A Espera de um Milagre

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— Eu quero essa foto em todos os noticiários agora — ordenou para o Soldado Garcia, ainda com cara de sono, em frente ao computador — Quero que emita um alerta internacional e envie homens para o Galeão e pro Santos Dumont. Cancele todos os voos nas próximas 12 horas.

— O senhor não acha exagero? — o soldado perguntou — Já se passaram mais de 24 horas do incidente. Ela já pode ter saído do país.

— Sim. Mas ela ainda não sabe que está sendo procurada. A grande graça do crime perfeito é assistir a confusão de camarote. Essa mulher ainda pode estar por aí.

Newton caminhou para a sua sala. Estava animado pela primeira vez desde que aquele caso lhe foi designado. As coisas começavam a fazer algum sentido naquilo tudo. Estava ansioso pra contar as novidades para Lana, mas, aquela hora, ela certamente estava dormindo numa cama confortável do hotel que a Interpol lhe pagou. Nossa, 5 da manhã. Preciso de mais café. Lembrou do tempo sem dormir e percebeu que já era uma espécie de recorde pessoal.

O telefone tocou enquanto enchia mais uma xícara com o horrível café do quartel. O visor mostrava o seu maior temor: "DENNIS"

— Oi chefinho — atendeu e deu a primeira golada.

— Que porra é essa de alerta internacional? — o comandante gritou do outro lado — Você tá maluco nessa porra? Fechar aeroporto no meio de uma porra de feriado nacional?

— Chefe. — Garcia seu filho da puta — Nós temos evidências que mostram que o rapaz estava falando a verdade. A mulher ruiva ...

— Uma porra de uma mulher estacionando em vaga proibida. Já me disseram. Sabe a quantidade de gente que circula na porra do centro da cidade todos os dias?

— Eu sei, mas eu tenho um ótimo pressentimento sobre isso. O garoto não é o culpado e ele tentou me dizer alguma coisa. Só tô pedindo pra confiar em mim mais uma vez. Eu nunca te decepcionei.

— Você tem certeza do que está fazendo?

— Sim — fez uma cara de quem poderia se arrepender — eu coloco a minha credibilidade nisso.

— Os políticos vão comer meu cú por causa disso. — fez uma pausa — Se você estiver errado, vai passar o resto da vida trabalhando em aeroporto. Tá entendendo?

— Entendido.

— E arruma um jeito de colocar essa mulher dentro do INOP. Caso contrário só vai conseguir aplicar uma multa de trânsito nela e tomar um processo por colocar o rosto de um civil no noticiário.

— Sim senhor. — Desligou o telefone.

Newton sabia que a sua carreira estava em jogo, mas ele nunca havia ignorado um palpite forte como aquele. Não por acaso, era um dos investigadores mais eficientes da Polícia Federal. Tinha um faro pra essas coisas e aquela mulher, definitivamente, cheirava a podre. Confirmou as ordens que dera e as 6 da manhã viu pela televisão o primeiro flash com a foto da suspeita. Estava feito. Enviou alguns e-mails para colegas de outros batalhões e, até mesmo, para um agente do FBI com quem teve um romance-relâmpago há alguns anos. Quando o sol começava a entrar pela janela, finalmente, sentou-se em sua cadeira para uma, desconfortável, mas merecida soneca.

Sonhava com o a noite em que conheceu o barman do Lord Jim. Os braços tatuados e o moicano. Em seu sonho eles tinham ido pra casa e continuavam o que começaram no carro. Ele já se aproximava da cama e, de repente, o telefone tocou. Newton acordou assustado. O aparelho fixo de sua sala tremia com a altura dos toques estridentes. Havia esquecido de deixar na secretária eletrônica. O sol ainda estava fraco. Tinha dormido apenas uns poucos minutos. Droga.

— Alô — atendeu com raiva.

— Inspetor Newton? — uma voz masculina e conhecida perguntou.

— Sim. Quem está falando?

— Aqui é o Doutor Carlos. Queria te falar sobre o paciente.

— Sim, é claro. Ele morreu? — perguntou friamente, baseado nas informações que recebera.

— Não. Ele está bem. Na verdade, ele está incrivelmente bem.

— Como assim? Você mesmo me disse ontem que ele estava nas últimas.

— E estava mesmo. Ele precisava de um fígado imediatamente e o seu pai se ofereceu para doar.

— Então a cirurgia foi um sucesso.

— Não precisamos fazer a cirurgia. O garoto começou a apresentar sinais de melhora neurológica após a visita do pai, nesta madrugada. Eu não sei explicar bem. Talvez seja por causa da drenagem que o neurocirurgião fez, ou pela hemodiálise. A verdade é que o rapaz está reagindo aos estímulos. Eu nunca vi uma recuperação destas em toda a minha carreira. Até as enzimas hepáticas estão diminuindo. Os resultados são melhores a cada coleta de sangue.

— Você está me dizendo que ele pode acordar?

— Estou te dizendo que pode acontecer qualquer coisa. Estamos assistindo algo totalmente novo na medicina.

— Eu estou indo pra aí agora. — desligou o telefone sorrindo. Se Maximiliano acordasse, seria a testemunha ocular que tanto precisava.

Lana entrava na sala quando Newton lhe deu um abraço apertado. Ela arregalou os olhos em sinal de surpresa.

— Nem entra — falou para a colega — O garoto vai acordar a qualquer momento.

	— Nem entra — falou para a colega — O garoto vai acordar a qualquer momento

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QUARENTENA - Breve Ensaio de uma Noite InterminávelOnde histórias criam vida. Descubra agora