XXVI

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                                                                                Capítulo Vinte e Seis

                                                               A chave para o dourado e o prateado

O penteado era simples, nada muito exuberante para uma noite exuberante. Ouvia o barulho da música movimentando os pés alheios no salão, cheio de nobres e riquinhos metidos. Concentrei-me no espelho a minha frente enquanto as cordas do espartilho eram amarradas e prendiam meu ar. Minha mente estava distraída com hoje há tarde, Patrick simplesmente mirava em meus olhos e lançava seu feitiço de atração, pois é impossível alguém me atrair do jeito que Patrick consegue tal maravilha. Aqueles olhos me deixavam tensa e desorientada, praticamente apática quando os via por coincidência. Prometi a seu gosto para aparecer linda esta noite, e cumprirei nosso acordo, e ai, ele deverá uma dança a mim. Todos esses lugares onde posso esbanjar os vestidos de Elena, usar suas joias e sua vida para me aproveitar e ser feliz como nunca fui, me dão nojo de certo modo. Elena está em uma situação incrédula, incapaz de sair de um lugar completamente idêntico a uma prisão e, não estou fazendo nada para ajuda-la, pelo contrário, estou usando vestidos e joias de outra pessoa para me divertir em uma noite não cabível a minha classe. Sou uma intrusa; um parasita do qual pretende sobreviver em mundo completamente diferente. Não posso mentir, estou nervosa de estragar tudo por não saber modos, por não saber dançar músicas do estilo nobre; estou completamente perdida em um lugar cheio de luzes vermelhas.

O espartilho estava pronto e completamente sufocante, embora seja de se acostumar. Os cabelos lisos caíam pela cintura fazendo companhia as minhas vestes brancas. Meus olhos correram pelo armário de Elena; até hoje não acredito como alguém consegue guardar tantas roupas em um guarda-roupa. Mary o escolheu com cuidado, por algum motivo sabia minha opção por Dourado nesta tarde. Virei-me novamente para o vestido de cor dourada e detalhes negros no decote bem visível. Mary o colocou em mim, apertando os botões atrás de minhas costas para que o vestido ficasse justo. Sorte de Elena ter uma empregada tão amigável quanto Mary pode ser; a maioria das mulheres faz de suas criadas verdadeiras escravas, não são escravas, elas estão sendo pagas para cumprirem suas tarefas domésticas e servir as necessidades, não ser a escrava particular. Embora Mary tivesse uma boa personalidade, admito o quão furiosa fiquei quando ela pôde interromper um possível tocar de lábios esta tarde na chuva de olhares. Não questionei Mary por estar completamente calada, suas mãos firmes trabalhavam com eficácia, porém, sua mente estava em outro lugar, assim como a minha.

Peguei o pó em cima da penteadeira e passei em meu rosto. Nunca em minha vida havia usado algo parecido com maquiagem, é tão diferente de como imaginei ser. Confesso nada ser como eu imaginara. Pessoas boas de boa educação, bom, a maioria pelo menos foi amigável e é amigável comigo, mas como Elena Gilbert, e não como Katherine Pierce. Uma leve decepção apodreceu meu peito, desânimo seria o termo perfeito para classificar minha vontade de descer aquelas escadas, cheias de vidas escondidas. Mas, tenho de lembrar sobre Patrick, prometi a ele descer ao baile, e com certeza tenho de fazer isso.

— Sua amizade com Patrick está sendo bastante admirável, Elena. — Mary amarrou um laço negro em minha cintura.

— É de meu conhecimento. — Coloquei as mechas para trás. — Patrick é alguém admirável e amigável, com certeza nossa amizade vá fortalecer com o tempo.

Se for amadurecer em sua cama... — Mary sussurrou, mas consegui ouvir sua voz abafada.

Virei-me do espelho e a observei com o olhar arregalado. Mary quebrou o retrato do qual tinha de sua personalidade, se tornou falha sua compreensão e sua interpretação de palavras. Mesmo não me tornando Elena, tinha de defendê-la de comentários do gênero ofensivo e fofoqueiro.

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