XXIX

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Acordei com leves batidas na porta informando que o café seria retirado em vinte minutos, logo deduzi que já era manhã alta, já que o mesmo era servido até às 10h.

Fazia tempo que não tinha uma noite de sono tão aprazível e sentia-me cheia de vida. Espreguicei-me e não vi necessidade de um banho tendo em vista que estava um gelo e eu tomara um antes de deitar. Os problemáticos de plantão dirão que é uma desculpa esfarrapada, mas pensei que a água do planeta está acabando e eu não estava regateando do banho para fugir do frio, apenas fazendo o meu papel de cidadã consciente, economizando para o futuro.

Vesti uma meia calça por baixo de uma saia longa e botas sem salto que iam até o joelho. Uma camiseta com um blusão de lã e casaco de plush por cima. Estava um frio dos infernos! Aliás, não é pertinente usar as palavras frio e inferno na mesma frase. São disparatados, mas dá para entender que foi querendo dizer que o negócio estava brabo.

Saí do quarto e caminhei com as mãos enfiadas nos bolsos. Assim que avistei a porta que me levaria para o quentinho da sala de café, apressei o passo e dei de cara com o Tofu assim que a abri. Ele me cumprimentou com um miado preguiçoso e eu o peguei no colo levando-o até uma mesa. Peguei casquinhas de pão e deixei que ele brincasse empurrando-as de um lado para o outro enquanto me servia de frutas, bolo de fubá, um pão saído do forno, queijo e uma xícara de café fumegante. Aquela mesa estava mais para um breakfast daqueles restaurantes coloniais do que para um desjejum de pousada. Fui informada que poderia pedir omeletes, panquecas, waffles e beijus de tapioca recheados, mas teria que deixar para experimentar os outros pratos nos dias que estavam por vir por falta de espaço... na minha barriga. Comi achando tudo uma delícia e preferi não abusar já que queria bater perna pelos pontos turísticos da cidade. Uma indisposição por ter comido demais não fazia parte dos meus planos.

Fui até o quarto apenas para escovar os dentes, pegar a minha bolsa e as chaves do carro. Liguei o celular no "modo avião" a fim de não ser encontrada e poder utilizar a câmera, já que, na correria, não tinha lembrado de pegar uma máquina fotográfica. Me despedi do Tofu que me esperava atento e expliquei que não podia leva-lo ao passeio, mas que ele esperasse por mim porque assim que eu retornasse, traria algo de bem gostoso para ele. Meti a chave na ignição e fucei o mapa da cidade que havia pego na recepção. Coloquei o endereço no GPS e dei a partida rumo ao borboletário "Flores que voam".

Quando cheguei lá fui recebida por monitores que me explicaram como funcionava o projeto. O passeio custava R$ 30,00 e a simpatia da equipe já me fazia empolgar com a expectativa da beleza do lugar. Eles tiraram um monte de fotos minhas no painel da entrada e agradeci com contentamento. Parecia que eu estava meio a borboletas gigantes!

Fui encaminhada a uma salinha onde passava um vídeo de apresentação de mais ou menos 12 minutos. Explicava sobre as fases da vida de uma borboleta e outros detalhes importantes sobre algumas espécies. As borboletas são insetos que evoluem há milhões de anos e, assim como nós humanos, precisam se adaptar para continuarem existindo.

Fazendo uma analogia desses pequenos animais voadores com a minha vida, pude constatar inúmeras circunstâncias que me fizeram fortalecer a convicção de que precisava sair do ovo para poder alçar voo, enfrentando todos os desafios entre uma coisa e outra. A borboleta após sair do ovo vira uma lagarta, feia e repugnante. Em seguida ela fica aprisionada de cabeça para baixo, emaranhada num tufo de seda e cola para, só depois então, romper essa estrutura e surgir como uma linda borboleta, cheia de cores e vida. O detalhe é que o tempo de vida normal de um bichinho tão frágil é de duas semanas podendo chegar até no máximo um ano.

Acho que naquele exato momento eu estava no tal emaranhado procurando a saída do casulo. Não via a hora de me libertar da cola, da seda e de todas as eventualidades que podaram a minha tão sonhada liberdade. E sabia que conseguiria. Dependia mais de mim e da minha força interior do que de qualquer outra pessoa.

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora