XXXVIII

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                                                                          Capítulo Final

                                                                        O cantar do beija-flor

Há dois meses, quando o incêndio devastador de vidas ocorreu no terreno mais cobiçado de Mystic Falls, fiz escolhas das quais não orgulho de ter feito, dizer que fui eu a responsável por fazê-las tomarem forma. Agora, depois de dois meses, com certeza farei mais escolhas com estes mesmos gêneros decepcionantes, ou talvez até piores se julgar pelo vermelho da situação, se é que consegue compreender. O devasto terreno onde estou, faz parte de minha genética, parte de meu ser. Estou em casa, um lugar onde não foi dominado pelas chamas odiosas do passado, o mesmo fator capaz de dizimar vidas, inúmeras delas. Pelo menos as que cometeram pecados contra o maligno. Tentei recapitular o exato momento de minha chegada ao terreno dos Salvatore, o mesmo constatado como minha sentença de infelicidade. Consequente de minhas mudanças; não consigo mais lembrar-me de uma maneira tão entregue aos sentimentos, sem ter raciocínio próprio para bolar uma tentativa de ver-me livre. Não consigo lembrar pelo mesmo motivo de eu não ser mais uma menina apaixonada, ou uma garota com planos impossíveis na mente.

A experiência pela qual passei fez-me realista, aberta a todos os possíveis olhares, enxergar todos os possíveis campos de falhas, derrotas, ou até as possibilidades de morte. Como disse enquanto pensei estar prestes a morrer: Então a morte é assim? Fácil de obter? Hoje posso confirmar esta afirmativa: Sim, minha cara "eu", a morte é muito fácil de obter. Basta abraça-la de modo burro, entregando todos os seus segredos para o mundo falso.

Os segredos são minhas principais artérias de vitalidade. Se eu deixar que alguém os corte, estarei entregue a morte mais uma vez.

Contudo, a mansão Gilbert sofreu uma pequena reforma. Abrigar os Salvatore seria função da família dizimada, já que foram nossos aliados por muito tempo. A mansão ficou aberta para várias famílias pertencentes à Mystic Falls, até a futura família da cidade grande que chegará em breve. Os Salvatore não se acostumaram com a falta de liderança, estavam acostumados a serem sempre os primeiros em tudo. Hoje se encontram dependentes de suas fazendas e o estábulo, que por sorte, não sofreu o dano das chamas levadas pelo vento. Estávamos todos aqui: Os Forbes, Os Salvatore, tia Jenna, os restos dos Dilaurentis, e por fim, os Cooper. O restante da família Fell sofreu uma grande perda familiar no incêndio, decidiram sair da cidade, constataram-na como caótica. E pelo visto, onde não há mentiras, resta somente a verdade cruel.

Observava — de minha sacada. — a neve cair. As folhas das árvores eram domadas pelos flocos de neves sufocantes, surpreendentemente avassaladores. O vestido cobria meus braços para assustar o frio, fazê-lo temer minha pele. Mal poderia acreditar que tudo aqui fora repleto de alegria um dia, porém, hoje a neve anula qualquer tipo de pensamentos pesados. Um cabelo caía pelos ombros, trazendo mais convites para o calor. Não ligava se alguém veria uma mulher de cabelos soltos, afinal, eu era supostamente "casada" com um Salvatore, a família da desgraça. Sim, esses foram os apelidos dados pelas fofocas: A família da desgraça, o ninho de discórdia, ou até a família desprovida de sorrisos.

Notei um pequeno papel em minha mesa na sacada. O papel continha a maldita letra familiar. Porém, não senti raiva ou repulsa em abri-lo, já estava acostumada a controlar sentimentos de raiva todas as vezes que meus olhos avistavam um papel implícito.

Feliz natal, Elena. – R.J

Ri ao amaçar o bilhete e joga-lo para se misturar a neve. O leve abrir da porta apertou meus ouvidos, mas isto não levou curiosidade a minha visão. Dei continuidade ao olhar para neve clara, o único branco significativo do pior ano de uma mulher ferida por dentro. As mãos calorosas tocaram meu ombro friorento. Virei meus olhos com calma, retirando os cabelos dos olhos.

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