Encarando as Consequências

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 – Essa tua história é realmente impressionante – Newton deu um longo gole na sua xícara de café, que já estava frio. – mas ela não te ajuda em muita coisa.

– Como não? – Max franziu a testa – você me pediu pra contar tudo. Te falei o que aconteceu. Aquela mulher estava lá dentro do INOP e tinha a marca de graxa na calça, igual a que ficou em mim, depois que entrei no fosso do elevador.

– Eu não tenho dúvidas – o inspetor se levantou e olhou pela pequena janela da cela 4, na carceragem da Polícia Federal do Rio de Janeiro – mas tudo o que temos é uma câmera que mostra essa mulher nos arredores e a sua palavra de que ela estava no hospital, usando uma calça manchada que ninguém encontrou até agora.

– Eu posso testemunhar – o jovem rebateu. Sentado na superfície desconfortável do que foi sua cama nos últimos três dias. Ainda segurava um livro de autoajuda que um dos carcereiros lhe emprestara.

– Seu testemunho não está valendo grandes coisas – meneou a cabeça em negação – O ministério público Federal vai te denunciar por Falsidade ideológica e Exercício ilegal da Medicina. Você tem sorte de terem desistido de oferecer denúncia por assassinato. Gastei muita munição política.

Max meneou a cabeça, pensativo. Sabia que o policial estava certo. Ninguém acreditaria na palavra de alguém que estava cometendo um crime naquela noite. Tinha certeza de que foi ela. Dava raiva passar por aquilo tudo:

– Essa mulher foi me matar quando eu estava em coma. Matou um policial. Não é possível que não tenham nada contra ela.

– Temos sim. Duas tentativas de assassinato. O agente sobreviveu e vai testemunhar contra ela. Estamos analisando o veneno que ela usava. É algo novo. Nossa melhor chance de colocá-la dentro do INOP. Se provarem que ela usou isso no supervisor, podemos abrir uma nova denúncia contra ela. Mas os pesquisadores precisam estudar as amostras. E isso..

– Demora – completou – eu sei bem como funciona. Mas ela tem de ser responsabilizada. Muita gente boa morreu naquele lugar.

– Vamos pegar essa desgraçada. Só pelas tentativas ela pega pelo menos 20 anos de cadeia. Se conseguirmos colocá-la dentro do INOP, podemos processá-la por terrorismo, com uma pena mais severa. – caminhou e sentou na cama, ao lado de Max – Isso se ela sobreviver. Passou por duas cirurgias. Baço e Fígado dilacerados, esterno quebrado e traumatismo craniano grave. – sorriu – Me lembra de não entrar numa briga contigo.

Os dois riram. O episódio do hospital ganhou proporções gigantescas. Alguém filmou o seu voo pela janela e parte da corrida pelos telhados. O vídeo já contava com 15 mil visualizações no youtube. Quando perguntado sobre como fez aquilo, Max disse que foi a adrenalina que o ajudou. A verdade era que nem ele sabia o que estava acontecendo, mas algo estava diferente. Algo estava melhor dentro dele. Sabia que agora era capaz de fazer coisas impossíveis.

– O que acontece comigo agora? – o rapaz perguntou, antes que newton saísse da cela.

– O defensor público entrou com um habeas corpus e você deve responder o processo em liberdade. Dr Carlos disse que os teus exames estão ótimos, então eu não vejo problema nenhum em você curtir esses próximos dias em casa. Ajeita as suas coisas. Boa Sorte. – despediu-se antes de sumir no corredor, deixando o jovem encarcerado com os seus demônios.

2 a 5 anos. Pensou alto. Era a pena pra falsidade ideológica. A faculdade certamente cancelaria a sua matrícula, por conta do exercício ilegal. A única chance que tinha era conseguir um acordo para testemunhar contra a espiã loira, em troca de uma redução de pena. E, para isso, infelizmente, tinha que torcer pra aquela maldita sobreviver. 

 

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QUARENTENA - Breve Ensaio de uma Noite InterminávelOnde histórias criam vida. Descubra agora