LIII De olhos voltados para o céu

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Logo após a saída de Caspian me vi pensando sobre tudo que já havia ocorrido naquele mundo que outrora pensara não me pertencer, mas que como um chamado ouvi e vim ver o que me esperava. Eu sempre faria parte deste incrível lugar, tudo nesse mundo me tornava muito mais feliz.
Caminhei por entre as flores e árvores do jardim real de Eprain; ao longe avistei Laian conversando com um grupo de cavaleiros, e pelos trajes e símbolos notei que se tratava da curte real de Ósseas.
Observei-os por um tempo, e vi Caspian, meus irmãos e meu pai conversarem também com Laian, todos estavam sérios apesar da bela paisagem a sua volta. Ao me ver se aproximar Laian sorriu, mas algo em seus olhos pareciam querer gritar. Cumprimentei a todos e abracei meu pai. Ele me beijou na testa como sempre fizeram e sorriu gentilmente. Mas todos tinham a mesma expressão, de desespero encoberto por falsos sorrisos.
- O que há de acontecer aqui? Rostos tristes se escondem em seus sorrisos...
- Minha filha...
Meu pai tentou se aproximar, mas Caspian e Laian o impediram.
Aquelas expressões eu já vira antes, expressões de quem sabe que conflitos e guerras ainda não cessaram.
Laian me conduziu gentilmente pelo labirintico jardim até chegarmos a fonte de água que brotava de uma estátua.
Ao longe eu podia ouvir o som das árvores da floresta.
- Diga-me de uma vez o que há de errado... Imploro para que não escondas nada de mim...
- Eu jamais faria tal coisa minha doce Sol.
- Então por que motivo estais todos reunidos a falar segredos distantes de mim?
Laian ergueu os olhos ao céu, seu olhar brilhante logo deu lugar a gotas de lágrimas que lhe escorriam do rosto maculoso e perfeito.
- Todos inclusive meu primo vieram comunicar que...
Ele continuou a observar o céu azul e límpido, como se fazer isso pudesse lhe dar as palavras certas.
- Laian? - Ele me olhou profundamente, seus olhos como dois cristais azul anil.
- Tivemos a pouco em uma reunião do conselho político de ambos os reinos, a segunda reunião já feita entre ambos os reinos desde muitos séculos. Desde que... Meu pai destruiu a vida de todos nós.
- Não compreendo...
- Todos os sumo sacerdotes acham por justo que a lei se cumpra.
- E de que lei falas?
- Minhas abominações e destruições interferiu severamente durante muito tempo e retirou a paz dos dois reinos.
- Laian...
Minhas lágrimas caiam-me dos olhos com o mesmo vigor e desespero de quando estava presa em Ósseas.
- Por meus feitos cruéis e imperdoáveis, pelas vidas que tirei, por todo conflito e por ter tentando ursurpar o trono de meu primo o conselho sacerdônico acha conveniente que eu seja morto, junto com todos os meus súditos cavaleiros.
- Não!
Meu desespero veio tão derrepente como aquela manhã a alegria me fora tirada. Minhas lágrimas não se controlavam e minha carne tremia só de pensar que algum mal poderia arracar um amor tão forte de mim.
- Meu amado Laian... Por favor.... Por todos os anjos do céu não podes aceitar isso, vamos embora amado meu! Vamos para longe daqui e ninguém lhe fará mal algum!
- Laian me abraçava enquanto tentava me acalmar, apesar de minha dor ele parecia mais calmo e mais aliviado como que se aquele infortúnio destino fosse perdoar seus pecados.
- Sua morte não pode ser a solução da paz entre os dois reinos! Pelos céus alguém nos ajude?
Eu gritava em desespero enquanto Laian me segurava em seu colo e me levava para dentro do palácio.
Caspian veio atrás correndo.
Consegui me soltar dos braços de Laian e cai de joelhos nos pés de Caspian...
- Eu imploro alteza, por todos os anjos não permitas que machuquem meu Laian!
Nesse momento Lilive e Charlotte se aproximavam assustadas com o desespero que tomava conta do castelo real.
Ao me ver de joelhos Charlotte correu para meus braços, com palavras gentis e confortantes. Mas nada, absolutamente nada me confortaria a não ser minha saída daquele lugar junto com Laian.
- Sol por favor se acalme! Dizia Caspian e todos os outros.
- Sol, olhe para mim! Não se desespere. Eu jamais permitirei que façam algum mal ao meu primo. Não se preocupe; vá com Lilive e Charlotte e tente se acalmar. Eu prometo Sol, nada acontecerá a vocês dois. Dou minha palavra de honra.
- Mas Caspian, o conselho...
- A hora de acabar com o conselho político e sua façanha sacerdotal chegou. Fique calma.
- Amada minha por favor escute-nos, aquieta o coração e descanse. Tudo ficará bem. Lembre sempre, os céus ouvem aos que se arrependem. - Laian parceria sereno como se realmente fosse ficar tudo bem, diante das minhas lágrimas e súplicas ele estava disposto a enfrentar tudo por nós dois.
Vi meu pai e meus irmãos se aproximarem, meu pai me segurou em seus braços e me levou para repousar. Aos poucos a imagem dos olhos tristes de Laian desapareciam de minha vista.

Assim que a jovem se foi, todos os que ficaram estavam a falarem e estabelecerem um plano de fulga para o rei de Ósseas.
Mas Laian não queria nada disso, não cabia a ele fugir de seu destino.
Ele se afastou de todos em direção ao jardim, Caspian o seguiu.
- Primo meu... — Chamou Caspian calmamente.
— Farei de tudo o possível e até o impossível para libertá-lo deste julgamento cruel...
— Não se pode esconder o brilho do sol com tela de furos meu primo. Olhe para o horizonte, veja o céu límpido de Eprain! Existem infinitas belezas neste lugar e agora sou capaz de ver o quão impiedoso e arrogante fui ao destruir parte de um lugar tão fascinante.
— Ninguém é perfeito Laian!
— De fato. Mas podemos ser melhores dia pós dia...
— Laian... Podemos ser melhores do que fomos ontem. Fazer do nosso amanhã um dia melhor. Não cabe a você se julgar culpado, muito menos o conselho! Eles não sabem nada a não ser usar de estratégias e leias birabolantes para dar-nos medo, mas a paz Laian... A paz não se conquista por meio de medo, vingança ou até mesmo desejo de justiça com as próprias mãos. Você tem sofrido quieto desde que chegou aqui, vejo como se sente fatigado e sufocado ao olhar para o povo de Eprain, sente-se culpado e isso já é muito mais do que podes suportar. Teus feitos desagradou ao conselho e até a mim durante anos, mas quem nunca errou na vida?
Nenhum deles é melhor que você. Nenhum deles sabem sua dor e arrependimento.
— Caspian consolava deu primo, Laian ouvia atentamente como uma ovelha prestes a ser devorada aos lobos, mas seu bom pastor jamais permitiria isso. Laian pôs-se a chorar abraçado com seu primo.
— Perdoa-me meu irmão por tudo de mal que lhes causei... Clamo seu perdão como quem necessita de água para sobreviver. Morrerei feliz e em paz se ao menos pudesse reparar um pouco de tudo que fiz.
— Laian...
— Cuide dela! Cuide de nossa doce Sol. Ela iluminou minha vida e me tornou quem sou hoje. Cuide dela. Sei do amor que tens por ela, então cuide dela com todo esse amor...
— Laian! Você não morrerá!
— Só prometa Caspian! Por todos os anjos, prometa que irá cuidar dela. Caso este julgamento seja cumprido, partirei feliz com seu perdão e sua proteção a ela. — Caspian parecia aflito, nunca lhe passou pela cabeça sentir tanta dor, Laian era tudo que lhe restara, ele não deixaria com que o tirassem de perto de si. Mas prometeu para aquietar o coração do jovem rei.
— Eu prometo primo meu.

Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora