Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}

L- A forasteira

Estavam em silêncio desde a manhã passada quando saíram do reino de Ósseas rumo ao reino de Eprain, o coração de Sol batia cada vez mais forte quando sentia que estavam próximos do lugar que outrora foi sua morada passageira, muito breve e de muitos desafios. Ao longo do percurso na maioria das vezes ela só avistou neve, mas ao sentir o calor da luz solar vinda de um céu incrivelmente azul anil e pássaros de todas as formas a cantar pelas árvores verdinhas, Sol não teve mais dúvida, estavam em Eprain.
Laian parou seu cavalo, ela também parou e o observou enquanto ele tirava sua grossa capa que de nada mais servia a não ser causar grande desconforto, ela também tirou a sua.
- Tenho a sensação de que já faz um século que não venho aqui.
A voz de Laian estava calma, ele parecia bem, se não fosse por suas mãos que o denunciavam, seus dedos apertavam firmes as rédeas de seu animal, Sol se aproximou.
- Também tenho a mesma impressão. Ela tocou em suas mãos rígidas, não pelo ódio que um dia sentiu pelas pessoas e seres místicos que ali habitam, mas por medo; parecia irônico pensar que Laian, um rei tão poderoso e tão perverso poderia estar com medo de seu rival, mas ele estava, Sol sabia que Laian jamais seria o mesmo, algo nele mudou, ela estava feliz por sua surpreendente mudança.
Então depois de uma pausa eles retornaram a caminhada e entraram por entre a trilha que dava em direção ao castelo e o Reino, ao longe Sol e Laian avistaram a bandeira que simbolizava aquele lugar, no topo do castelo na torre mais alta que Sol já não se recordava ter sido tão alta assim. Eles pararam novamente.
- Acho que é melhor você ficar por aqui, tente se esconder e por favor querido Laian tome cuidado.
- Não acho uma boa idéia que vá sem mim, é perigoso!
- Eles não te darão nem tempo para respirar se o pegarem aqui, por favor, tente esperar meu chamado.
- Como sabe que a raposa vai mesmo vir ao meu encontro?
- Ela virá. Charlotte é uma grande amiga.
- Sol se tudo isso der errado morreremos!
- Não vai acontecer! Confie em mim!
- A essa altura seu pai, seus irmãos e meu elfo já devem estar machando para cá com todo nosso exército.
- Eles não sabem que viemos.
- Sol, Mafri sabe de tudo não sei como ele faz isso, mas ele sabe.
- Ele pode achar que fugimos juntos!
- Para Eprain?
Sol respirou profundamente, Laian tinha razão, no fundo Sol estava tão temerosa quanto ele, pois sabia que se não fossem rápidos ou se o rei Caspian não aceitasse seu perdão eles estariam mortos e o pior, outra guerra aconteceria.
- Está bem, sei de uma passagem secreta que dá para o castelo, Charlotte me ensinou caso fosse preciso por conta da guerra, vamos por lá e ninguém poderá nos ver. Mas precisamos ter cuidado com essa floresta, está cheia de seres mágicos e que...
- E que falam...
- Sim.
Seguiram por um caminho diferente tomando cuidado para que ninguém os visse, Laian pôs a capa novamente para que nenhum ser pudesse o reconhecer caso algum deles os avistassem, mas não avistaram. Sol encontrou uma portinha pequena escondida por trás de um arbusto e era ali a passagem secreta. Deixaram seu cavalos presos e entraram naquele lugar apertado e escuro. Por um momento Laian pode ouvir a respiração ofegante de Sol, então ele notou que ela chorava e pararam na metade do túnel.
- Não consigo.... Laian eu não quero mais, por favor me tire desse lugar...
Laian a abraçou, ele também não queria estar ali, não pelo mesmo motivo que ela, por medo e trauma do ambiente em que se encontravam, mas por ainda não conseguir se sentir bem em Eprain onde um dia causou tanta desgraça.
- Estou aqui. Vamos continuar, está acabando... me perdoe Sol, eu não sabia que a passagem secreta era tão difícil.
- Estamos presos aqui? Vamos morrer? Eu preciso ver a luz!
- Sol por favor, isso não é um calabouço! Estamos bem, só mais um pouco...
Ele tocou em seu rosto molhado ela parecia mais tranquila, então recomeçaram a infatigável passagem até que enfim conseguiram sair e puderam ver que estavam em uma grande biblioteca. Era ali que todas as histórias incríveis estavam, era ali que muitas vezes Caspian e Laian viviam suas maiores aventuras juntos. Ele se recordou de um dia ter lido uma noite inteira junto com seu primo quando seus pais ainda estavam vivos, pela manhã não suportavam nem o canto dos passarinhos estavam exaustos e com muita dor de cabeça.
Sol ainda se recuperava do medo, sentada em uma das poltronas ela observou o jovem rei deslizar os dedos pelas fileiras de livros, absorvido em seus pensamentos. Ela se levantou e saiu dali caminhando pelos corredores que um dia correu junto com Charlotte, Sol passou pelo quarto que um dia foi seu, as flores postas em vasos de porcelana e pincelados a mão com fios de ouro, algumas lágrimas caíram. Então ela parou de frente para o salão onde uma noite um grande baile aconteceu, Sol caminhou até o centro e começou a dançar lentamente estava tão concentrada que não viu mais nada a sua volta. Ela gostava dali, pois foi o primeiro lugar mais lindo que ela havia visto quando estivera pela primeira vez naquele mundo.
Ela rodopiava ao som de sua imaginação, grinfos a sercavam de todos os lados e uma multidão de convidados a aplaudiam, por um momento ela estava acompanhada de alguém, era Daniel seu irmão mais velho, depois vinha seu pai, e seus outros irmãos, ela estava tão feliz! Então já não era mais nenhum deles e sim Caspian, Sol se entristeceu e se alegrou ao mesmo tempo, ela gostaria de pedir perdão, mas ele sumiu e então ela viu Laian, ele estava incrivelmente lindo, e dançava como ninguém, Sol sorriu quando ouviu ele dizer o mesmo dela.
- Quem é você? O que faz aqui?
Na mesma velocidade com que ela havia imaginado tudo aquilo ela voltou a tona. A voz familiar lhe causou um frio na espinha e Sol prendeu a respiração.
- Diga forasteira quem é você e como entrou aqui?
Sol baixou a cabeça, a capa e o capuz lhe cobriam a face e ela estava de costas para seu adversário.
Então Sol ouviu a espada de Caspian ser posta contra ela.
- Se não me disser quem é, não terei piedade! a matarei aqui mesmo.
Sol se virou lentamente e ergueu o rosto retirando o capuz.