XXXI- O terrível calabouço

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Durante todo o caminho percorrido para as terras do Sul, como assim a chamam, Sol não conseguia compreender quais os planos maléficos de Laian; o rapaz ambicioso estava concentrado em observá-la feito um cordeiro ao matadouro e Sol não podia deixar de temer.
— Diga-me... de onde vieste? 
— Já sabes, por que ainda me pergunta?
— Já estive nas bandas do oriente, a terra dos gigantes me são agradáveis, pena que eles sejam tão fortes e não há quem os vença, mas estive lá em paz.
— O que tenho eu com isso?— falou Sol ríspidamente.
— Não lembro-me de tê-la visto por lá, naquele lugar gente como você não seria bem vinda...
— Pois vim de lá sim! Fui vendida como mercadoria pelos piratas...
— Já sei dessa história. As notícias, meu benzinho, correm soltas e se espalham rapidamente por estas terras sem fim.
— Como podes saber?
— Digamos que alguns de meus espiões me trazem notícias.
— Então há traidores entre o povo de Eprain?
— Não repita este nome nesta carruagem! Por hoje basta de ouvir sobre tal reino.
— Diga-me então alteza de Ósseas... Por que odiar tanto um povo que só quer paz?
— Quer mesmo saber?
— É o que quero.
— Porque suas existências só me trazem más lembranças.
— Vindas de sua parte?
— Cale-se! Não lhe devo explicações, contente-se em saber que seu amado logo entregará seu reino para mim e você será meu grande trunfo para este feito. Talvez se eu tivesse planejado isso antes de começar uma guerra, teria sido bem mais fácil e teria surtido efeito.
— És tão burro quanto ganancioso.
— Ah, cale essa maldita boca. Vamos soldado, faça essa criatura deixar de ser irritante.

O soldado que acompanhava o rei e a pobre moça, amordaçou-a e a fez ficar quieta contra sua vontade. Depois de chegarem nas terras Sul, Sol já podia sentir a diferença de ambiente pelo simples vento, que deixando de ser agradável e suave passou a ser congelante e cortante. A carruagem parou, as portas foram abertas e Sol pôde avistar o reino rodeado por montanhas de gelo e um castelo de pedra que não era muito diferente do de Caspian. Se não fosse pela rispidez, o descaso e o cruel cenário de portões de ferro e tochas por todos os lados para iluminar um lugar tão escuro. Parecia até que o próprio castelo carregava em suas brutas pedras a maldade que o terrível rei espalhava com orgulho pelos seus imensos corredores.
Dois soldados armados com lanças levaram Sol por aqueles frios corredores que mais pareciam um labirinto de pedras.
Ela não podia gritar por isso não tinha como implorar por ajuda de alguma alma bondosa, mas que alma bondosa vaguearia por lugar tão sombrio como aquele?
Depois de andarem tempo suficiente para que Sol perdesse a conta de quantas vezes virou a esquerda ou a direita, pararam em um lugar onde haviam grades e pessoas presas como bichos em gaiolas. Sol se assustou ao perceber que não seria diferente para ela, e ao ser liberta das amarras e jogada para dentro da prisão sufocante, Sol pôde gritar desesperadamente por sua liberdade, sua doce liberdade que daquele dia em diante não lhe seria mais concedida, pois estava condenada a passar o resto de seus dias trancafiada naquele terrível calabouço servindo como moeda de troca entre dois reinos rivais, caso Caspian não sedesse as chantagens descomunais de seu primo invejoso, aquele seria seu fim.

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Depois de muitas horas presa naquele lugar, Sol compreendia qual o sentido de inferno, não haveria sofrimento maior do que está trancafiada em um lugar repugnante como aquele.
Ela fechou os olhos enquanto as lágrimas jorravam sem medidas; era difícil se manter calma em um lugar tão solitário. Sol pensava em sua família, em seu pai, no modo como ele sempre a protegeu de todos os perigos, e agora já não fazia idéia se o veria sorrindo para ela outra vez, lembrou-se também de Caspian, ela o amava, mas não suportaria a idéia de pôr a vida das pessoas que ama mais uma vez em risco. Ela não merecia tanto. Sol estava sentada, seus joelhos cobriam seu rosto encharcado, seus soluços abafados pela imensa tristeza.
— O que fiz para merecer tudo isso?— Se perguntou a menina, no fundo de seu coração.
— Não deverias chorar tanto... Neste lugar deve-se poupar até mesmo as lágrimas, irá precisar delas quando seu corpo já não suportar a desidratação. — Disse uma voz vinda da escuridão ao lado.
Sol parou de chorar e ficou temerosa, assustada por assim dizer.
— Quem está aí?
— Ninguém muito importante. Apenas alguém mais velho de prisão do que a menina...
— Não consigo lhe ver. Apareça! — Disse Sol perturbada. Não era muito agradável conversar com alguém que não podia ver.
— Tudo bem, tudo bem... Mas já vou logo lhe dizendo, não tolero deboches. — Disse a voz enquanto Sol o ouvia se remechendo e ao notar um pequeno ponto de luz, vindo do que parecia ser um candelabro. Ao lado de sua sela Sol pôde enxergar a figura esquisita de um pequeno homem barbudo de face carrancuda e olhar intimidador.
— Você é bem pequeno... — Disse Sol.
— E você bem pálida! pelas barbas de meus primos! Como é magrinha... Não vai durar muito tempo, pelo visto minha nova companhia não me fará companhia por muito mais que dois dias.
— Ora... Eu também não costumo tolerar deboches! — Disse Sol soando zangada.
— Como se chama minha vizinha de sela?
— Não sei se devo me apresentar a estranhos...
— Bem, então eu começo. Me chamo Bartolomeu e sou forte como um lobo! sou um anão e já tenho quase sessenta anos.
— Minha nossa!
— Eu sei... Não é muita coisa, mas posso dizer que sou bem experiente em questão de sobrevivência.
— É mesmo? Então como posso sair daqui?
— Eu disse sobrevivência, não de fuga.
— Ah, perdoe-me senhor Bartolomeu, mas não vejo meio de sobrevivência trancados em um lugar como este.
O anão passou a pequena mão em sua grande barba escura como se estivesse a pensar.
— Você tem razão, há poucos dias morreu um falno de fome, sede e frio. Ele vivia dizendo que ainda viveria para ver o dia em que contemplaria o sol brilhante de seu reino... Pobre Grieg, era um bom falno...
— Mas que coisa terrível! Então é isso? Nos jogam neste calabouço nojento e nos deixam morrer de fome, sede e frio?
— Na verdade... Grieg já estava condenado a morte quando enfrentou o terrível rei Laian.
— Não me fale neste rei. Não posso compreender como alguém pode ser tão mau.
Os dois presos se aquietaram, Sol podia ouvir o barulho do vento vindo sabe-se lá de onde, já que para todos os lados só se viam imensas paredes de pedras. Ela estava tão cansada que poderia dormir ali mesmo, no chão duro e frio do calabouço, mas depois de ver o vulto de um rato passar por entre as grades de ferro, ficou temerosa, ela tinha pavor de ratos.
— Mas você não me disse seu nome...
— Sol, este é meu nome. —Disse ela, entre um suspiro.
— Você tem um belo nome. Sim! um lindo nome, sabe isso até me alegra a alma.
— Por que meu nome te alegra?
— Sol é luz, é vida e calor, já faz tanto tempo que estou preso aqui, sem poder enxergar o sol que ouvir sobre ele já me enche de alegria.
— O senhor tem razão. Ao menos para alguma coisa sou útil, lembrar que o sol existe. — Disse ela, soando triste.
— A menina está muito cansada, nem fala coisa com coisa! Pobrezinha deve estar com fome.
— E na verdade estou, mas o que fazer?
— Tome, tenho este pequeno pedaço de pão e esse pouco de água. Foi o que me deram ontem a noite e eu guardei para uma possível emergência. Lembra que lhe disse sobre ser muito bom em sobrevivência?
— Senhor Bartolomeu, eu... Não posso aceitar! e o que o senhor comerá?
— Não te preocupes comigo Sol, já estou acostumado a essa vida de privações. Agora pegue a comida e se alimente. Ficarei feliz em ajudá-la.
Sol pegou o pouco de comida que lhe foi estendida por entre as grades das selas, ela estava grata pela imensa bondade daquele pequeno ser. Já tinha ouvido falar sobre os anões quando vivia em Eprain, Charlotte lhe contou um pouco sobre eles, ela não mentia quando disse que eram um dos seres mais gentis e bondosos que existia.

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Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora