sei que têm algumas coisas nessa sacola do seu lado. - digo sem jeito - Já comi um pacote de bolacha, mas ainda não foi o suficiente. Posso?

- Pega aí! - diz apontando com a cabeça para sacola ao lado.

Volto novamente para o meu cantinho e contínuo a comer sem parar e sem deixar de observá-lo em nenhum momento. Seus movimentos são bem frios, parece robotizado, como se alguém controlasse cada passo seu. A expressão séria e tensa é sempre a mesma, por mais que pareça jovem, esse ar sombrio o deixa sei lá... Carrancudo!

Esse ambiente apertado e sem ventilação começa a me deixar um pouco angustiada, mais do que já estava. É tudo sem vida.
Paredes mofadas, pintado de azul, mas de tão velha, aparenta desbotada. Nunca na vida tinha visto como era uma casa de pessoas sem condições.
Fico comparando minha vida, a minha realidade, com a realidade de outras pessoas, daquelas que não tem um por cento do conforto que tenho. Sou muito abençoada por tudo isso... Em nada tenho o que reclamar!

Perdida em meus pensamentos sou surpreendida:

- E aí Killer, como estão as coisas aqui? A princesinha está se comportando? Já deu um sossega nela?

- Pai, já fiz tudo que tinha que ser feito! Nao vem se meter na minha parte! - diz com um ar irritado.

- Você está falando com o rei Louse e eu me meto em tudo aqui! - bate no peito - Quer ver eu meter isso aqui nela? - aponta para suas partes íntimas.

Começo a me encolher no canto. Ele vai me pegar. Me apavoro! Sinto o chão sumir, parece que realmente não devia ter confiado que ele iria me ajudar até que...

- Já falei que você não vai tocar nela! - grita subindo em cima do velho.

Vejo ele em cima do pai e socando sem dó. Uma cena grotesca, mas ao mesmo tempo eu gosto. Me sinto protegida.

- Killer me solta! - o velho fala cuspindo sangue.

- Viu como eu aprendi a bater forte velho Louse? - diz saindo de cima - Espero que se orgulhe por isso! Alguém tem que pensar aqui! Se você tocar nela, vamos perder o prestígio, somos rei aqui, mandamos em tudo e temos moral pelo crime! Estupro irá nos rebaixar.

- Nao vou esquecer esse soco viu? - fala passando o braço na boca sangrando. - Mas tem razão, vou ficar de boa, mesmo estando bem tentado.

Olho para ele e naquele momento agradeço, mesmo em pensamento.

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