XXXVII-Como uma Fênix

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Meu cavalo correu o mais veloz possível, precisava sair de meu próprio reino, agora a batalha parecia estar ganha. Com a morte de Caspian minha vingança estaria concluída. Mas...
Parei o vacalo em um determinado ponto da estrada, ainda estava em minhas terras pois a neve não cessara. Não me importei, segurava Sol em meus braços e a levei para um lugar mais quente onde poderia se aquecer. Havia algumas rochas gigantes ao longe e fui até lá. O sol já vinha se pondo e mesmo não dando para ver bem, as estrelas brilhavam no céu cortado por cinza. Deixei a bruxinha numa espécie de caverna e fui procurar madeira para fazer um fogo, consegui alguns poucos gravetos, mas foi o suficiente para fazer uma pequena fogueira. Depois de tudo observei a moça deitada no chão. Ela era tão fria quanto o gelo que caia lentamente lá fora. Por um momento senti algo apertar meu peito, não sabia o que era, mas sabia que não era assim que tudo deveria terminar.
Me aproximei do corpo sem vida de Sol, meu coração batia lentamente como se desejasse morrer também.
- O que eu fiz? Me perguntei.
- Volte Sol... seu rosto parecia um papel, completamente em branco. E ela nada me respondeu.
- Não sei o que fazer! Não posso te trazer de volta! Deixei que minha mão tocasse a dela, tão fria.
- Sonhei com você e não consigo esquecer... olhei para o rosto de Sol. Ela parecia um anjo que dormia serenamente.
- Como te trazer de volta? Dessa vez o fogo vindo da fogueira que nos aquecia aumentou um pouco por conta do vento que nos soprou. Olhei para ela e me aproximei, beijando seu rosto sujo pelo sofrimento que causei; uma lágrima caiu de meus olhos.
- O que quero de você? Lembrei da pergunta que ela me fez em meu sonho.
- Quero seu beijo Sol... pronunciei as palavras em minha boca. Então a beijei e por uma fração de segundos senti um pouco de alegria, sentimento que fazia há muito não sentia. Alegria de verdade não o prazer em torturar as pessoas. Afastei meus lábios e ao abrir meus olhos os dela já estavam a me observar. Tomei um susto, mas ver aqueles olhos como duas pedras de esmeraldas me olhando novamente, encheu meu peito de um sentimento mais profundo, devastador, impulsivo e dominante.
— O que aconteceu? Ouvi a voz dela, estava fraca, mas claramente pude compreender.
— Você estava morta, mas como uma fênix renasceu das cinzas.
Ela nada disse, parecia ter me reconhecido e isso foi o bastante para fazê-la levantar-se de súbito e tentar escapar. Mas a segurei pelos braços e a prendi para que não fugisse. Ela gritava cortando o silêncio da noite.
— Fique calma Sol, não irei machucá-la! Mas se continuar se debatendo desse jeito não terei alternativa...
— Bartolomeu... miserável, monstro, bruto infame o que você fez com meu pobre Bartolomeu? O que fez?
— Do que estais falando? Acaso estais louca?
— Você o matou miserável! E matou meus irmãos...
Sol me mordeu fortemente, meu impulso foi soltá-la mas antes que ela tentasse fugir a segurei pelos cabelos vermelhos como sangue  e apertei minha espada contra a pele pálida e macia de seu pescoço. Ela engoliu o choro, sua respiração ofegante e suas mãos agarradas ao meu braço.
— Eu não quero machucá-la Sol... fique calma e me ouça...
— Prefiro morrer a ter de ouvir sua voz por mais tempo. Disse ela angustiadamente. Por um momento me perguntei por que de fato não pôr um fim a tudo aquilo, eu já havia conquistado a coroa de Caspian, o reino dele logo me pertenceria. Não havia motivos para ouvir insultos daquela criatura misteriosa. Joguei Sol para um canto da caverna; a luz que vinha das chamas da fogueira iluminavam a menina que parecia recuada e amedrontada, mas ainda sim, disposta a me odiar até seu último suspiro. Ela me encarava com seus olhos claros contra a luz.
— Então vamos acabar logo com isso... respondi e ergui a espada contra ela que ao ver a lâmina brilhar no reflexo da luz na caverna fechou os olhos e apertou a terra em suas mãos no chão. Eu não conseguia baixar a maldita espada. Meu braço parecia sem forças e preso por algo. O que estava acontecendo comigo não saberia dizer, mas Sol percebeu que eu não iria matá-la. Ela continuava me encarando, parecia uma fada, a mais bela que já havia visto, lembrei do sonho, recordei dos olhos dela sobre mim, lembrei de suas mãos em meu rosto e por fim de seu beijo. Deixei a espada cair no chão e baixei o rosto me sentindo um perdedor.
— Não matei seus irmãos, nem seu amigo, tudo que sei é que estava em meu castelo quando percebi que tudo mais desmoronava, todas as minhas prisões caíram por terra. E sei que foi você quem fez isso. Olhei para Sol que até então não havia dito mais nada. Ela continuava imóvel a me observar.
Deixei seus irmãos fugirem, eles se foram não sei para onde. Mas... seu amado não teve o mesmo destino. Notei que Sol deixou uma lágrima cair.
— Você matou... matou Caspian?
— Eu sou o novo rei de Eprain agora.
Houve um minuto de silêncio. Antes de Sol saltar em mim como um leão em fúria, suas unhas apertavam meu pescoço enquanto nos debatiamos no chão, ela iria me matar se eu não pegasse logo minha espada.
— Eu vou acabar com você mostro infernal... vociferou ela me sufocando e não me dando forças para lutar. Nesse momento a segurei também e travamos uma luta corpo a corpo e um verdadeiro ataque de fúria caiu sobre Sol que parecia cega de ódio. Já sentia minhas forças acabando e meu ar desaparecer quando consegui soltar as mãos dela de mim.
Respirei o máximo que pude e a empurrei para longe me dando tempo de pegar minha espada, mas antes que eu pudesse arremessá-la contra a garota Sol disse alguma coisa que não pude compreender e agora ao invés da espada estar apontada para ela estava pressionado ela contra mim mesmo.
— Que diabos estou fazendo? Que diabos você está fazendo?
— Morra Laian este é o fim de suas tiranias. Ao dizer isso senti a espada em minha mão perfurar meu corpo, um leve gemido de dor saiu de meus lábios então caí no chão arenoso da caverna. Sol se aproximou, tocou a espada com intenção de aprofundá-la ainda mais, mas a encarei pela última vez.
— Seu pai...
Ao dizer isso Sol retirou a lâmina causando ainda mais dor, gritei ao sentir algo quente escorrer de minha barriga.
Ela se aproximou, seu rosto perto do meu.
— O que tem meu pai? O que sabe dele maldito?
— Se... tentei puxar o ar, mas a dor não me permitia. Ela segurou meu rosto, seus olhos voltaram a encher-se de lágrimas novamente e já não tinham mais fúria, mas sim, grande curiosidade.
— Sei onde ele está...
Sol deixou as lágrimas caírem, seus olhos brilhavam, mesmo diante da dor e do desespero eu não conseguia odiá-la pelo que fez a mim, ela tinha razão, eu não passava de um monstro e para me redimir pelo menos em parte com ela, revelaria um segredo que a faria feliz.
— Onde ele está? Pelos céus! Onde ele está? Ela soluçava ao dizer isso, mas antes que eu pudesse lhe dizer algo meus olhos pareciam pesados e senti eles se fechando e uma densa escuridão serrar meus dias. Pude ouvir Sol gritar um não.

Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora