Prólogo

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Brisa.

Você imagina o que é, para uma menina em fase escolar, ter um nome desses? Tudo bem que não é um nome feio e hoje eu até admito que prefiro do que ter um outro comum qualquer, mas há vinte anos eu não pensava assim e me perguntava porque meu nome não podia ser Lívia, Sandra, Tatiana... ainda bem que meu pai me olhou nos olhos e compreendeu que eu não seria uma menina igual as outras.

O detalhe que vocês talvez não tenham se atentado é que, naqueles tempos, demorava um pouquinho até que as outras crianças simplesmente aceitassem que era o meu nome de batismo e não um apelido, sem inventar um monte de codinomes ridículos. Se fosse nos dias de hoje seria caracterizado como Bullying, mas naquela época era só a maldade infantil que beirava a desumanidade mesmo. Se bem que nos dias de hoje todos andam tão loucos, que por muito menos a gente vê nos noticiários, adolescentes que entram armados em shoppings e escolas e tiram a vida de outros, aleatoriamente, destilando todo o seu ódio e frustrações em quem apenas respirar feliz na sua frente. Eles tiram as próprias vidas sem pestanejar. Os tais tempos modernos trouxeram mudanças significativas para o homem, mas avacalharam um bocado também...

Sim, mas... Somado ao nome estranho numa fase onde a maioria das meninas era pura e simplesmente "Maria alguma coisa", ainda existia o pequeno detalhe de eu sempre ter sido a maior da turma... De praticamente todas elas até a minha formatura no ensino fundamental. Entre meninos e meninas, lá estava eu com pelo menos dez centímetros a mais do que todos os outros e o fato, notoriamente perceptível, de ser quase uma esquálida. "Pau de tirar caju" e "Olívia Palito" eram os apelidinhos mais corriqueiros e tinha vezes que eu até respondia sem interpretar como uma forma de me esculachar. Acho que me acostumei e hoje, com um entendimento diferente da vida, afirmo que ignorar não é a forma mais aconselhável de se defender da maldade.

Nunca fui realmente notada e para completar o contrapeso, a minha irmã, que era apenas três anos mais velha que eu, era a menina mais bonita da escola. Sabrina era cheia de curvas, cabelos pretos perfeitamente cacheados e olhos enigmaticamente amarelados, quase verdes. Fisicamente ela tinha puxado a nossa mãe, mas em todo o resto nem sei com quem posso compará-la.

Ela sim era cruel de verdade. Em todos os lugares que chegávamos, fazia questão de me usar para se sobressair e sempre conseguia. Era a mais esperta (que não é sinônimo de mais inteligente) e descolada, sabia dançar e seduzir com seus olhos de víbora todos ao seu redor. Nem fazia questão de se inscrever naqueles concursos de beleza, bobos, do primário, pois já "cantava vitória" antes mesmo de eles acontecerem.

Desde criança já destilava todo o seu veneno em piadinhas estúpidas e um explícito preconceito às minhas incomuns características. Todas as meninas queriam ser amigas dela e rastejavam por migalhas da sua falsa simpatia, enquanto eu fazia parte das renegadas pela maioria. Mas tudo bem para mim, porque ser introspectiva me poupou de absorver uma absurda rejeição e me fortaleceu para o resto da vida inteira. Nunca fomos amigas e como dizem por aí: Nada como um dia após o outro com muitas noites, e lições, no meio.

A menina magricela, comprida e sem graça, começou a mudar por volta dos quatorze anos e se tornou uma mocinha atrevida, apesar de calada, para anos depois, virar uma mulher excessivamente indiferente. Em características físicas, muitos gostavam de me citar com adjetivos como: exótica, andrógina... uma beleza única e diferente. Quem diria, que aquela menina de olhar baratinado se transformaria em uma modelo de capa de revista?

Pois é, o tempo passou e eu dei a volta por cima, mas, mesmo com todo o bônus emocional que a carreira me acarretou, desde que me entendo por gente, eu sabia que não queria ser uma refém da ditadura da beleza. Além de quê, apesar de ter sido correta com todos os compromissos profissionais, no quesito "relacionamento interpessoal" eu sempre tirava nota baixa e foi isso que me fez estudar para ser advogada... Pelo menos eu não precisava viver sorrindo para ninguém. Pelo contrário... quanto mais sisuda, mais respeitada pelos colegas do meio. Pelo menos era isso que eu achava.

Acho que as experiências que vivemos na infância e adolescência tem um peso enorme para quem nos tornamos quando atingimos a maturidade. Com o passar dos anos, tentei me tornar uma mulher fria e, em algumas ocasiões, até um pouco maquiavélica. Mas isso foi depois de passar por muita coisa...

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Acho que ainda é cedo para eu pedir para vocês comentarem, rs...
Até segunda que vem!!
Bjos ⭐️

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora