Ficaram nos olhando por um longo período de tempo mais do que Sol podia suportar sem se recordar do quanto foi protegida por Caspian desde que chegara naquele lugar que não lhe pertencia. Ela tinha a estranha sensação de que tudo estava prestes a acabar, Sol sentia a culpa invadir seu coração novamente ao fitar os olhos negros de Caspian, mas eles já não eram o mesmo, ele havia mudado, estava muito sério, olhos vazios e misteriosos como se tentassem encobrir mágoas e rancor.
Os lábios dele estavam entreabertos e Sol notou que ele queria dizer algo, mas continuou em silêncio até que uma lágrima caísse, depois outra e mais outra de seus olhos cansados. Ela sentiu tanta culpa que já era a pior tortura que poderia suportar.
- Caspian...
Sol pronunciou o nome dele com certo temor, como se fosse proibido.
- Você morreu!
- Não!
- Ele a levou para sempre...
- Caspian...
- Pare!
Sol se assustou quando o ouviu gritar lhe pedindo que parasse. Então ele deixou a espada em sua mão cair e tilintar no piso porcelana e ecoar mil sons como que para atormentar Sol eternamente.
Caspian estava de joelhos e cabeça baixa. Sol se aproximou incerta, um passo de cada vez cautelosamente até que ele percebesse sua aproximação e retornasse a pegar sua arma e apontar para ela.
- Eu não morri aquele dia. Era frio e de fato minha angústia havia tirado minhas esperanças, mas ele...
Sol notou que ao mencionar Laian o ódio se mostrou presente na face de Caspian.
- Ele cuidou de mim, e me ajudou esse tempo todo.
- Como isso?
Pela primeira vez a pergunta foi pronunciada em um tom mais calmo.
- Laian não é o que você pensa, ele...
- Que espécie de magia o miserável do Laian conseguiu obter para transformar algum ser em minha amada Sol?
A menina o observou, incrédula, sentia sua nuca fria e seu corpo implorar para sair dali.
- Você me ensinou a dançar quando foi coroado rei de Eprain.
Ao ouvir isso Caspian pareceu refletir.
- Quem mais saberia disso se eu não fosse eu mesma?
- Por que Sol?
Aquela pergunta pegou a menina de surpresa, ela podia imaginar o que viria a seguir.
- Por onde andou todo esse tempo? Todos te deram como morta e você simplesmente reapareceu do além túmulo?
Antes que Sol aparecesse ouviu-se um barulho vindo da gigantesca porta onde apareceram Charlotte, Lilive e Laian.
- Estive com Laian. Com a ajuda dele reencontrei minha família.
Um longo silêncio se fez presente até que de repente Sol viu Caspian partir para tirar para sempre a vida de Laian em uma fúria que jamais pensou existir no jovem rei de Eprain. Sol gritou para que Caspian parasse, mas tudo que conseguiu foi o ver erguer a espada contra Laian, o rei Laian por outro lado com muita ligeireza desembainhou a espada e se defendeu com força brutal. Ambos travavam agora uma luta feroz dentro do teto do gigantesco palácio, no salão real onde era apenas para se ter divertimento e alegria, não uma batalha sangrenta. Sol temia o pior ao ver que Laian caíra ao chão e sua espada jazia agora longe de si, Caspian finalmente tinha seu inimigo em suas mãos, Sol em seu desespero correu e se jogou no meio de seus combatentes, Laian a segurou a abraçando para a proteger da fúria da espada de seu primo, nesse momento ouviu-se o grito de Charlotte e Lilive para que o rei de Eprain deixa-nos em paz; Caspian ao perceber que Sol estava com ele parou a espada e permaneceu imóvel como uma estátua.
- O que está fazendo? Sol! Ele é um assassino, um rei que a torturou e matou milhares...
- Eu o amo! Não há nada que temer Caspian, seu primo não é mais assim...
- O que está dizendo! Que tipo de feitiço você usou contra ela miserável! Vociferou Caspian.
Laian tentou afastar a menina Sol de seus braços, Sol sabia qual sua intenção, por isso o segurou com mais força ainda clamando para que ele não desse ouvidos ao que Caspian dizia.
- Por favor meu amor, não deixe que ele o machuque!
- Meu amor? Pelos sete infernos, o que está acontecendo aqui?
- Laian é o homem que amo! Gritou Sol em fúria, pela primeira vez ela havia gritado com Caspian, pela primeira vez ela estava o enfrentando cara a cara.
- O que ele fez a você minha doce Lady...
- Ele nada me fez, a não ser me libertar. Caspian, eu não sou quem você pensa que sou. Eu não sou a Sol vinda de um reino distante para além das terras dos gigantes. Eu nunca fui raptada e muito menos vendida como escrava por piratas. Eu nunca fui desse mundo na verdade.
Aquelas palavras parecem ter despertado Caspian de algum modo, de um encantamento.
- Sim, ó rei! Pronunciou com tristeza a pobre Charlotte que se aproximava cautelosamente.
Caspian permanecia imóvel e em silêncio. Sol ainda estava abraçada ao rei Laian.
- A menina Sol nunca foi desse mundo, na verdade, ela veio do mundo dos impuros. Ao ouvir aquilo Caspian se afastou deixando transparecer sua decepção, como previra a própria Sol. Diferente de Laian, saber da verdade para Caspian lhe parecia a proporia morte.
- Uma impura... foi tudo que o jovem homem foi capaz de pronunciar ainda com a espada na mão e um olhar frio imóvel sobre Sol e Laian.
- Eu escondi de você todo esse tempo...
- Você mentiu todo esse tempo! E você Charlotte... Como sabe disso? Como foi capaz de encobrir tamanha falsidade?
- Eu a encontrei majestade, encontrei Sol em um de meus passeios pelo mundo proibido e lhe falei de nosso mundo, a menina ficou por demais curiosa e quando dei por mim, lá estava ela, sendo trazida pela vossa graça, da florete das flores que cantam...
- Você o quê?
- Eu me aventurei majestade...
- Você também me traiu Charlotte! Que mais eu devo saber? Você também tem algo a me revelar Lilive? És também uma traidora?
Lilive que mantinha uma postura digna de uma rainha, se curvou diante de seu rei em profunda devoção a ele.
- Sabes que nunca deixaria minha lealdade para contigo Caspian. Mas confesso que descobri a respeito de Sol desde o momento em que ela pisou neste reino e tu sabes disso, ó rei! Pois ouvistes e vistes minhas renúncias para aceitá-la.
- Sem dúvida! Você sempre odiou Sol.
Lilive deixou seu seu olhar pousar sobre o casal caídos no chão. Ver as lágrimas de Sol e sua derrota sempre foi seu sonho, de fato ela desejou muito isso, mas isso foi antes de saber que no fim, ela nunca desejou fazer mal a ninguém.
- Ela não é nada daquilo que pensamos, mas também ela não é uma impura.
Neste momento Laian se ergueu e levantou sua amada com muito cuidado.
- Você está apontando a espada para a última bruxa branca pertencente à este reino meu primo.
Caspian estava confuso, ouvir aquilo ser dito por seu rival o deixou assustado. Ele observou a moça com o mesmo olhar que a observara quando ela pôs os pés naquele mundo.
- Mas elas foram todas extintas! Por seu próprio pai! eu ouvi isso minha vida inteira.
- Há muito tempo atrás... começou Lilive a falar como se contasse-nos uma história.
- Antes de você e Laian nascerem. Continuou ela...
Uma bruxa branca legítima sobreviveu a terrível matança, ela se chamava Suzanna, a última de sua casta, e por sinal foi minha amiga. Uma grande amiga. Ela se aventurou assim como Charlotte, para o mundo dos impuros e lá conheceu um jovem pelo qual se apaixonou perdidamente, ela até trouxe ele para nosso mundo e tiveram muitas venturas juntos, mas ao ser perseguida e ameaçada, minha amiga disse que iria embora com ele para nunca mais retornar à esta terra novamente e assim ela o fez, Suzanna teve sete filhos a última sendo Sol. Os outros não possuem os dons da mãe, mas Sol, ela não é só a copia da mãe fisicamente, ela herdou todos os poderes de Suzanna...
- Digo que até mais que a própria mãe. Ressaltou o jovem rei apaixonado, Laian.
- Sol salvou minha vida, ela consegue até mesmo salvar alguém a beira da morte com seus poderes. Caspian, sei que lhe causei grande dor durante muito tempo. Sei que não mereço nem mesmo sua misericórdia, muito menos seu perdão. Mas imploro por tudo que tens de sagrado, não machuque Sol, não a tenha rancor, ela é o ser mais puro e digno de honra que eu consiga imaginar. Ela é tão filha de Eprain quanto qualquer um aqui, Lilive está de prova, seu pai sempre honrou e tratou as bruxas brancas com o mérito que elas merecem pois elas são as criaturas mais amáveis, puras, nobres e poderosas, mais do que até mesmo meus elfos e suas fadas. Laian olhou para Lilive com ternura e pela primeira vez a guardiã e mais antiga de todas as fadas concordou com o rei de Ósseas.
- Todos de Eprain e dos reinos distantes precisam saber que a casta das bruxas brancas não foi aniquilada. Uma ainda persiste e viverá. Lilive se aproximou de Sol, lhe tocando as mãos frias, a menina parecia atordoada.
- Querida Sol, hoje você se torna a suprema bruxa de todo o reino de Eprain. Proteja esse povo com todo o seu amor e terá sempre a lealdade de todos nós. Vale ressaltar que a única coisa que me torna um pouco mais poderosa que você é minha vida longa, devem todos saber que uma bruxa vive o tempo necessário para fazer um reino muito feliz. Mas é só isso que me faz ser um pouco como você, seu poder vai resgatar a paz que nosso reino perdera há séculos. Me perdoe se for possível Sol por todo ódio que nutri a você, confesso que tinha ciumes pois sempre amei Caspian e você sabia disso.
- E desejo que seja feliz Lilive você sempre me admirou, mas não sou digna de sua admiração...
- Você é. Pela primeira vez depois de um longo tempo Caspian havia dito algo.
- Nos perdoe feiticeira branca, por nossa falta de amor a você.
Caspian se ajoelhou diante de Sol juntamente com Laian, Lilive e Charlotte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}
FantasiEra uma vez, uma menina simples do interior de Lebanon, Estado de New Hampshire nos EUA. Ela e sua família eram pessoas humildes e Sol era a caçula dentre outros seis irmãos, seu pai sempre se esforçou para cuidar de cada um deles, principalmente qu...