XLVI-Uma passagem secreta

121 13 1
                                    

Depois que a tempestade sessou um pouco mais, os dois viajantes saíram rumo ao reino de Ascalom; caminharam muito até chegarem em um rio completamente congelado, Laian disse que o rio se chamava espelho das fadas. Sol se perguntou como poderia ser se no reino do Sul não haviam fadas, Laian lhe explicou que antigamente ambos os reinos tinham livre acesso e muitas fadas ficavam a margem daquele rio cantando e se olhando no reflexo das águas calmas, que agora estavam congeladas. Devia ser um rio muito lindo quando descongelado e a natureza ao redor também! Pensou Sol. E caminharam muitas horas pela encosta do grande rio até chegarem em uma cachoeira gigantesca. Aquilo deixou Sol fascinada, era tão convidativa quanto repugnante ao frio extremo que fazia, Sol se imaginou por um momento tomando banho ali se o clima fosse agradável e acolhedor, mas agora tudo que desejava era chegar logo nesse tal reino do qual já faziam dias tentavam alcançar, depois de alguns minutos parados da frente da cachoeira Laian pediu para que Sol o seguisse.
Ela o observou descer do cavalo e caminhar por entre as pedras até tocar com os pés a água. Ele parou e olhou para trás para ver melhor a menina.
- Você não vem? Perguntou ele como se Sol soubesse qual era sua intenção, mas ela não sabia e só aí ele se deu conta de que era a primeira vez que Sol visitaria aquele lugar. Então ele voltou fez Sol descer do cavalo ainda relutante e ao lhe explicar o que fariam a seguir tentou ser o mais rápido e compreensível possível. Na verdade ele estava exausto e isso lhe deixava um pouco nervoso.
- Você está me dizendo que vamos entrar dentro da cachoeira? Que lá atrás existe um reino?
Perguntava Sol incrédula.
Laian confirmou que sim com a cabeça; seus dedos das mãos estavam congelando, a temperatura próximo da água era insuportável.
- Laian...
- O que foi Sol?
- Estou com medo... Agora que chegamos até aqui, não sei se...
- Do que você tem medo? Laian não conseguia entender, mas então logo percebeu, qualquer lugar escuro, molhado, frio e que deixasse Sol com a sensação de estar presa lhe deixava em pânico. Pensar naquilo o fez se sentir um monstro, pensou ele. Eles iriam atravessar as águas, iriam tocar uma pedra específica que Laian sabia e pronto! a grande rocha por trás da cachoeira se abriria dando uma nova visão a eles. De um lugar totalmente diferente, fazia bastante tempo que Laian estivera ali, mas se lembrava bem daquele lugar, Sol iria gostar também, depois que conseguisse convencer ela.
Ele tocou sua mão, estava agradavelmente quentinha e levemente rosada assim como suas bochechas, mas seus olhos grandes e verdes estavam cheios de medo. Ele gostaria de guardar ela em seu coração assim como o sentimento que por ela nutria, mas não era possível. Então se aproximou e lhe beijou a testa.
- Vai ficar tudo bem, tem um lugar incrível por trás destas rochas, sei que não mereço tal privilégio, mas por agora... confie em mim. Você consegue Sol? A pergunta parece ter a pego de surpresa, ela fechou os olhos e mordeu os lábios, Laian a admirou por um tempo, ele realmente estava apaixonado, nunca notaria tantos detalhes em tão pouco tempo em uma moça. Ela então reponde...
- Eu confio em você Laian! Determinada a vencer seus medos Sol segura as rédeas de seu querido cavalo e com a outra mão é conduzida pela mão forte e protetora de Laian, os quatro seguem em direção ao rio, Laian explica que precisam ser rápidos pois o toque por completo com água e um longo período de tempo poderia ser o fim para eles, pois congelariam em minutos. Sol concorda e ao tocar os pés na água sente sua voz sair sem querer com um leve gemido de dor, era tão fria e tão dolorosa quanto navalhas cortando os ossos. Laian olha para trás para ter certeza de que ela ainda estava ali, mesmo segurando forte sua pequena mão ele tinha medo de que algo pudesse a acontecer; e ela estava, olhava para ele como se ele fosse uma luz no fim do túnel. Logo ele subiu nas pedras em fileira seu cavalo também ele o soltou e o animal inteligente seguiu sozinho para debaixo da cachoeira, eles o observaram quando a água fria caiu sobre seu lombo e logo ele sumiu.
- Tudo bem, vamos Sol, é a nossa vez e de Estelar, certo? Ela concordou e fechando os olhos, segurava firmemente a mão de Laian os dois sentiram uma pancada de água forte e congelante sobre eles, mas não durou muito, logo estavam de frente para um grande rochedo e haviam pássaros de monte pelas fendas das pedras, onde por sinal, observaram haviam milhares e milhares de ninhos e filhotinhos penosos cheios de fome ansiosos pela volta de suas queridas mamães. O barulho das águas ali era ensurdecedor e Sol observou quando Laian estendeu o braço em direção a uma pedra em meio a outras incontáveis, seus dedos pálidos e molhados tocaram a pedra e logo um outro barulho se pôde ouvir, Laian teve de gritar para que Sol o compreendesse.
- Bem vinda a Ascalom.
Sol ficou admirada ao ver a imensidão de pedras se partirem e uma grande e larga fenda surgir convidando-os a entrarem, eles entraram e Sol não sabia se sorria de alegria por terem enfim chegado e estar tão perto agora de reencontrar seu pai, ou se ela abraçava forte Laian por todo seu empenho em ajudá-la. Ela sentiu seu coração bater descompassado a medida que a escuridão acabava e a luz do outro lado surgisse. Quando enfim entraram Sol teve o mesmo fascínio que tempos atrás, quando descobria pela primeira vez a passagem que a trouxe para Eprain. Ela se recordou daquilo e sentiu-se triste por um momento. Mas tratou de esquecer percebendo que não estavam mais sozinhos e sim rodeados por muitos homens com espadas e arcos, e vestidos em armaduras e capas de pele de ursos para aquecê-los. Eles apontavam as armas de guerra na direção dos dois jovens e já tinham prendido os cavalos quando Laian lhes disse apenas algumas palavras.
- Digam a seu mestre que o grande rei de Ósseas chegou...
Logo os homens baixaram as armas e foram mais gentis, conduzindo ambos ao castelo adiante. Sol observou os cavaleiros de Ascalom como assim chamou Laian, todos de armaduras escuras e passos firmes, nenhum sorriso durante todo o caminho, apenas o som de passadas largas, armaduras de metal batendo contra as lâminas afiadas de suas espadas e seus olhos negros como o próprio inferno. Por um momento um deles a fez lembrar de seu irmão mais velho, Daniel. Mas então Sol começou a notar o imenso lugar que estavam, era uma grande cidade, cheia de casas e pequenos vilarejos construídos minuciosamente bem em lugares improváveis, como grandes barrancos que nunca se ruiriam por serem de pedras e que somente por meio de pontes de cordas flutuantes poderiam os levar até lá de tão alto. Sol sentia dores pela nuca e devia ser por estar olhando para cima por tanto tempo, mas ao olhar para baixo nada a deixou mais tonta e arrependida. Estavam caminhando sob uma ponte de madeira e cordas, até aí tudo bem, mas a imensidão do precipício logo abaixo era indescritível e fez Sol titubear um pouco, Laian a susteve o tempo todo. E ela se perguntou quantas aventuras mais passaria até conhecer esse tal Mago. Não demorou muito e chegaram enfim do outro lado, para a alegria de Sol...
Os pássaros sobrevoando o alto das casas que a medida que subiam montanhas acima ficavam cada vez menores e ela podia ver pessoas descerem de lá naturalmente. Os olhos de todos estavam a observá-los, pareciam curiosos com com a chegada de visitantes forasteiros em seu submundo, mas alguns Sol notou, crianças nas janelinhas acenavam para eles e Sol pereceu que era para Laian, aqueles pequenos o conheciam e ele parecia bastante bem vindo ali. Vez ou outra Laian mandava um aceno também e um belo sorriso. Ele era tão gentil e bondoso quanto o próprio Caspian, notou ela, e se perguntou no fundo de sua alma como ele poderia ter sido tão cruel tempos atrás?
Agora que estavam parados em frente um castelo. O único olhar que Sol conseguia encarar sem sentir medo era o de Laian.
Ele sorriu docemente para ela, Sol retribuiu com um aperto suave na mão fria dele. Então eles sentiram alguém lhes tocar e os conduzir para dentro do castelo não tão grande quanto de Ósseas e Eprain, mas ainda sim, deixava Sol encantada, ela poderia imaginar os anos e anos que se passaram até um lugar daqueles estar de pé hoje. Ao chegarem lá dentro, sentiram o ar quente e aconchegante que vinha das lareiras, era um ambiente muito aconchegante e tinham rosas vermelhas espelhadas para todos os lados, o piso era extremamente brilhante e liso, Sol conseguia ver seu reflexo nele; mas ao se ver através de um dos espelhos infinitos pois pareciam não ter fim ao serem postos de frente para o outro, se deu conta do quanto estavam de fato exaustos. Alguém se aproxima e para felicidade de Laian era um homem forte, alto, de postura seria e uma barba negra bem cumprida na altura de seu peito de onde pendia um colar e uma espécie de amuleto, era uma pedra vermelha que Sol achou muito bonita. O homem ao ver o jovem rapaz deixou um sorriso transparecer de sua face carrancuda e abraçando Laian lhe mostrou o quanto ele era bem vindo ali.
- Mas que devo a honra de excelentíssima visita meu rei? A voz do homem era áspera e forte, parecia um trovão, Sol poderia jurar.
- Vim por uma missão...
- Isso vejo bem! Olhe para seu estado! É deplorável alteza...
- Grato pelo elogio Herlom.
O homem sorriu alto com o comentário do rei como assim ele se referia a Laian. Sol se sentia desconfortável e ansiosa.
- Trouxe alguém... especial... Esta é Sol. Disse Laian apresentando Sol ao homem que ao vê-la parecia em choque. Sua expressão feliz e descontraída parecia diferente, voltou a ficar sério e seus olhos se encheram como se estivesse prestes a chorar. Ele se aproximou ignorando o rei e tocou suavemente o rosto da menina, que parecia confusa demais para compreender. Então ele a abraçou para surpresa de Laian e de Sol.

Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora