A praça dos ex-combatentes era um marco histórico do centro do rio de janeiro. Foi construída ao final dos anos 40, em memória dos jovens que perderam as suas vidas na segunda guerra mundial. Era basicamente um círculo de concreto, com diâmetro de 30 metros, que servia como uma espécie de rotatória onde se encontravam quatro grandes ruas. Em seu centro, descansava um tanque M4 Sherman desativado, doado pelos Estados Unidos após a vitória brasileira na batalha de Monte Pascoal. Apesar da importância histórica, a relíquia era frequentemente vandalizada e, neste momento, se encontrava totalmente pichada. Sentado em um banco de cimento, em frente a uma placa de bronze, completamente pintada com dizeres incompreensíveis em spray, Newton conferia os dados reunidos em seu tablet para que pudesse passar para a equipe tática na reunião que ocorreria em menos de 5 minutos.
A polícia federal isolou a área e montou um acampamento de campanha as 5 horas da manhã. 2 tendas brancas de 3 metros de altura quebravam a paisagem bucólica de uma das regiões mais feias da cidade. Já eram quase 10 horas, quando Dênnis, o comandante do quartel da polícia federal, se aproximou sem que o Tenente o visse:
— Newton — agarrou o ombro do investigador.
— ai meu deus — gritou agudamente e deu um pulo com o susto que tomou — o senhor quer me matar?
— Para de palhaçada — resmungou de volta — quero que me dê a porra do relatório.
Newton revirou os olhos e começou a menear a cabeça negativamente:
— O senhor sabe tanto quanto eu. Os peritos analisaram o vídeo e parece que não tem montagens. As 22:35 de ontem essa paciente de 15 anos, Kassia Mendes, conversava com a mãe, Ivanir Mendes, pelo skype, quando alguém entrou em sua enfermaria e atacou todos a dentadas. Em menos de 30 minutos o vídeo estava na internet e já conta com mais de 15 mil visualizações. Retiramos do youtube, mas provavelmente deve estar circulando por algum outro meio.
— Meu Deus. — Denis franziu a testa — Foi a mãe que publicou a porra do vídeo?
— Ela disse que postou em um grupo de amigos íntimos e entregou o arquivo para a polícia estadual, no momento em que fez o boletim de ocorrência.
— Caralho — meneou a cabeça negativamente — não duvido nada que aqueles putos tenham divulgado.
— e isso ainda não é a coisa mais intrigante. — completou Newton— Parece que o hospital tem algum sistema automático de quarentena e se auto-isolou as 22:45. Todas as portas e janelas estão bloqueadas com barreiras grossas de metal. Telefones e internet estão fora de serviço. O sinal de celular não funciona nem aqui fora. Não temos nenhuma informação sobre o que está acontecendo lá dentro. A Tonra Corp nos comunicou que o analista de segurança que acionou a quarentena, não está respondendo, e que este processo só pode ser revertido de dentro. Disseram que enviariam um representante de São Paulo. Estou esperando alguém que explique essa loucura toda.
Permaneceram em silêncio enquanto observavam as movimentações em torno da praça: Os policiais estaduais guardando as barricadas que bloqueavam as ruas e auxiliando o trafego, uma equipe montando uma espécie de tenda quadrada ligada a entrada do hospital, algo que o doutor Carlos fez questão, além dos funcionários do comércio local terminando de fechar, compulsoriamente, os estabelecimentos próximos, sob vigilância de agentes da polícia federal.
Foi Dennis quem falou primeiro:
— Porque o prédio tem essa segurança reforçada? — indagou franzindo a testa. — Uma porra de uma quarentena não exige essa parafernália toda.
— Vizinhança perigosa — abriu os braços para que o chefe constatasse o óbvio: Construções irregulares com aspecto decrépito tinham dizeres e símbolos de facções criminosas conhecidas. — Esse hospital está no meio de tudo o que há de mais horroroso nesta cidade. A Tonra Corp. alegou que as frequentes tentativas de assalto fizeram com que eles investissem nesses aparatos. O processo de quarentena só utiliza o aparato que foi feito, teoricamente, para a segurança.
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QUARENTENA - Breve Ensaio de uma Noite Interminável
Science FictionDo outro lado do mundo, uma doença que transforma seres humanos em canibais ferozes percorre um sangrento caminho ao encontro do jovem Maximiliano, um brilhante estudante de medicina, que tenta sobreviver no limite da lei. Seria ele capaz de conter...