XXXI

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A noite já havia caído e a temperatura também. Estava quase tirando o meu casaco para emprestar ao Caleb que saiu fazendo pose de durão, mas que já estava com o nariz vermelho e as mãos arroxeadas. Compramos luvas, gorros e cachecóis em uma lojinha que ficava ao lado do bistrô.

Caminhamos agarradinhos e tiramos fotos no relógio que marcava a temperatura de 5°C, como se fôssemos um casal de namorados apaixonados.

Parei em uma delicatessen e comprei iogurte, já premeditando que haveria alguém na expectativa da nossa chegada e acertei na mosca! Assim que abri a porta do chalé ele se pronunciou. Fui direto até o armário da pequena cozinha e peguei um pires. Derramei a bebida cremosa e adocicada nele e recebi um miado de satisfação logo na primeira lambida. Assim que terminou de se lambuzar ele desapareceu e o Caleb já estava tentando acender a lareira. Toras de madeira, pedaços de jornal, álcool e um isqueiro em punho, mas não havia jeito do negócio abrasar. Como ele é muito teimoso, além de romântico, o que não poderia me surpreender mais, não descansou enquanto não conseguiu produzir a chama que seria a responsável por nos aquecer naquela noite congelante.

Peguei os travesseiros no quarto e forramos o sofá-cama para curtir o calorzinho fornecido pelo fogo crepitante. Nos deitamos e ele acomodou-se massageando os meus pés com afinco. Enquanto os seus dedos ágeis deslizavam subindo pelas pernas, leves mordidas eram deixadas pelo caminho, abrindo espaço para uma excitação descomunal. Ele nem havia me tocado, não da forma que sei que seria capaz de me enlouquecer, e eu já estava louca para ter mais daquele homem. Assim como ocorrera antes do jantar, fomos nos despindo, saboreando a pele e a intimidade que prosperava entre nós, curiosos e sedentos por satisfação.

Quando estávamos prestes a tirar as últimas peças, levantei com a intenção de buscar cobertores no quarto, mas ele me impediu. A verdade é que o calor já estava de matar e não havia necessidade real, além da vontade de me esconder.

- Você está com frio, Brisa?

- Não. É só para ficarmos mais à vontade.

- Eu estou bastante confortável, aliás, preciso amenizar esse fogo antes que a gente morra com a quentura. Você já estava vermelhinha por conta do clima e do vinho, agora está ainda mais.

- Só se for de vergonha...

- De mim?

- Também.

- Não estou vendo aquele gato safado em lugar nenhum por aqui que justifique esse acanhamento.

Ri entendendo a brincadeira e deitei aconchegando o corpo junto ao dele.

- Bem melhor assim! - Ele ficou calado um tempo apenas acariciando os meus cabelos.

- Te falei mais cedo e vou repetir somente para, caso não tenha sido claro, você ter a certeza de que não tenho pressa. Estou feliz por estar aqui com você! Estou inebriado com a sua sensibilidade, sua transparência e, principalmente, por ver o quanto você é guerreira. Uma vencedora. Uma linda mulher descobrindo-se para a vida e reconhecendo o direito que tem de ser feliz, de amar e ser amada, de entregar-se à beleza e também, de ser apreciada. Podemos ficar assim, só curtindo o momento e, para mim, já valeu vir até aqui para te ver.

- E eu estou muito feliz que você tenha vindo! – Respondi com sinceridade.

- No caminho eu fiquei me perguntando se eu não estava ficando louco. Cheguei a ligar para o John para saber como você estava e ele falou que você havia tirado uns dias.

- O John é um bom amigo, mas não contei para ele qual o meu destino. Espero que você não tenha dito onde eu estava...

- Acho que ele não aprovaria a decisão, então preferi não comentar que estava na estrada vindo atrás de você.

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora