LII No raiar da aurora

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Um fio de luz se aproximava tímido e preguiçoso pelas brechas das cortinas imperiais do grande palácio de Eprain. A aurora raiava no céu lentamente, levando a escuridão da noite e trazendo cânticos de pássaros e brisa suave das flores no vento, Sol despertara para um novo dia. O mundo já não era mais o mesmo, não havia gelo, camadas e camadas a se perderem de vista; isso ficou para trás quando ela e seu amado Laian decidiram partir. A paz reinara enfim, laços de calmaria pareciam mais próximos que antes, o coração da menina sentia-se mais confiante que outras vezes.
Sol ouviu alguém bater a porta, ao se levantar para antender feliz por poder ver Laian novamente, mas não fora ele quem lhe esperava do outro lado, e sim Caspian, que parecia ter tido bom ânimo durante a noite de sono, porém seus olhos ainda estavam desprovidos do brilho que outrora deixava Sol tão encantada.
- Caspian... Posso ajudar em algo?
- Sim! Na verdade, só gostaria de pedir perdão por minha falta de modos em acordá-la, ainda mais tão cedo e tão fora dos padrões já que és agora uma senhorita comprometida, mas...
- Caspian, entre... Por favor.
Ele pareceu indeciso, suas mãos agitadas e olhar confuso. Mas adentrou nos breves aposentos da moça que o observava com cautela.
- Espero que seu principe não se zangue se por ventura adentrar aqui e vê-la ainda em trajes de dormir conversando comigo...
- Ele não se zangará. Laian tem um coração compreensível.
- É muito para mim acreditar que ele possa ter se transformado tanto e em tão pouco tempo.
- Posso imaginar o tamanho de sua dúvida a respeito da integridade de seu primo, afinal de contas, vocês dois nunca chegaram em um acordo ou mesmo tiveram uma conversa sincera sem que os políticos diplomatas de ambos os reinos interferissem.
- Somos marionetes nas mãos deles Sol, você bem sabe, pois quem mais foi julgada por eles?
Caspian parecia mais tranquilo, mas ainda sim, seus olhos pareciam distantes desse mundo.
Caminhei até a janela, deixando as cortinas abertas e a vista dos Campos, floresta e flores do jardim.
- Não foi só eles a quem me senti julgada, mas a vós que bem sabeis o quanto tens minha estima.
- Tive meus motivos Sol...
- Eu sei! Tenho sido amaldiçoada com inúmeros motivos de decepções para todos.
- Não digas isto! Não teve um só dia em que foste rapitada em que não desejei, implorei em súplicas que pudesse estar em teu lugar. Muitas noites e muitos dias longos, pesados e fatidigos, em que desejei minha própria morte e por pouco não a causei precocemente só para aliviar a dor que sentia por saber que você tinha partido. Quando a vi caída no gelo já sem vida, quando vi ele roubar seu corpo para longe dos meus olhos, quando ouvi Lilive dizer que já era tarde demais. Eu queria ter ido embora deste mundo cruel e infernal só para encontrar você novamente.
- Sol olhou para Caspian que a olhou de volta com a mesma profundidade de espírito, por mais que seu coração estivesse em pedaços Sol sabia que Caspian jamais a negaria o perdão.
- Você é tudo que tenho de mais precioso, apesar de saber que nunca vou tê-la como minha, mas ao menos o conforto de saber que vives, que respira, que dormes, caminhas e fazes os atos mais simples e os mais extraordinários como sorrir, isso já me basta e não há nada que conforte mais meu coração do que isso.
- Caspian por favor...
- Seja feliz minha querida Sol, case-se com seu amado e sejas feliz todos os dias de tua vida.
Ele se aproximou secando minhas lágrimas, era difícil, mas do que suportaria ouvir dele tudo aquilo, mas ao mesmo tempo senti paz e carinho demasiado imensos, Caspian havia retornado. Seu querido Caspian sem dúvida havia retornado.
Ela o abraçou enquanto chorava.
- Gostaria de retribuir pelo menos uma parte de todo amor que recebi de vossa graça, mas nada que eu fizer meu querido amigo compensaria o amor que você tem por mim. Pois nada que eu tenha a lhe oferecer, seria de fato algo que tu almejarias para toda a vida. Queria amar-te da mesma forma, mas o infame coração não me permite, ele pertence a outro e eu espero mais que tudo no mundo que ele possa amar-me tanto quanto tu me amas.
- Ele irá! Não há como não amá-la em abundância pequena criatura celestial.
Caspian sorriu junto comigo, e ficamos de mãos dadas enquanto ouvíamos o rochinol dos pássaros.
- Existe alguém que te ama tanto quanto eu querido Caspian...
- Ela deveria refletir bem se está em sã consciência...
Ele sorria como nos velhos tempos.
- És tão glorioso quanto qualquer ser, e ela te ama mais que tudo no mundo. Você merece alguém assim Caspian.
- Se refere a Lilive?
- Sim.
Caspian fechou os olhos e apertou minha mão.
- Quero merecê-la, ela é alguém muito especial.
- Ela é sim. A conquiste, garanto que felicidade e carinho terás em dobro.
Caspian parecia refletir bem sobre o que acabara de ouvir e após um breve silêncio ele se retirou e a deixou observando a vasta natureza do reino de Eprain.

Eprain-Uma Floresta Encantada {Concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora