Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}

II-A Fúria dos Irmãos

Tic-tac, o relógio bate uma vez, tic-tac, bate pela segunda vez, tic-tac, por uma terceira e é assim até onde Sol podia o ouvir. Observando tediosamente o vasto campo da janelinha da shoupana onde moravam.
— Vejam só que grande trapaceiro! Onde achas que me enganas Simão?
ㅡ Tu mesmo não te deixas enganar? Só estou começando o jogo e já comi três peças tua! És um grande tolo isso sim Daniel.
ㅡ Mas você acabou de trapacear, todos viram que pulou uma casa sem que fosse mais sua vez...
ㅡ Simão! Simão... Não seja tão imprestável, aceite ao menos que és um perdedor, mas aceite com honra e sem choradeira!
ㅡ Ora seu patife...
— Mas para quê este alvoroço! Relutou Oliver, o que de nada adiantou os outros dois já estavam aos socos e pontapés.
ㅡ Já chega! Gritou Sol, de punhos serrados e olhar intimidador em direção aos escárnios e brigas vans de seus irmãos. Não faça assim com o pobre Simão! Vais machucá-lo Daniel!
Acaso não sabes Daniel que trapacear é coisa de covarde não de homem?
Todos os outros irmãos vaiaram Daniel em uníssono.
ㅡ Cala-te! Vai-te lavar as roupas ou fazer qualquer outra coisa que não seja meter teu bico onde não fostes chamada, acaso não sabes que isso aqui é entre mim e meus irmãos e não uma mocinha muito da fedelha?
ㅡ Acho que devo lavar tua boca suja ao invés das roupas.
ㅡ Ele vai apanhar!
ㅡNão, ela é quem vai levar umas boas palmadas. ㅡ Diziam eufóricos alguns dos irmãos, todos saboreando aquela débil cena de insultos contra sua pobre irmã.
ㅡ Todos vocês são um bando de urubus carniceiros, não perdem uma oportunidade de me verem pelas costas.
ㅡ Se você não gosta então desapareça daqui.
ㅡ Por que são assim? por que me odeiam tanto?
ㅡ Ainda perguntas? Nossa mãe só morreu por tua causa, infeliz.
ㅡ Papai disse que isso é uma grande mentira!
ㅡ Papai é um velho babão que não sabe fazer outra coisa a não ser te mimar e te exaltar.
ㅡ Mentes descaradamente! Ele ama todos nós igualmente, vós é que não sabes compreender isso.
ㅡ Já basta Daniel. Deixe ela em paz, não vale a pena discutir por tão pouco. Disse Simão que até então não havia dito, nem feito nada, dessa vez ele sentiu-se agradecido pela defesa justa de sua irmã.
ㅡ Só porque ela te defendeu, grande perdedor tu és, choramingando nos braços da irmãzinha fedelha.
ㅡ Papai ficará sabendo disso Daniel, ela o dirá e todos nós seremos castigados mais uma vez.
ㅡ Deixa por então... Só espero o dia em que poderei descontar cada castigo nela.
ㅡ Estais louco? do que falas?
ㅡ Nosso pai está velho, logo morrerá e ela não terá mais a proteção dele. Transformarei sua vida Sol, num verdadeiro inferno, e vais desejar nunca ter nascido. Proferiu rude mente o infame rapaz cheio de ira em seu peito, enquanto apontava o dedo friamente para Sol que só chorava sentindo-se o pior ser do mundo. Se ao menos seu pai estivesse ali, ela poderia se sentir mais segura. Mas ele havia confiado sua vida
nas mãos de tiranos sem coração.
Sol saiu correndo enquanto seus irmãos, riam e zombavam de seu medo, é claro que eles não se atreveram a tocar nela, mas o rancor e as duras palavras que diziam, nunca machucaram tanto alguém quanto a ela, e Sol pôs-se a chorar, numa floresta muito próxima de casa, depois de correr muitas léguas em busca de um único lugar que não pudesse mais ouvir aqueles desaforos, e só então deixou-se cair no chão.