XXVII

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Capítulo Vinte e Sete

A noite da lua Vermelha.

A carruagem nos deixou próximo ao lugar onde seria apresentada a ópera. Mesmo Mystic Falls sendo uma cidade pequena com poucos habitantes, é muito sofisticada para ser considerada uma cidade rural. O lugar era imenso, parecia mais com um castelo do que um simples teatro. Os olhos de todos prendiam-se nas luzes refletidas pelos talentos cercados dentro do teatro, ou até pelas pessoas recheadas de ansiedade sentadas em cadeiras confortáveis com tons carmim. As vozes ao meu redor, todas comentavam sobre uma das famílias nobres descendo da carruagem para exibir o quão poderosa nossa presença pode ser, quer dizer, o quanto a presença dos nobres podem ser, pois não faço parte de um conjunto como este. Vozes podem ser diferentes, claro, pois todos merecem suas respectivas vozes; ambas emitem sons, como verdades e mentiras que não gostaríamos de ouvir. Os olhos cercavam a carruagem marrom e magnifica, atraindo olhares de pessoas razoavelmente comparáveis às famílias nobres da cidade. Estranho, tratavam-nos como se fôssemos joias raras visitando uma loja de bijuterias humildes. Para os olhos alheios, somos como flores: Quanto melhor o perfume, melhor a presença de nos ter por perto. A cada boçalidade de nossas vestes e jeitos refinados éramos julgados, avaliados pela sociedade presente no lugar iluminado.

Os cavalheiros e as damas tinham um tratamento tão poderoso quanto o cuidado de um berço de ouro, o andar deles era tão leve quanto o próprio dançar de uma bailarina inspirada. Não tinha escolha, tinha de ser boçal para atrair olhares, provando que não sou um burro no meio dos cavalos de cristas sedosas. Era este nosso objetivo. Mostrar para todos o quanto podemos ser ricos e poderosos perante a sociedade sem capacidade alguma de alcançar o topo de uma coroa. Sim, entendo o quão isto pode ser considerado errôneo de minhas características, porém, tenho de lembrar que não sou Katherine Pierce utilizando estes vestidos finos, as joias caras e o chapéu de penas negras no cabelo. Tenho de ser Elena. Sou Katherine Pierce, a irmã sequestrada e deixada levar pela vergonha de ser uma família problemática. Senão fossem pelas malditas mãos doentias de um maníaco, o lugar onde Elena estaria seria meu, apenas meu. Infelizmente temos a função de aceitar o que foi nos dado pelo cruel e doloroso destino. Todavia, os nobres estão no auge por causa de um único elemento importantíssimo para a sobrevivência do exibir: O dinheiro. O ser humano está condenado a servir ao dinheiro, a algo que pode nos manter escravos sem percebemos a elevação de submissão ao próprio. Damos valor ao que pode nos matar a qualquer momento, algo mortal.

Combinamos de encontrar Patrick e Amara na porta do teatro, e lá estavam eles. A dama vermelha e o colírio dos olhos. As penas de meu chapéu poderiam ser vistas por minha visão periférica, mas não me incomodei tanto assim. O cocheiro nos ajudou a descer da carruagem, eu e a tia Jenna. Nunca pensei em vê-la como tia, pois temos o mesmo gene e... Jenna seria irmã de minha mãe biológica, então tenho que começar a enxerga-la de modo diferenciado, como minha família. Patrick lançou um sorriso fechado. O devolvi com outro enquanto respirava o ar completamente leve do lugar lotado de pessoas invejosas e um tanto invejáveis. Elevei o queixo deixando as mechas intrusas tocarem meu rosto; meu penteado consistia em duas tranças presas formando um coque, a especialidade de Mary. Meu olhar com certeza surpreendeu Patrick, sempre acostumado com o olhar dócil de Elena Gilbert, mas agora, está presenciando o verdadeiro olhar de Katherine Pierce.

— Está tudo bem, querida? — Tia Jenna desceu da carruagem dando uns jeitos em seu vestido amarelo.

— Está tudo completamente em ordem. Esta noite será inesquecível, tia. — Não desgrudei o olhar do anjo loiro.

— Vocês dois parecem muito unidos. — Tia Jenna e eu andávamos lado a lado enquanto os outros abriam alas para nós.

— Nós quem? — fingi-me de besta.

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