Acordei com o despertador do celular sem ao menos ter lembrado de acioná-lo. Eram 9:30h e tinha um bilhete do John no travesseiro ao lado do meu.
"Espero que a sua noite tenha sido melhor do que a minha.
Tentei conseguir um substituto para o editorial e assim poder te acompanhar, mas infelizmente não rolou.
Coloquei o despertador porque tive receio que você não despertasse para o seu compromisso às 11h. O endereço está salvo no seu bloco de notas. Dê notícias e fique bem. Logo estarei de volta!
JohnPs: Lave o cabelo. Está parecendo um ninho de passarinho."
Ele conseguiu arrancar um breve sorriso de mim.
Por mais que eu soubesse que o John é hétero, sempre ficava com aquela ideia do melhor amigo gay. Maquiador, cabeleireiro, entende de moda, curte filmes românticos água com açúcar e de terror, cozinha e até sabe fazer um monte de trabalhos manuais. Não podia ser mais perfeito, né?
A gente se dava bem, mas eu precisava deixar muito claro para ele que o que rolava entre a gente era só um remedinho para excesso de carência de ambas as partes. Que não iria voltar a acontecer e que, se ele quisesse me ter como amiga, a melhor do mundo, ele podia contar comigo, caso contrário, cada um para o seu lado... sem negociações.
Separei uma calça jeans, camisa social de seda e sapatilhas de bico fino. Entrei no chuveiro e passei trinta minutos lavando, enxaguando, massageando e hidratando os cabelos.
Ao parar de frente para o espelho enxerguei uma Brisa exaurida. Meus olhos estavam sem vida, minha pele estava sem viço. Não havia muita mágica a ser feita além de uma boa maquiagem. Como não iria trabalhar, deixei os cabelos soltos e não me dei o trabalho de secá-los. Vesti a roupa escondendo o corpo que no passado me causava repulsa e no presente só me causa vergonha.
Por mais que eu tente achar que uma coisa não tem a ver com a outra, o fato de ter desfilado e fotografado por anos expondo-me, com menos roupa do que gostaria, sempre me fez achar que tenho uma parcela de culpa pelos olhares indiscretos e cobiçosos que recebo.
Quando alguém me reconhece, meu mecanismo de defesa é ativado automaticamente e faço um esforço sobre-humano para explicar que foi uma fase adolescente, que trabalhei para pagar a minha permanência em São Paulo já que havia passado em uma universidade pública e que ser modelo não é sinônimo de ser garota de programa, que foi um trabalho artístico e paro de falar no exato momento do desespero, quase admitindo que foi o grande arrependimento da minha vida.
Vamos pontuar o que poderia ser evitado caso não tivesse abraçado a carreira de modelo:
1. O flagra do Caíque. Tudo bem que estaria sendo feita de otária até Deus sabe quando, mas só aconteceu porque eu estava em São Paulo e... bom, vocês já conhecem a história.
2. Meu envolvimento com o Giorgio. Já disse que não me arrependo, mas ele só aconteceu porque aceitei ser sua modelo.
3. O afastamento da minha família...
Ops. Vou pontuar o que eu ganhei:
1. Dinheiro. Muito dinheiro...
2. Ter descoberto o verdadeiro caminho do prazer de pertencer a mim mesma.
3. Ter viajado por vários países do mundo.
4. Ter tido a possibilidade de estudar em uma das melhores universidades do país.
5. Morar sozinha na capital mais cobiçada do Brasil sem depender financeiramente dos meus pais que, praticamente me lança de volta ao quesito número 1.
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Adeus, tempestade
RomanceEsse livro será retirado no dia 1º de março de 2022 e ficará disponível apenas os primeiros capítulos para degustação!! Vou dando notícias sobre lançamento e vendas pelas minhas redes sociais. Adicionem o renatadia_autora no instagram para mais info...