O Policial

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Era o seu primeiro dia no Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e já havia uma aposta para saber quanto tempo Nestor duraria ali.

— Porra aspira, geralmente os loirinhos duram menos né — respondeu o Sargento Meireles quando o novato perguntou o porquê de ninguém ter apostado em sua permanência.

Um nó se formou em sua garganta, mas Nestor não se deixou abater e continuou seguindo o superior enquanto ele lhe mostrava as dependências do quartel:

— Aqui é o refeitório. A comida é uma merda então pedimos uma quentinha na churrascaria aqui perto. Temos um esqueminha bom aí se quiser participar. Sai tudo free. — a última frase foi sussurrada, mas parecia que não era nenhum segredo.

O novato estava curioso com a movimentação do batalhão. Pessoas correndo de um lado pra outro, telefones tocando o tempo todo. Parecia que os ânimos estavam nas alturas e algo realmente importante aconteceria:

— Aqui é sempre corrido assim?

Meireles olhou perplexo para o rapaz e parecia não acreditar que o colega não soubesse que ocasião era aquela:

— Você não sabe? Amanhã vamos pegar o Jon Jon.

Nestor sabia quem era. Qualquer cidadão do Rio de Janeiro conhecia a alcunha do maior e mais conhecido traficante de drogas do Brasil. Jon Jon era o chefe do tráfico do eixo Rio-São Paulo e mantinha contato direto com cartéis de drogas do mundo inteiro. Seu nome era frequentemente citado nos telejornais e sua foto estava estampada no site da Interpol como um dos 10 homens mais procurados do planeta.

— Na sua frente temos apenas Bin Laden e Deus. — todos riram da piada do capitão na reunião 2 horas mais tarde.

O homem alto de pele negra e olhos claros como mel parecia empolgado com o que fariam no dia seguinte:

— Então repassando — clicou no mouse que estava na mesa ao seu lado e uma fotografia de uma fábrica de 2 andares e paredes verdes bem desgastadas rodeada por casebres de tijolos — Esse é local onde recebemos informações de que Jon Jon recepta e processa as drogas. É uma antiga fábrica de sardinhas enlatadas no bairro do Pontal, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. — clicou mais uma vez e apareceu uma imagem aérea do mesmo local — O prédio tem uma saída para a Baía de Guanabara nos fundos e é rodeado por uma comunidade de ruas estreitas que dificultam a nossa abordagem pela dianteira. — Circulou o que parecia uma pequena praia na parte posterior do terreno — Essa é a nossa entrada principal. O elemento surpresa é a nossa única chance de êxito. — clicou e desta vez uma foto em preto e branco mais próxima mostrava homens fortemente armados carregando caixas e abastecendo caminhonetes.— A inteligencia confirmou movimentação suspeita nas últimas 24 horas — passou 5 fotos parecidas até que parou numa que mostrava um jovem com uma camisa de Futebol americano sendo escoltado por uns 10 seguranças armados — Esse, como vocês devem reconhecer dos noticiários, é o nosso alvo. — seguiu-se uma pausa e os olhos do capitão brilharam por um instante — São 3 anos atrás dele e amanhã eu quero esse vagabundo vivo ou morto. Posso contar com os senhores?

— Sim Senhor — perecia um coral bem ensaiado.

Meireles relutou, mas acabou encaixando Nestor na operação Rasga-Rabo, depois de milhares de promessas que envolviam irmãs e primas fictícias do rapaz. É claro que ficaria no grupo de apoio, mas aquele momento seria histórico e ele não poderia deixar de fazer parte. Uma operação dessas no meu segundo dia de BOPE. Ninguém vai acreditar.

Vestiu sua farda pela primeira vez e se olhou no espelho. Os olhos azuis se destacavam com o preto do uniforme. Será que conseguiria matar alguém? Imagina se o tiro da sua arma alvejasse o chefe? Os pensamentos voavam na cabeça do jovem de 25 anos que só pensava na história que contaria para os seus amigos mais tarde. Toda a estratégia do assalto foi minimamente repassada no dia anterior. Só tinha que fazer conforme fora treinado no curso de formação.

QUARENTENA - Breve Ensaio de uma Noite InterminávelOnde histórias criam vida. Descubra agora