XLIX-O portal para Ósseas

102 9 0
                                    

Não havia mais tempo todos precisariam ultrapassar logo aquela passagem de volta ao reino de Ósseas. O mago Herlom havia feito uma espécie de magia para transportar seus visitantes de volta para o reino de seu senhor Laian. O jovem rei já havia feito aquilo antes, Leonard também, mas Sol nunca, ela se recordava o dia em que foi parar na floresta mágica de Eprain. Sol não sentia medo, apenas um frio na barriga que ela tinha certeza ser euforia. Estava muito feliz por enfim saírem dali. Havia um portal encantando na parede da sala do castelo de Herlom, ele parecia contente com seu grande feito, Laian ainda continuava triste isso Sol pôde notar e estava preocupada.
- Sol.
A menina encarou o mago que a chamou docemente.
- Quero me desculpar se não fui tão convidativo, mas veja bem, tenho mágoas de um passado traidor para Suzana, ela foi uma grande amiga.
Sol observou seu adversário de magia tocar o pingente de pedra em seu pescoço, ao ser tocado a pedra vermelha iluminou-se. Ele retirou de seu pescoço e a entregou a Sol.
- Não posso aceitar...
- Por favor minha criança, essa jóia pertence a você, ela foi de sua mãe e a ganhei de presente quando esta decidiu fugir com seu pai para um outro mundo.
- Pegue Sol, ela é sua. Disse Leonard se recordando bem da jóia que pertenceu a sua amada Suzana.
Sol a pegou e a segurou firme quando sentiu seu corpo adentrar no portal mágico. Ela sentiu seu corpo leve, como se flutuasse, seus olhos não conseguiam contemplar o que havia ao redor eram apenas fumaça negra que explodia uma espécie de energia e a fazia querer tocar, ela estendeu a mão mas seu pai a conteve, ele estava bem ao seu lado para lhe proteger, o mais rápido que Sol conseguiu contar já estavam em Ósseas. Como não reconhecer aquele lugar congelante? Logo uma multidão de soldados surgiram, Mafri o elfo estava entre eles, mas não era só isso, Sol deixou um sorriso de emoção tomar conta ao ver que seus irmãos, todos eles estavam vindo em sua direção e de seu pai. Ela não conseguiu esperar, já passaram muitos dias para que aquele momento em família pudesse se concretizar, a menina saiu correndo em direção a seus irmãos o primeiro que a segurou em seus braços foi Simão, um abraço do qual surgiu a esperança e o amor que nunca haviam depositado em sua irmã. Seria o arrependimento?
Sol chorava de alegria e seu pai também ao ver todos os seus filhos reunidos.
Depois cada um pôde abraçar a irmã, o último deles foi Daniel; Sol viu em seus olhos não aquela velha ira, não mais.
- Será que um dia você nos perdoa por tudo que te causamos Sol?
A súplica de Daniel a tocou profundamente.
- Isso tudo ficou no passado meus irmãos. Agora tudo que importa é que estamos juntos novamente. Quero lhes agradecer por me procurarem todo esse tempo, por não desistirem de mim.
- Mesmo que nunca demonstrassemos Sol, nós sempre nos preocupamos com você, só éramos covardes demais para demonstrar isso.
- Eu sempre soube que no fundo daqueles corações selvagens e cheios de orgulho existiam meus irmãos amorosos de verdade.

꧁꧂


A noite caiu rapidamente, estavam todos reunidos na grande lareira do palácio real de Ósseas, haviam frutas, carne e muita fartura de vinho, tanto seu pai quanto seus irmãos e alguns soldados do rei estavam embriagados. Sol só não sabia se aquela era a forma correta de se divertirem. Ela estava feliz assim como eles, mas ainda sentia seu coração apertar, doer, como se o futuro fosse um martírio. Sol observou Laian conversar com Mafri que durante toda a festividade não parecia se agradar muito e Laian parecia tentar o convencer de ser mais amigável com todos. Ele notou que Sol os observava e Sol tentou disfarçar olhando para o colar que pertenceu a sua mãe. A pedra ainda brilhava.
- Não fique assim.
Sol fechou os olhos, ela adorava ouvir o som da voz de sua mãe, ela sempre esteve lá, o tempo todo, Sol só não sabia quem ela era, mas agora sabe.
- Eu te amo.
- Eu também mamãe.
A menina abriu os olhos, Laian a observava, ele estava com algumas uvas nas mãos.
- Trouxe para você, notei que não comeu quase nada do grande banquete que garanto foi o próprio Mafri que organizou.
- Que cortês da parte dele. Mas ainda sinto que seu ódio contra mim só cresce.
Laian se abaixou e sentou ao lado de Sol, eles observaram um dos irmãos de Sol, Edmundo fazer alguns passos de dança.
- Seu irmãos são bons dançarinos e sabem apreciar uma boa festa.
- As belas moças de Lebanon que o diga.
- Esse é o lugar de onde veio?
- Sim.
Os dois ficaram em silêncio, Sol viu Mafri sair do grade salão e ir em direção ao que um dia foi os calabouços daquele reino gelado.
- Me diga, como é lá?
- Simples. Mas tem muitos campos, tem muitas ovelhinhas, muitas flores e mel silvestre. Ah, eu adoro o mel.
- Posso pedir que tragam para você, acho que temos aqui...
- Sinto falta de lá.
Laian baixou o rosto, ele não queria olhar para ela e ver seus lindos olhos esmeralda derramarem uma só lágrima mais.
- Ah, como eu sinto falta de ser apenas eu. Aquela garota camponesa de pés descalços e fita no cabelo. De correr livremente e de costurar minhas próprias roupas. Estou tão cansada Laian, cansada de ser o que nunca desejei ser.
- Então não seja. Apenas seja o que você deseja ser. Se ser a Sol camponesa te faz feliz, então seja ela, mas seja feliz e eu também serei.
Sol olhou para Laian, os olhos dele a admiravam como se nada mais existisse, ela também o olhava assim.
- Eu a amo Sol, ah como eu a amo. Te perder para esse mundo que você se ilumina ao dizer sobre ele, me faz querer, me faz desejar o fim dele.
- Laian...
- Eu te devolvi tudo que consegui devolver, seu pai, seus irmãos, mas a sua liberdade me perdoe Sol pelo que vou dizer, mas como eu queria que você ainda fosse minha prisioneira, pois eu ainda a teria, eu a possuiria só para mim.
Sol tocou os lábios de Laian. Ele chorava e parecia em pedaços.
- Conhecer você Laian, foi a pior e a melhor coisa da minha vida. A pior porque foi da pior forma que uma garota poderia encontrar o amor e a melhor, porque foi encontrando o amor que me liguei a você.
- Me perdoe Sol, me perdoe todo o mal que te causei, me perdoe por seus amigos, pelo pobre anão Bartolomeu, por todos os animais falantes de Eprain, por tudo e por causar tanta dor em sua vida...
- Você me causa amor Laian! Amor! Pelos céus Laian, eu o amo. Eu o amo muito!
- Então fique comigo! não sou digno de lhe pedir nem mesmo um mísero tapa para redimir meus pecados, mas pelos céus Sol, fique comigo para sempre ou eu não terei paz, nem alegria nesta existência devastada de ilusões e dor.
- Eu não posso.
Aquelas palavras foram duras demais para o pobre coração do rico rei. Ainda que ele fosse dono de muitos bens, não poderia jamais ser dono do coração de quem mais amava e estimava neste mundo.
Laian se levantou e saiu do salão, deixando todos para trás a se divertirem, Sol o seguiu.
Ao longe Leonard percebeu e correu para alcançar a filha, mas o elfo Mafri o parou.
ㅡ  Leonard. ㅡ Chamou o elfo com seus olhos cinza e seu semblante sempre sério e superior.
ㅡ  Deixe que eles conversem, creio que eles carregam fardos que precisam ser superados... ㅡ Leonard parou e observou Sol desaparecer na imensidão do palácio.

Ela corria tentando alcançar Laian, a noite congelante não lhe dava mais frio e sim, forças para vencer o medo do que ele pretendia fazer. Ela deixou com que seus sapatos que não foram feitos para correr na neve ficassem enterrados no gelo assim como todas as lembranças ruins que já tivera dele.
Sol correu, seus pés estavam dormentes e quando parou percebeu que estavam no estábulo onde seu cavalo e de Laian estavam.
Ela prendeu a respiração ao ver Laian com um punhal, apontado contra seu próprio peito.
- Não faça isso. Laian! Gritou Sol.
- Não tenho motivos para continuar aqui Sol. Não há mais sentido em existir.
- Você é o rei deste povo!
- Grande rei sou! Um miserável que passou a vida massacrando este povo com guerras e sangue.
- Você era só alguém vazio e triste.
- E o que sou agora para você? O que sou?
- Laian; o meu Laian, o mesmo que se libertou das garras de seu próprio orgulho, ódio e rancor. Isso foi milagre, você é um milagre!
- Eu nada sou.
- Preciso de você Laian, eu ficarei.
- Não por piedade. Laian ia perfurar seu peito quando Sol usou seus poderes para fazê-lo soltar o punhal o arremessando ao chão. Ele caiu chorando e Sol correu e o abraçou.
- Nunca mais ouse tirar a própria vida. Ela não o pertence querido Laian.
- Miserável vida.
- Não! É a minha vida.
Laian olhou nos olhos de Sol, os dele encharcados.
- A sua vida não existe mais Laian, ela é minha e eu sou sua.
- Não quero que fique por...
- Ficaria em qualquer lugar desde que você esteja lá. Eu disse que não poderia, mas sei que meu pai vai entender.
- Promete?
- Eu prometo.
Laian a beijou, sentia-se leve outra vez, apesar do cansaço, ele não iria desistir por ela.
- Preciso ver seu primo. Preciso concertar algo que não foi concertado antes e então Laian...
- Então?
- Nos casaremos.
- Esqueça ele Sol! Esqueça meu primo.
- Não podemos Laian! Devemos isso a eles! Não vamos fugir a vida inteira. - Ele pode te fazer algo.
- Ele nada fará a mim, a não ser me odiar para sempre, mas isso não importa, desde que tudo seja esclarecido. Já não suporto mais esse passado tão perturbador, já não suporto mais me esconder em meu túmulo, estou morta para eles, e eles não merecem essa triste lembrança e nem você carregar essa terrível culpa.

Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora