Sequestro

Daniel

Tive uma proposta inacreditável. Um amigo do Mauro tem um problema com um de seus filhos e precisa urgente voltar para o Brasil, ele tem uma pequena pousada aqui em Cancún e vai precisar vendê-la o quanto antes e aceitou o que eu ofereci.  Vou ter um investimento a baixo da margem de gastos que queria e ainda é melhor por saber que será bem rentável. 

Depois de tal novidade começo a me preparar para assumir meu novo negócio e a cada dia conhecendo essa pousada, mais encantado eu fico em saber que aquilo é meu. Não só meu é dela também, é nosso. Minha primeira fonte de renda honesta. 

Trabalho de dia na pousada e de noite já estou frequentado as aulas, tive sorte de conseguir entrar em uma faculdade nesse semestre, mesmo que o curso já esteja em andamento, devido a grande influência do Dr. Mauro eu consegui ingressar com a promessa que correria atrás desses dois meses a frente de mim que a minha turma está. Então, passo muito tempo estudando, cuidando do administrativo do meu negócio e ainda frequentando as aulas de noite. Nos finais de semana tento dar atenção para a Laurinha e estudar mais, sempre mais. 

Na faculdade conheci a Suzana mexicana e apaixonada pelo Brasil. Quando soube que eu era brasileiro ela já foi tratando de se aproximar, graças a ela estou conseguindo entender melhor as aulas, ela esclarece as coisas quando não consigo entender o espanhol. Tive sorte em vir para cá, estou conhecendo pessoas que vem me ajudando a tornar tudo mais fácil. 

Saio da aula de hoje correndo para ir para casa, uma sensação muito ruim me fazia não relaxar. Quando chego, encontro a Laurinha tremendo de febre e reclamando de dor. Nas pressas levo-a para o hospital e angústia já perturba em excesso. Anda de um lado para outro, quase fazendo um buraco no chão desesperado por notícias. Lembro que o Mauro pode estar por ali e então vou atrás dele, afim de que ele possa dar uma prévia do diagnóstico ao relatar os sintomas. 

Antes mesmo de encontrá-lo a médica que está atendendo aparece e diz que a Laurinha teve uma crise de apendicite e terá que ser operada. Nesse exato momento eu já sinto meu peito queimar e eu não consigo pensar em outra coisa a não ser orar e pedir para Deus não me castigar dessa forma, não use ela para isso. Ligo para o Mauro e ele aparece na hora já sabendo do que estava acontecendo, tenta me acalmar e diz as coisas que eu já sei, mas que mesmo assim, não diminui minha preocupação.

- A pequena Laura é forte Daniel. Ela ainda é muito nova, tudo funciona perfeitamente, se acalma. Você vai ver que a cirurgia será um sucesso, não tem como não ser. - me consola.

- Mas e se Deus estiver me castigando, Ele sabe que esse seria o pior castigo. - choro.

- Pera aí... Que Deus é esse que você acredita? Calma, sua filha é um anjo e ainda tem muita coisa para viver e conhecer ao seu lado. Acredito que Deus que ensina e não o que castiga e ela é a pessoa que mais vai te ensinar nessa vida.

Consegue me tranquilizar mais depois de conversar com ele e sentir que as coisas só acontecem para um bem maior. Volto para a recepção e fico lá quieto e orando para que as respostas sejam boas. Algum tempo depois, uma das enfermeiras me chama e pede para entrar na sala da médica. E por Deus nada demais aconteceu com a princesinha, ela já está bem e apenas dorme no quarto. 

Minha aptidão pela medicina só cresce querer ser bom o suficiente para salvar as crianças de algo assim, quero ajudar da mesma forma que fui ajudado por uma. Eu sou muito grato por ela estar na minha vida.