XXXVI-Juntas morreremos

165 21 3
                                    

Depois da longa conversa desafiadora e terrível que Laian havia tido comigo e meus irmãos fiquei a meditar em tudo que tinha acontecido em minha vida desde que descobri este mundo. Por mais que eu quisesse ser feliz parecia que era-me um desejo dos mais insanos este. Sempre haveria algo para perturbar minha alma, atormentar meus pensamentos, tirar-me a paz e o consolo. Só em imaginar meus irmãos mortos amanhã por minha culpa me dilacerava o coração. Laian tinha razão quando se referia a mim como uma imprestável, era realmente alguém inferior a qualquer um daquele mundo e posso até acreditar em meu próprio mundo também, sempre atraí desgraça para todos.
Fui arrancada de meus pensamentos ao ouvir uma voz vinda do escuro da masmorra. Era o bondoso Bartolomeu.
- A menina está bem?
Suspirei em desânimo, dizer um sim seria pura hipocrisia, então optei pelo silêncio.
- Queres fugir daqui Sol? Aquela sugestão me soou como música aos meus ouvidos.
- É o que mais anseio...
- Você pode sair! é só agir...
Ergui o rosto para tentar enxergar Bartolomeu.
- O que posso fazer meu amigo? Estou presa aqui como você e morrerei feito um rato encarcerado, como posso agir nestas humilhantes condições?
- Pobre moça... sua esperança começa a murchar como flores jogadas num jardim cheio de pragas. Tenha mais ânimo minha doce Lady! Este não é seu lugar. Você pode tudo que quiser, basta querer!
- Estou farta desta miserável vida Bartolomeu! Estou cansada de todo esse sofrimento. Me mate de uma vez meu bondoso amigo, faça isso e serei eternamente grata. Só não faço eu mesma por saber que minha alma será torturada no inferno.
- A sua e a minha se tirar-te a vida! Estais a delirar de dor pobre criatura. Venha, se aproxime...
Por um momento senti uma fonte de esperança para minha terrível dor, era agora o fim de minha agonia. Me aproximei de Bartolomeu que ao estender a mão pela grade me tocou na testa enquanto eu esperava que um punhal ou algo assim me tirasse a vida.
- O que fazes tu?
- Estais ardendo em febre menina! Pelos céus.
- Ande homem! Mate-me agora mesmo! Gritei suplicando a Bartolomeu.
- Não vou precisar, se continuares em febre deste jeito vais morrer em poucas horas...
- Oh, Senhor meu, acabe logo com isso, tire-me logo daqui para teu seio de amor e paz. Disse olhando para o teto nojento. E em meio ao meu choro lembrei de meu pai, e por mais incrível que pareça vi a imagem dele com minha mãe em minha mente. Ela era a criatura mais linda que já havia visto. Enquanto essa imagem penetrante em minha mente não se apagava podia sentir as grades das selas tremerem e as paredes de pedras sólidas quase a se partirem, a masmorra ou o castelo inteiro tremiam? Me fiz essa pergunta enquanto estava jogada no chão sentindo dores pelo corpo cansado.
- Isso Sol! Estou falando disso. De seu grandioso poder!
- Minha menina...
- Vamos Sol, acabe com isso de uma vez! Destrua esta jaula...
- Seus cabelos são como fogo... - Disse a voz em sua mente, a doce voz de sua mãe.
- Vamos Sol... Você consegue minha guerreira.
- É a criatura mais fascinante que já vi.
- A masmorra caiu por terra! prisioneiros! Saíam, saíam todos! Gritou Bartolomeu enquanto uma imensidão de poeira e pedras caiam por cima deles, o mais incrível é que ninguém se machucou, ninguém a não ser os soldados do rei. Todos foram mortos pela fúria do tremor e do peso das grandes pedras que lhes esmagavam como insetos. Bartolomeu sorria eufórico. Ele correu até Sol que permanecia no chão intacta e ainda com vida, ela estava muito fraca.
Alguém me ajude a carregá-la?
Uma das criaturas metade homem metade cavalo socorreu Bartolomeu e Sol os tirando do que sobrou da masmorra, a luz ali era presente e a neve caia sobre eles como um toque de fada.
- Ela ainda vive Bartolomeu? Perguntou Alado a bizarra criatura.
- Está muito fraca, temo o pior a ela... Sol nos salvou Alado, esta menina salvou a todos nós da eterna prisão.
- Ela é mesmo quem penso que seja?
- Sim. Ela é.
Eles correram pelo gelo e perceberam que tirando os calabouços o castelo do tirano ainda estava de pé.
- Nem um sinal dele ainda...
- Não vamos esperar para vê-lo não é? Perguntou Bartolomeu.
- Desejo o sangue deste miserável como o maior prêmio para minha consolação.
- Agora não! Mas logo mais Eprain combaterá eles, estaremos aqui para ajudar, mas a pobre menina sofre, ela não vai durar mais que algumas horas, respira fraco e já não tem cor na face; Vamos ao menos levar o corpo ao grande rei Caspian.
Eles observaram Sol, ela estava muito fraca, não conseguia abrir os olhos, realmente era de cortar o coração o fim da última das bruxas brancas, uma das mais poderosas deste mundo.
Correram então em direção às terras de Eprain, o gelo começou a se partir por conta das cavalgadas pesadas de Alado, eles estavam encurralados; ao longe puderam ver os primeiros sinais do batalhão de homens e elfos do rei Laian ao longe se podia ver a fúria deles contra os fugitivos...
- Corra Alado... corra... gritou Bartolomeu que parecia em fúria. Mas o gelo se quebrou os fazendo afundar na imensidão de água congelante. Enquanto eles afundavam Bartolomeu soltou-se de Sol e a água foi a afastando deles. Estavam nas profundezas quando Alado conseguiu recuperar a garota. Bartolomeu e Alado nadaram até a superfície do gelo e para sorte deles os soldados de Laian estavam ocupados em lutar contra o restante dos fugitivos. Mas não demorou muito para o verem. Bartolomeu conseguiu sair da água, alguns elfos se aproximavam...
- Perdão Sol, mas com suas roupas não vamos muito longe, estão pesadas para mim. Ele retirou do bolso um canivete e rasgou as vestes de Sol que a essa altura já não respirava. Correu carregando a pobre moça, seus cabelos vermelhos tocavam o chão transparente de gelo. Bartolomeu sentiu algo perfurar suas costas e em seguida caiu junto de Sol no chão. Ele foi apunhalado pelas costas por um dos elfos que agora puxava Sol para longe dos olhos ainda abertos do homenzinho que Sol um dia tanto teve afeto. Ele deixou uma lágrima cair no gelo antes de morrer. O elfo retirou sua espada do corpo sem vida do anão.
- Seres imundos...
Vamos soldados matem de uma vez todos estes vermes! Disse o elfo.
- E ela Mafri? Apontou um dos soldados para o elfo que tinha Sol em seus braços.
- Ela já está morta.
- Largue ela seu miserável! Ouviu-se uma vozinha soar pelo vento. Todos olharam para a raposa que parecia estar furiosa.
- Mas o que é isso? Algum tipo de esquilo falante? Disse o elfo.
- Vou lhe mostrar seu patife. Charlotte avançou no elfo agarrando seu pescoço enquanto este se debatia no chão, Sol foi jogada de lado e alguns soldados avançaram em Charlotte. Eles lutaram com ela e depois de algum tempo o elfo preso em seus dentes parou de se debater.
- Quem é o esquilo agora?
- Matem essa raposa! Ela é uma Eprain! Matem-na, eles estão aqui! Onde está o rei?
Charlotte avançou neles, mas eram muitos, logo foi ajudada pelo povo de Eprain, Caspian correu até sua amada e chorou imensamente ao notar que ela não mais vivia. Ele gritou e matou a todos que se aproximavam. Até que ao longe viu seu maior inimigo se aproximar como se nada estivesse acontecendo. Laian parecia absorvido em si mesmo.
- Miserável! Mil vezes miserável! Vou acabar com você nem que para isso eu destrua Ósseas inteiro só. Gritou fortemente Caspian com Sol em seu colo.
Laian parou; e os observou, parecia cansado. Seus olhos azuis estavam irritados como se ele tivesse chorado horas, notou Charlotte. A raposa se aproximou de Caspian e de Sol.
- Mate ele rei Caspian, destrua ele e honre o nome de sua amada.
Lilive se aproximou, desesperada.
- Não! Ele vai matá-lo também Charlotte! Por favor meu rei não faça isso! Laian é traiçoeiro e estamos em desvantagem de comboio...
De nada adiantou as súplicas de Lilive; Caspain já havia partido em direção ao seu adversário e recomeçaram a luta feroz na espada. Incontáveis dos Ósseas se aproximavam de nós. Charlotte estava ferida, notei seu sangue escorrer, mas ela se mantinha agarrada a Sol, as duas pareciam uma só de tão unidas, nem que para isso custasse a vida da menina que jazia perecida ao lado da angustiada raposa que chorava a perda de sua amiga. Aquela cena cortava meu coração, vi um dos homens de Laian se aproximar prestes a me acertar com sua espada, mas me protegi e protegi o tempo todo Charlotte. Estávamos encurralados e aquele seria o nosso fim. Olhei para Caspian ao vê-lo lutar com tanto ódio, nunca o vi tão amargo. Deixei uma lágrima cair antes de matar o último dos homens em minha frente, muitos outros estavam surgindo e eu já estava fraca.
- Caspian... Vamos embora daqui! Eles são muitos e certamente vamos morrer.
Os dois continuaram travados na luta, até que Caspian foi atingido por um golpe na barriga e começou a perder muito sangue. Gritei e corri em direção a eles. Laian tirou a coroa de Caspian satisfazendo assim sua ambição egoísta. Ele se afastou deixando o primo caído no chão.
- Maldito Laian! Você o feriu. Você não pode matar seu primo! Laian por favor, você está envenenado de ódio e ambição, deixe Caspian em paz! Por sua família que é a família dele! Rei Laian pareceu refletir, ele chorava como um infame o rio de sangue causado por seu ódio descomunal. Ele correu até Charlotte, gritei agarrada ao rei Caspian.
- Deixe-as maldito! Deixe elas... Caspian gemeu de dor ao tentar se levantar, mas não conseguiu, estava muito ferido.
- Proteja ela Lilive. Pelos céus, proteja o corpo de minha amada e de Charlotte. Não deixe...
Não deixe ele nos torturar ainda mais...
Voltei minha atenção para Laian, mas ele já havia partido levando consigo o corpo de Sol, ao longe pude vê-lo caminhando no gelo com ela em seus braços. Me perguntei o que ele faria...
Não tive tempo de dizer a Caspian ele apagou pela perda de sangue, corri para Charlotte que também estava ferida. Uma ajuda dos céus veio ao nosso encontro, eram as águias gigantes que sobraram de nosso reino. Nos tiraram de lá rapidamente. Mas a menina Sol desapareceu junto com seu opressor. Se Caspian sobrevivesse jamais se perdoaria.

Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora