Sequestro

Daniel

Minha cabeça doi e sinto-me mal, aos poucos vou me lembrando de tudo o que aconteceu. Me viro e percebo que estou do lado da Milla e ela está deitada no meu peito e nesse momento me sinto feliz como se tivesse encontrado o meu lugar. 
Toco em seu cabelo, acaricio delicadamente para não acordá-la, não consigo me conter em tocá-la. Senti-la assim tão perto de mim, tão minha é maravilhoso. E enquanto isso minha mente vagueia por pensamentos e planejamentos, tentando pensar em tudo que poderia fazer para permanecer ao lado dela, mesma sabendo que hoje pode ser a ultima vez que eu a veja. Essa sensação de despedida me aperta o peito e doi muito mais do que qualquer dor física que eu realmente tenha.
E então ela acorda e me encara meio sonolenta.
- Como você está? Ela me diz limpando os cantinhos dos olhos - Fiquei muito preocupada com você, você estava queimando em febre e eu não sabia o que fazer e...
- Calma! Estou bem! - toco em seus lábios afim de interrompê-la e acalmá-la - Acordei muito bem!
Ela sorri para mim e percebe que ainda está em meus braços, sinto nela uma certa timidez e aos poucos ela vai se afastando de mim e se levanta. Ofereço seu café da manhã e ela nega dizendo  que ela mesma pega na sacola que sempre tem biscoitos, pães industrializados e sucos de caixinha. Então dessa vez, ela que separa algo para o meu café da manhã.  
Nos alimentamos em um total silêncio, ambos sem coragem de iniciar a conversa que será tão difícil e tão necessária.  Arrumo coragem e começo:
- Daqui a pouco vou ligar para o meu pai e me informar se está tudo certo para você ir hoje. - falo com olhar baixo, não tentando mostrar tristeza no olhar.
- Espero que esteja tudo certo, sinto muita saudade da minha família, parece que estou aqui há anos. Tudo que eu vivi aqui por mais difícil que fosse me fez sentir coisas boas também - ela busca meu olhar.
- Que sentimentos bons foram esses? - retribuo o olhar também.
- Você! Conhecer você! -seus rosto ruboriza e suas mãos ficam inquietas.
- Você não tem noção de como isso é importante para mim! Ouvir você dizer isso me traz um misto de sentimentos. Olha para mim? Só olha! Hoje você vai para casa e eu quero que você aproveite essa nova oportunidade que a vida está te dando, quero muito que você seja feliz e quando eu estiver pronto eu prometo que vou atrás de você! Eu prometo... olha pra mim! Eu prometo que vamos nos ver de novo.
Me aproximo dela e a prendo em um abraço que é só dela.
Beijo sua testa e a puxo pela nuca e vou me aproximando de sua boca tentando controlar a urgência em chegar lá, quero senti-la sem pressa aos poucos e fazer durar esse momento. E o beijo é enlouquecedor, como eu amo senti- la, como eu amo perceber que ela me deseja tanto quanto eu.
Percebo que ela começa a se travar, talvez por medo do que pode acontecer e por mais vontade que eu tenha de torná-la minha, jamais faria aqui, nesse lugar, dessa forma.  Ela merece o mundo e lá fora que eu pretendo merecê-la e tê-la como minha.
- Ei minha linda! - toco seu queixo e a faço me encarar- Não precisa ficar com medo de mim eu jamais faria isso com você em um lugar como esse.
- Por incrível que pareça não conseguia nem lembrar onde eu estava, por alguns momentos era só eu e você e o nosso paraíso.
Ela me desmonta com seu amor. Vou sentir falta dela!