Sequestro

Daniel

A Laurinha recebe a alta e a alegria que sinto é indescritível,voltamos para casa com a sensação de que estávamos fora há anos. E parece que quanto mais a gente quer chegar em um lugar, mais longe esse lugar fica. É só comigo que acontece isso?
Quando colocamos os pés em casa a primeira coisa que pensamos é de fazer alguma coisa para comemorar. Deixo a princesa descansando um pouco no quarto e procuro na internet alguma coisa divertida para fazermos. Encontro uma peça infantil em cartaz e o melhor, bem próximo de casa. Fechado. É isso mesmo que vamos fazer.
Ao voltarmos do teatro vejo que tenho varias chamadas perdidas do Mauro e um recado na caixa postal. Que mania péssima que tenho de esquecer o celular. Retorno a ligação para ele e ele me diz que precisa conversar comigo sobre algo muito importante, convido-o para vir ate minha casa e ele aceita de prontidão.
Quando ele chega percebo que a conversa será mais séria do que Imaginava, pois sua cara não nega. Digamos que mesmo com pouco tempo de contato eu consegui conhecê-lo bem. Afinidade tende a nos fazer sensíveis a isso.
— Eu precisava muito conversar com você - Mauro senta na poltrona da sala, desabotoando o paletó.
— Percebi - dou risada para amenizar o clima - posso te servir uma bebida, uma água ou outra coisa?
— Não, não. Prefiro ir direto ao assunto. Como você sabe estou em tratamento de um câncer nas propostatas, não gosto muito de conversar a respeito, mas estou chegando em um ponto que preciso deixar as coisas bem preparadas para quando eu não estar mais aqui.
— Pelo amor de Deus, não pense nisso. Você tem muito tempo pela frente.
— Não tenho muito tempo não. Por isso preciso de alguem de confiança para continuar com o meu negocio e fazer algumas coisas que venho pensando. - nesse momento ele faz cara de dor.
Ele me explica tudo o que ele sente atualmente e o que o médico especialista disse a respeito do seu estado de saúde e eu lamento por ele estar nesse estágio. E decido fazer tudo o que ele me pedir para ajudá-lo.
— Você nesse momento é a pessoa que provocou em mim um sentimento paterno, talvez você não sinta o mesmo por mim. Mas posso te afirmar que adoraria ter te conhecido antes e cuidado de você como um filho. E esse carinho todo que tenho ao seu respeito, só me faz enxergar você como a pessoa certa para cuidar do meu hospital quando eu partir. E na próxima semana sem tardar eu vou te nomear como o administrador do hospital central e depois preparamos todas as documentações para te dar o direito de posse de toda a rede.

Meus olhos enxem de lágrimas, não por ele estar me dando algo tão precioso que jamais pensei ter um dia e sim por ver que ele em tão pouco tempo me dedicou um amor que eu nunca tive do meu próprio pai. E que depois de tanto sofrer, quando enfim encontro alguém com bons exemplos eu irei perder.

— Eu preferia ter sua presença por anos à ter tudo isso que está me confiando. E eu sinto o mesmo que o senhor, tenho um carinho e admiração muito grande. - confesso.
— Fico muito feliz em saber disso, só me faz ter certeza da minha decisão. E eu quero que você fique responsável a junto com meu advogado a liberar 50% dos meus demais bens para uma instituição beneficente que deixarei escolhido.
— Prometo honrar e não decepcionar - enxugo uma lagrima e dou um abraço no meu amigo.
Não estava preparado para uma perda dessa, sinto em saber que talvez ele não conhecerá a Milla. Mas com certeza ela saberá muito do grande homem que ele é.