XXXV Beije enquanto seus lábios ainda vivem

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Escorreguei a lâmina de minha espada pelas paredes de meu castelo, alguns filetes de fogo surgiram cintilando no ar. Deixei que meus olhos se fechassem para talvez quem sabe, as lembranças surgirem. Fui interrompido ao ouvir o som da grande porta se abrir, abri os olhos e a vi se aproximar. Vestia uma capa verde e seu olhar parecia o próprio inferno. Ergui a espada em minha mão ao vê-la se aproximar como uma serpente astuta. Prestes a dar o bote.
ㅡ Bruxinha maldita, como conseguiu fugir? Ninguém jamais conseguiu.ㅡ  Ela ficou em silêncio, seus lábios pareciam atrair minha atenção sempre que faziam menção de dizer algo, mas preferiam o silêncio daquela noite fria. ㅡ Que espécie é você? Como pode fazer tudo isso? Qual seu jogo? Ganhar Ósseas e Eprain e dominar todos nós? Diga algo sua aberração!
ㅡ Dessa vez ela sorriu, um prolongado sorriso que parecia vindo do mais detestável inimigo. Eu iria matá-la. A ponta da espada ainda tocou seu pescoço, ela parou em minha frente. Tirou a capa deixando a mostra seu corpo de sereia por baixo da camisola branca. Meus lábios se comprimiram. Eu estava mesmo poupando a vida daquele ser enviado dos mais terríveis abismos?
ㅡ O que você quer? Perguntei. Nada recebi como resposta, apenas o silêncio. Então a vi tocar a lâmina, seu dedo sangrou ao fazer isso. Afrouxei a arma em minha mão, depois deixei-a cair. Olhei para o chão pensando o que estava acontecendo comigo?
ㅡ O que quero de você? Pronunciou ela acabando com o silêncio. Continuei observando o chão. Senti a mão dela tocar meu rosto, era como um veludo, fechei os olhos, ela se aproximou ainda mais, tocando seus lábios em minha face. Soltei um suspiro. ㅡ Quero seu beijo rei Laian. Nossos lábios se tocaram e pude sentir meu corpo desejar aquilo como nunca antes. A abracei e ela parecia completamente entregue... Então despertei.
Uma porção de luz adentrava pelas janelas de meu quarto, as cortinas vez ou outra se remexiam, e eu estava me sentindo atordoado pelo sonho que acabara de ter, paralisado em minha cama com o coração acelerado feito cavalos selvagens em corrida. ㅡ Maldita feiticeira... Pronunciei e fez eco pela imensidão do quarto. Me levantei e fui ver o tempo lá fora, tudo parecia em plena calmaria... meus olhos encheram de lágrimas. ㅡ O que foi isto? Me perguntei.
ㅡ Será mais um dos truques dela? Será que foi assim que o miserável de meu primo foi enfeitiçado? Oh, por que meu coração bate tão depressa feito lobo em caça eufórica? ㅡ Ouvi o vento bater contra meu rosto. Eu precisava sair daquele quarto.

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ㅡ Onde estão Hirian e Mafri?
ㅡ Cuidando da masmorra alteza...
ㅡ Pois então reforcem ainda mais aqueles calabouços.
ㅡ Mas alteza... Não tem como reforça algo que já está totalmente protegido! ㅡ Parei de caminhar, me virando até o servo e o encarei. ㅡ E por que não? seu imprestável? Ele pareceu nervoso. Minhas mãos agarraram seu pescoço e todos os outros de meus homens ficaram em silêncio.
ㅡ Mestre o senhor me sufoca...  ㅡ E o farei de fato seu verme, se não desaparecer de minha frente e fizer o que lhe ordenei. Todos vocês seus inúteis, não permitam que ninguém daquele lugar fuja ou os matarei com minhas próprias mãos. Não permitam que ninguém escape, principalmente a bruxa infernal que lá está!
ㅡ Sim alteza... disseram todos. Soltei o pescoço do homem que tentava agora respirar normalmente e me retirei da presença de todos eles. Fui para o grande salão real onde pude sentar-me em meu trono e me sentir mais seguro de meus próprios pensamentos, que ora eram de meus pais, ora eram de Eprain, ora eram de Sol. Eu estava a um passo da loucura e o ódio só aumentava em meu coração.

As lembranças do rei Laian eram sombrias, tudo que conseguia extrair eram brigas de seus pais, as guerras e rumores de guerra, seu tirano pai que deveria lhe dar amor e proteção, lhe fazia ver e vivenciar o sofrimento de sua mãe que aos poucos sucumbiu-se a loucura e o descaso. Laian se recordou da vez que sua mãe tentou fugir do castelo com ele ainda criança. Laian se lembrava de ver sua mãe pegar em seus braços e beijar-lhe a face.
ㅡ Isto meu pequeno é para o caso de nosso plano dar errado e nunca mais poder ver seus olhinhos brilhantes outra vez.
ㅡ Mamãe, não me deixe aqui sozinho, tenho muito medo...
ㅡ E não o deixarei nunca meu amor! Mamãe levará você para nossa nova jornada.
Laian sentiu uma ponta de alegria e esperança ao ver sua mãe o puxar para correrem juntos dali. Eles até conseguiram sair do castelo e até ultrapassar os limites do rio que cobria o castelo e se transformava em gelo. Mas foram pegos pelos soldados de seu pai. Depois dessa noite Laian nunca mais vira sua mãe, pelo menos não em sã conciência. Todos diziam que ela enlouqueceu, mas Laian sabia o quanto ela sofreu trancada dia e noite em um quarto a sete chaves, sendo torturada e aflingida pelas ameaças constantes de seu tirano marido, o rei de ósseas e pai do pequeno Laian. Seu pai a matou aos poucos, a torturando psicologicamente até que ela sucumbiu ao delírio e no dia de sua morte Laian chorou até não ter mais forças. E como resposta a sua tristeza seu pai o bateu e lhe disse com frieza e monstruosidade que ele teria de aprender a ser um homem forte e que jamais deixaria as lágrimas o vencerem. Ou do contrário merecia a morte como sua mãe que era fraca.

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Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora