A mulher loira, de seios fartos, vestia um jaleco branco bem ajustado ao corpo. Segurava uma seringa e injetava algo no frasco de Soro Fisiológico que estava ligado ao braço de Max. Ele lembrou, imediatamente, da mulher ruiva que havia visto no INOP. Era o mesmo rosto. Tinha certeza.
– Ei. Eu te conheço.
Nora se virou assustada. Seus olhos, agora castanhos, eram de puro espanto. Não esperava por aquilo. Imediatamente pressionou a seringa para que o restante do veneno se misturasse ao soro. Com um pouco de sorte, sairia daquela situação sem chamar atenção.
– Eu acho que não – respondeu dissimuladamente – sou nova por aqui. – concluiu já pegando a bandeja para se retirar do quarto.
– Não – meneou a cabeça em negação – te conheço do INOP. – retirou o acesso venoso, por onde o soro corria, com um único puxão – Foi você quem fez aquela cagada toda. Eu vou te denunciar.
Ele sabia. Nora se viu em uma situação crítica. Nunca havia passado por aquilo antes. Tinha que silenciá-lo imediatamente. Caso contrário seria o seu fim. Deu um passo em direção ao leito onde o jovem estava deitado e, com a própria bandeja que segurava, desferiu um golpe fortíssimo em sua cabeça. Com certeza ele seria nocauteado. Bastava recolocar o acesso venoso e deixá-lo morrer pelo veneno.
A cabeça de Max doía muito. Não esperava um ataque daqueles. Foi rápido demais até mesmo para os seus reflexos de capoeirista. Abriu os olhos e viu que a mulher já preparava um novo golpe. Decidiu que reagiria desta vez. Com a perna direita, aplicou um chute, como se a empurrasse para afastá-la da cama, pra que pudesse se levantar e lutar. Pra sua surpresa, o chute foi mais forte do que previra, jogando a loira contra a porta de madeira por onde entrara. Ela voou quase 3 metros antes de produzir um estrondo alto. O rapaz estranhou a potência que ele mesmo empregou, mas não era hora de reclamar. Retirou a sonda nasal, que o estava alimentando durante o coma, com um movimento contínuo e único. Aquilo era desconfortável. Levantou-se da cama num pulo e cerrou os punhos pra briga. Ela não sairia daquele quarto.
O golpe do garoto foi mais forte do que Nora imaginava. Tossiu algumas vezes, ainda sentada contra a porta. Logo veio um gosto metálico na boca, provavelmente de sangue. Há muito tempo que ela não sentia esse sabor. O alvo já estava de pé com os punhos fechados. Haveria um duelo ali. Sentiu a porta abrindo nas suas costas. O policial provavelmente ouviu o barulho e agora queria entrar. Que ótimo. Levantou-se com alguma dificuldade, garantindo que o agente ainda não entrasse. A barriga doía muito.
Tudo foi bem rápido. Nora se esquivou atrás da porta, deixando o homem negro entrar. Se aproximou pela retaguarda e puxou a arma do seu coldre. Ele não teve nenhuma chance. Três tiros atravessaram o seu peito antes que o policial pudesse reagir. A mulher deixou o corpo cair sozinho e apontou a arma para Max. Mais três tiros rápidos em direção ao estudante. Todos pararam na bandeja de aço que agora estava em suas mãos. Ele a jogou, com uma expressão de fúria, como se fosse um frisbe. Foi tão forte que, além de arremessar a arma para longe, também quebrou o pulso da espiã.
A mulher partiu pra cima do rapaz com toda a sua habilidade. Era rápida e esguia. Apesar do da mão esquerda inutilizada ela ainda conseguia aplicar golpes poderosos no rosto e tórax do adversário. Sequencias perfeitas de socos e chutes aéreos fizeram Max desequilibrar algumas vezes. Ela desviava de todas as suas investidas. Ele tinha de reverter isso. Um, dois, três socos fortes no rosto. Apesar de tudo, a assassina não lhe parecia muito forte. Seus golpes sequer doíam. Tinha era que acertar pelo menos um. Pelo menos o de honra. Lembrou de uma sequência de Taekwondo que viu uma vez na televisão. Soco com a esquerda, soco com a direita, chute falso com a esquerda e voadora giratória. – Relembrou mentalmente. Segundo o professor convidado pelo programa, o último chute sempre encaixava. É melhor tentar. A mulher esquivou dos dois primeiros golpes, o terceiro servia mais para ajeitar a perna esquerda para dar base ao giro. Nora saltou pra trás, para fugir do chute curto e imediatamente avançou para dar o contra golpe. O que ela não esperava era que o jovem emendasse um chute giratório perfeito que atingiu o seu tórax desprotegido. A espiã voou mais uma vez, com muito mais força que da primeira. Passou pela porta foi bater as costas e a cabeça na parede do corredor. Nunca sentiu tanta dor em sua vida. Por alguns instantes pensou que apagaria de vez. Sua respiração estava prejudicada pela intensa dor na região do esterno. Tinha certeza de que quebrara alguma costela. A luta era inútil. Ela não conseguiria mais eliminar o alvo daquele jeito. Só lhe restava uma saída. Numa movimento de língua, retirou um dos seus dentes e quebrou, absorvendo o líquido do seu interior. Era um coquetel de emergência, com analgésicos e drogas potentes. Sua última chance de fugir.
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QUARENTENA - Breve Ensaio de uma Noite Interminável
Science FictionDo outro lado do mundo, uma doença que transforma seres humanos em canibais ferozes percorre um sangrento caminho ao encontro do jovem Maximiliano, um brilhante estudante de medicina, que tenta sobreviver no limite da lei. Seria ele capaz de conter...