XV-Os Segredos dos Reinos do Sul e do Norte

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Era um pequeno vidrinho com um líquido azul, mas para Charlotte parecia com água do mar de Leme, um outro reino fora dos domínios do futuro rei de Eprain. Charlotte era uma raposa aparentemente pequena e indefesa, mas acreditem, ela era a criatura mais corajosa que todos no reino conheciam, todos a respeitavam por isso, desde a época em que o rei Carlaio e sua majestade a rainha Naomi eram apenas bons amigos. Naquele tempo claro, a corajosa Charlotte não passava de um filhotinho fofinho, mas ao decorrer do tempo, convivendo sempre com o amor que a jovem duquesa lhe proporcionava se tornaram grandes amigas, e essa amizade só aflorou quando Naomi casou-se com o rei Carlaio, tornando-se assim a rainha das terras do Norte a esplêndida Eprain. Tiveram seu primeiro e único filho, Caspian. Um lindo e forte menino, de olhos como um céu escuro, o que mais encantou a todos foi o eventual destino que proporcionou ao irmão do rei de Eprain que também era rei de um reino vizinho Ósseas, e que na mesma manhã tivera um herdeiro, um pequeno e pálido menino branco como neve, de olhos como pedras de brilhantes, tão azuis quanto um céu ao meio dia. A coincidência do nascimento de ambos os primos foi comemorada com um grande baile que durou sete noites. Uma grande festa cheia de elegância, danças, magia, e todo o luxo que a nobreza poderia ofertar aos seus súditos e seu povo. Foi uma festa belíssima e também um lindo momento de paz. Paz esta que durou alguns poucos anos, pois o rei Dmitry se revoltou contra seu irmão o que não era de se tardar, pois todos sabiam de sua ambição e inveja do irmão de Eprain.
Anos se passaram e seu odio só aumentava, Laian foi proibido de visitar seu primo Caspian e assim começou o grande confronto. O rei Carlaio para apaziguar os ocorridos e fazer as pazes com seu irmão. Propôs um baile real para comemorar o aniversário de seu filho e de seu sobrinho. As crianças faziam cinco anos de idade, mas o rei Dmitry se recusou a comparecer. Mesmo diante da recusa o baile foi feito e junto com ele a trágica história...
No grande baile de aniversário do pequeno príncipe o rei Dmitry do reino do Sul- Ósseas, e seus impiedosos soldados, invadiram Eprain e proclamaram o caos, matando várias pessoas do reino de Eprain numa batalha repentina e sangrenta, e também muitas criaturas místicas, tudo por inveja da felicidade do casal. Pois todos do reino e dos reinos vizinhos sabiam que Dmitry tinha um amor doentio por Naomi, tanto que se casou-se com Sarita, sua esposa, e a deixou enlouquecer e morrer de tristeza por seu completo abandono e desprezo. Ele só tinha olhos para a bela Naomi que não o correspondia da mesma forma e isso despertou nele grande ira.

Ele matou a amada com sua espada. Um golpe certeiro no coração, transpassando-a não fisicamente, mas também sua alma. Eu pude ver seus grandes olhos negros, perderem o brilho lentamente até que ela caiu nos braços de seu assassino, ele por outro lado, derramava lágrimas como se isso pudesse mudar o feito. Ainda tocou em sua face, ainda lhe deu um beijo, ainda chorou e urrou sua morte, como um infame diante da presa. Ele a matou por vingança, a matou por um amor doente e possessivo.
Eu não poderia deixar você viver com ele minha doce Naomi...
Você é minha, e de mais ninguém. Disse Dmitry agarrado ao corpo sem vida da rainha Noemi, mãe de Caspian, esposa de Carlaio e rainha do trono de Eprain.
Ele já havia matado o rei, seu próprio irmão, e agora Caspian corria riscos, mas a raposa não deixaria que nada de mal também lhe pudesse acontecer, por isso fugiu dali, com o menino e desapareceu na floresta até que tudo pudesse voltar a ser como antes.
Charlotte nunca poderia esquecer tudo isso, aquela triste história do passado estava marcada nela como um selo. Príncipe Caspian cresceu forte e saudável com a ajuda das fadas, em especial de Lilive, que se tornou sua guardiã com a autoridade de Charlotte, Caspian amava Lilive e Lilive a ele e assim o pequeno menino foi crescendo e se tornou um belo rapaz, e em seu décimo oitavo aniversário, já poderia governar o que lhe pertencia por direito. O trono de seu pai, mas ele ainda não estava totalmente pronto, precisaria ter sua rainha, mas Caspian era um moço tímido, nunca havia se interessado por nenhuma moça do reino, por algum tempo Charlotte percebeu certo fascínio da fada Lilive, ela era linda, bondosa, mas Caspian não parecia a enchergar dessa forma. Não era por idade, fadas não morrem a menos que sejam envenenadas e também não envelhecem, mas Charlotte não acreditava num possível romance entre ambos, pelo menos não vindo de Caspian. Talvez nem mesmo Lilive tenha se dado conta desse fascínio pelo rapaz, ela parecia confusa muitas das vezes que Charlotte a investigava. Mas se sentia algo mais profundo por ele, nunca revelou.
Tudo isso Charlotte pôde relembrar enquanto segurava em suas patas o pequeno vidro com a porção de Lilive. Agora só precisaria esperar que a porção fizesse efeito e despertasse Sol, que ainda dormia profundamente num dos luxuosos e confortáveis quartos do palácio. Todos haviam saído e só estava Charlotte zelando pela menina.
ㅡ Por que você foi ultrapassar essas fronteiras menina? por que não permaneceu em seu mundo sã e salva. Se descobrem que você é uma impura poderão tirar-lhe a vida por receio de que vais contar tudo para teu povo...
Ah, mas tudo isso é culpa minha, eu e minha curiosidade inconsequente de querer saber mais do que devo. Nunca deveria ter ido até teu povo, aquela floresta está infestada deles. Cassadores sanguinários e... toda sorte de maldades...
ㅡ Onde estou?
Charlotte ergueu o rosto ao ouvir a voz de Sol. Ela estava feliz por ver a menina bem, mas temia o pior.
ㅡ Está tudo bem querida. Se acalme.
ㅡ Onde estou? que lugar é esse? onde estão os seres invisíveis? perguntou Sol, parecendo tonta enquanto tentava se erguer da cama.
ㅡ Volte a deitar-se imediatamente! Você está fraca criança!
ㅡ Você... Você é a raposa Charlotte?
ㅡ E quem mais teria o mesmo focinho?
ㅡ Oh, graças aos céus Charlotte! graças aos céus você está aqui... tive tanto medo das vozes...
ㅡ De que vozes estais falando? acaso bateu a cabeça em alguma pedra?
ㅡ Na verdade me jogaram uma noz bem forte na cabeça...
ㅡ Isso já passou. Agora volte a deitar, você está tontinha.
ㅡ Como me encontrou?
ㅡ Não fui eu, agradeça ao Príncipe Caspian, ele te salvou da morte.
ㅡ Príncipe quem?
ㅡ Caspian, ele é nosso governante. Mas descanse, avisarei que já despertou e mandarei prepararem algo para comer, você deve estar com fome.
ㅡ Sim. Com muita fome por sinal. Disse Sol sorridente, ela estava feliz por ter reencontrado sua amiga.
ㅡ Antes quero lhe alertar. Devo isso a você já que lhe coloquei nessa confusão.
ㅡ Como assim Charlo...
ㅡ Ouça, de forma nenhuma podes dizer que me conheces, e se alguém perguntar de onde viestes, diga que foi de um reino muito, muito distante, mas que não se lembra de nada, porque fostes raptada e vendida como escrava para piratas do mar de leme.
ㅡ Que história confusa é essa Charlotte? acaso estais me pedido que minta? sabes muito bem de onde eu vim...
ㅡ Exatamente e isso é o pior. Se queres continuar viva, vais fazer exatamente o que eu disser, não podes revelar a verdade, isso colocaria sua vida em risco! acredite em mim Sol, não há outro meio.
ㅡ Mas por que?
Charlotte ouviu passos vindo de fora, se aproximarem do quarto.
ㅡ Não há tempo querida, apenas faça o que eu disse e não me faça mais perguntas por enquanto. Ao dizer isso as portas se abriram e Lilive junto de servas entraram no quarto. Nada nunca havia deixado Lilive tão perturbada, Charlotte podia ver isso em seus olhos violetas, ela realmente amava Caspian, deixou isso bem claro ao olhar com desprezo para Sol que a olhava com encanto.

Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora